Tim, Xutos & Pontapés: As lições de 45 anos de carreira (e também de uma marca e empresa)
Entre ser engenheiro agrónomo e músico, escolheu os Xutos & Pontapés. E nunca se arrependeu. Por ocasião do Festival Brands Like Bands – onde vai apresentar a sua escola de rock –, Tim recorda 45 anos de carreira, repleta de êxitos e lições aprendidas, uma enorme perda e um objectivo: profissionalizar o metier.
Por Tânia Reis
António Manuel Lopes dos Santos, mais conhecido por Tim, nasceu em Ferreira do Alentejo e, aos 15 anos, já tocava baixo. Quatro anos depois, entra para os Xutos & Pontapés. O resto é história. Pelo meio estão 45 anos de carreira, mas garante que abrandar não está nos planos e que irá cumprir o desejo do seu fundador, Zé Pedro. Até porque agora, mesmo não podendo saltar como antes, é tudo muito mais fácil.
Começou a vida artística aos 15 anos como baixista e quatro anos depois entrava nos Xutos & Pontapés. Como se constroem 45 anos de sucesso?
Creio que o mais importante é constância. Começámos com meia dúzia de músicas e, nestes 45 anos, fomos crescendo, sempre com o cuidado de ter um repertório consolidado, reconhecível e consistente.
Em 1979, estreiam-se em palco nos Alunos de Apolo, na festa dos 25 anos do rock’n’roll. Lembra-se do que sentiu nessa altura?
Senti o que depois viria a sentir muitas vezes, à-vontade e entusiamo. Estava mais preocupado em fazer com que o espectáculo corresse bem. E assim foi. No dia seguinte, no programa de rádio “Pão com manteiga”, a festa foi mencionada e o nosso nome também. A partir daí, percebi que o rumo ia ser esse e não era necessária nenhuma preparação especial da minha parte.
Nessa época também estudava Agronomia. Porque nunca seguiu essa carreira?
Fiz o curso, com estágio, trabalho de campo e até recolha de dados para a Universidade do Arizona. Tinha 26 anos, e do lado da escola não havia perspectivas de emprego, nem evidentes nem aparentes. A alternativa seria continuar a fazer estágios, muito pouco ou não remunerados, ou ir dar aulas. Do outro lado, estávamos a gravar o “Circo de Feras”, os Xutos já tinham cachés decentes e, por isso não havia grandes dúvidas no que escolher. E nunca me arrependi dessa escolha.
Olhando para trás, que principais marcos destaca no caminho?
Houve vários. Nos anos 80, recordo a luta por melhores condições, por um “lugar ao sol”, já em 86-87, a assinatura de contrato com uma editora grande. Todas as músicas são importantes, mas algumas marcaram a nossa carreira, como “A minha casinha”, o “Circo de feras”, “Maria” ou “À minha maneira”. Nos anos 90 e 2000, actuar de forma cada vez mais profissional e conseguir participar em acontecimentos importantes, como festivais. Paralelamente, um espectáculo maior em Lisboa ou no Porto a cada cinco anos, que demonstrasse as nossas capacidades e potencial. Começou com o concerto dos 20 anos, dos 25, depois dos 30, no Estádio do Restelo. Este ano, vai ser no Porto a 14 de Setembro. Esses espectáculos têm sido importantes.
Além da banda, existe uma empresa. O que está por trás da marca?
A finalidade da Xutos e Pontapés Produções Musicais é produzir espectáculos. Para isso, é preciso instrumentos, estúdio, tempo, condições, mas também uma equipa técnica e administrativa competente. A nossa visão sempre foi tornar este metier e todas as profissões envolvidas respeitadas e valorizadas. Isso aconteceu quando começámos a pagar exclusividade aos técnicos, o que nos permitiu criar, nos últimos 35 anos, uma equipa de quase 25 pessoas praticamente fixa que tem evoluído connosco.
Como se gere uma equipa de quatro ou cinco elementos, com as suas personalidades e características individuais?
É fundamental ter noção de que o produto final é sempre mais importante do que a soma das partes. O que conseguimos a tocar é superior ao que cada um consegue fazer isoladamente. E entender que não depende só de um, mas sim de todos, facilita, porque quando os problemas surgem, o grupo reage como um todo. Ainda assim, todos temos direito de veto. Para dar um exemplo, fomos convidados várias vezes para ir actuar à festa do Avante e, enquanto a posição do PCP relativamente à Ucrânia se mantiver, dois elementos recusam-se a ir.
Mas os Xutos & Pontapés são mais do que a banda. Qual é a vossa estratégia de gestão?
As funções estão muito bem definidas e cada um tem um papel a desempenhar, mas o manager é a figura mais importante da organização. É o responsável pelos músicos e pelas outras equipas. Mesmo em relação a nós é bastante exigente, mas a banda tem sempre a última palavra.
Leia a entrevista na íntegra na edição de Maio (nº. 161) da Human Resources, nas bancas.
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