Trabalho Digno: solução no combate ao enviesamento dos Estereótipos!

Por António Saraiva, Business Development Manager na ISQ Academy

O escritor, jornalista e político Walter Lippmann, define os estereótipos como “imagens mentais que se interpõem, sob a forma de enviesamento, entre o indivíduo e a realidade”. Acrescenta que os mesmos se formam a partir do sistema de valores do indivíduo, tendo como função uma dada organização e estruturação da realidade.

O Estereótipo é, pois, um conceito, ideia ou modelo de imagem atribuída a pessoas ou grupos sociais, muitas vezes de maneira preconceituosa e sem fundamentação teórica. Em resumo, podem ser ideias simplistas e até irreais sobre determinada realidade.

A questão que muitas vezes se coloca é que são estes estereótipos a conduzir o posicionamento perante a vida. Em todas as suas cambiantes. Desde o ponto de vista social até ao cultural, não esquecendo o impacto que tem na estruturação de pré-conceitos e que até chegam a consolidar-se no senso comum. Muitas vezes com alguma perigosidade, atingindo decisões relativas às formas de gestão das organizações e da própria sociedade.

E por mais argumentos que existam, objetivos e conclusivos, há quem insista em não ouvir o que não lhe interessa para que certos estereótipos que assimilou não sejam destruídos. Na Gestão de Pessoas este é um fator sempre a combater, pois tem implicações em fenómenos relacionados com o recrutamento e seleção, na gestão de carreira e até na avaliação do desempenho. Evidente que existem defesas que cada vez mais se implementam e em que o People Analytics tem um papel determinante, já que procura uma definição clara de um conjunto de indicadores que devem gerar defesas consistentes contra estereótipos.

Eliminar o julgar os outros por uma caraterística específica é essencial. Muitas vezes, até, avalia-se a média dentro de um determinado grupo. Esquecemo-nos que a essência é que lidamos com seres humanos, carregados da sua individualidade. Sem dúvida que são importantes mecanismos e até de avaliação, nomeadamente ao nível de determinadas competências, técnicas, sociais, comportamentais. Mas não podem, em momento algum, emitirem-se generalizações. Ao utilizarmos tais mecanismos eles devem acima de tudo gerar o desenvolvimento das Pessoas e não atribuir-lhes rótulos e classificá-las em padrões generalizados.

O risco de esteriotipagem é de gerarmos fortes clivagens sociais. Até porque, muitas vezes, sustentam decisões de gestão, sobretudo em momentos críticos, pouco objetivos. Mesmo que esteja na ordem do dia preocupações com as populações migrantes, com fenómenos de inclusão, a verdade é que a realidade nos apresenta ainda exemplos de segregação. Em algumas sociedades, a segregação territorial, em outras a segregação residencial, muitas vezes com base étnica, revelam estatísticas preocupantes.

Nas organizações laborais, o combate aos estereótipos é vital, até como exemplo para a sociedade em geral. A evolução das políticas de Gestão de Pessoas tem sido muito positiva, mas existe ainda caminho a percorrer, seja na isenção e abertura na captação de colaboradores, seja na sua gestão diária, seja nas condições de desenvolvimento das pessoas e, até, na indução de um equilíbrio geracional e de bem estar. Não somos todos iguais, mas todos somos seres humanos, com acesso a oportunidades que caraterizem um Trabalho Digno.

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