Transformar escassez em abundância: a dificuldade de reter talento em Portugal

Por Elsa Bizarro, directora de Recursos Humanos da Premium Green Mail

 

Como em muitos países, Portugal enfrenta um desafio crucial associado à digitalização: a escassez de profissionais qualificados, especialmente em sectores de alta tecnologia como a Inteligência Artificial (IA). Essa questão foi destacada no mais recente Índice de Tendências de Trabalho da Microsoft e LinkedIn, que aponta para uma crescente preocupação entre gestores que procuram colaboradores não apenas com mais-valias técnicas, mas também com garantida capacidade se adaptar rapidamente às mudanças constantes do mercado.

Os dados indicam que metade dos trabalhadores deseja mudar de função para aproveitar as oportunidades ligadas à IA, revelando interesse em ajustar as suas trajectórias profissionais às necessidades futuras. No entanto, apenas 39% dos inquiridos tiveram acesso a formação em IA, evidenciando uma lacuna que deve ser urgentemente colmatada.

Com 55% dos líderes preocupados com a escassez de profissionais qualificados para ocupar as vagas disponíveis, torna-se essencial que as empresas, especialmente as que estão ligadas à tecnologia, implementem programas internos de capacitação. Tais iniciativas não devem ser vistas apenas como solução imediata, mas como investimento crucial que garanta o futuro sustentável e inovador das organizações.

É imprescindível antecipar essas necessidades e agir proactivamente.

As organizações devem estabelecer parcerias estratégicas com escolas e academias, investindo de forma contínua no desenvolvimento dos seus colaboradores e promovendo um ambiente de trabalho que estimule a criatividade e a formação contínua.

Outro ponto crucial é garantir modelos de trabalho flexíveis e adaptáveis, que possibilitem aos colaboradores conciliar a carreira e vida pessoal, uma estratégia determinante para reter talentos.

Além disso, é importante transcender os limites convencionais do sector e aventurarmo-nos em áreas interdisciplinares. A IA, por exemplo, possui aplicações que vão desde tecnologia da informação até ao design criativo e gestão empresarial. A ampliação dessas funcionalidades por meio de programas de requalificação pode transformar a actual carência de mão-de-obra numa profusão de oportunidades.

Finalmente, é crucial que as empresas colaborem estreitamente com o Estado no estabelecimento de políticas que fomentem a educação e a capacitação nos sectores mais requisitados. Benefícios fiscais, suportes à educação e programas de apoio a novas empresas são algumas das estratégias através das quais a governação pode estimular o desenvolvimento do capital humano do país.

Enquanto líderes, temos a obrigação de liderar a mudança, não apenas respondendo às tendências, mas configurando-as por meio de uma gestão de talentos activa. A escassez de grandes quadros é um tremendo desafio, mas também uma chamada à inovação, educação e cooperação, garantias de um futuro próspero para a economia portuguesa na era digital.

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