Transformação digital: Quatro coisas que todos os gestores deviam saber (mas a maioria não sabe)
Menos de um terço das transformações digitais têm sucesso, mas estas não precisam de ser vistas como uma aposta de risco.
Por Greg Satell, autor na Inc.com
Actualmente, a tecnologia tornou-se fulcral para a forma como cada negócio opera. Avanços futurísticos como inteligência artificial, big data e cloud computing deixaram de ser utopias e tornaram-se iniciativas fundamentais que os líderes querem implementar nas suas organizações. Infelizmente, a maioria destas iniciativas fracassa. De facto, a McKinsey descobriu que menos de um terço de transformações atinge o sucesso. Contudo, a transformação digital não tem de ser uma aposta de risco. A verdade é que a transformação digital é a transformação humana, e é por aí que é preciso começar.
1. Primeiro as pessoas, depois a tecnologia
Ao início, a transformação digital parece bastante simples. Existem muitos fornecedores capazes que podem implementar competentemente tecnologia cloud, automatização, aplicações de inteligência artificial ou o que quer que se procure. Contudo, a natureza do trabalho mudou nas últimas décadas graças a alterações tecnológicas. Muito do valor passou das competências cognitivas para as competências sociais, à medida que a colaboração se tornou uma vantagem competitiva. Novas tecnologias como cloud e inteligência artificial irão simplesmente fortalecer e acelerar essas tendências. A verdade é que o valor nunca desaparece, simplesmente passa para outro local. Vejamos o exemplo dos bancários. Actualmente, há mais do dobro de bancários do que havia antes das máquinas ATM, mas o seu trabalho já não é executar transacções, mas aconselhar, resolver problemas e apresentar produtos. O que exige competências muito diferentes. Por isso, o primeiro passo para uma transformação digital de sucesso não é a tecnologia em si, mas pensar como os colaboradores podem ganhar autonomia com ela. Ou seja, perceber quais as novas competências que as pessoas te- rão de aprender e como pode a tecnologia ajudá-las.
2. Estabelecer objectivos empresariais claros
Outro erro habitual que os executivos cometem quando implementam uma tecnologia nova é concentrar-se nas capacidades da tecnologia em si, e não no resultado empresarial que esperam obter. Todos os esforços transformacionais devem envolver gestores operacionais, parceiros e colaboradores da linha da frente desde o início. É igualmente necessário falar com os clientes e perceber o que realmente valorizam, em vez de pensar apenas no que ajuda as operações a decorrerem sem sobressaltos. A partir daí, pode desenvolver-se uma visão de como os negócios funcionarão de modo diferente.
3. Identificar uma mudança essencial
Assim que a visão está criada, a tendência, frequentemente, é embarcar numa “marcha da morte a cinco anos” para a atingir. No fim, todos acabam frustrados, zangados e inevitavelmente, quando a visão é atingida, a tecnologia já está ultrapassada.
Por isso, em vez de se tentar atingir a visão por inteiro, é preferível começar com uma mudança essencial. Pensar num objectivo claro e tangível que se pode atingir a curto prazo, que exige o envolvimento de diversos stakeholders e que criará a base para iniciativas mais complexas no futuro.
Uma forma de o fazer é escolher uma solução que ajude as pessoas nas tarefas entediantes e mundanas em vez de criar uma capacidade nova. É muito mais fácil fazer com que as pessoas fiquem mais entusiasma- das com a redução de tempo e esforço que gastam numa tarefa que detestam, do que fazê-las adoptar algo novo. É sempre melhor atrair e responsabilizar do que subornar e coagir.
4. Tratar a transformação como uma viagem e não como um destino
Talvez a parte mais perigosa de qualquer transformação seja quando os objectivos iniciais foram atingidos. É aí que a motivação começa a diminuir e a complacência ganha força. Chamo a este problema “vitória dos sobreviventes”, e é um elemento crucial em todos os esforços de transformação.
A chave para sobreviver à vitória é planeá-la desde o início. A ênfase nos valores é essencial, porque para mudar comportamentos fundamentais é preciso mudar primeiro crenças fundamentais e a transformação digital envolve sempre uma acção potenciadora. Quem prestar atenção a isso terá mais probabilidade de sucesso onde a maioria fracassa.
Este artigo foi publicado na edição de Julho/Agosto da Human Resources.