Três em cada 10 portugueses já foram diagnosticados com depressão, mas 28,5% consideram que se trata de um “estado de espírito”

Três em cada 10 portugueses já foram diagnosticados com depressão e seis já sentiram sinais da doença num momento da sua vida, estima um estudo divulgado, números que o psiquiatra Gustavo Jesus considera «avassaladores».

 

Os dados constam de um inquérito para perceber a visão dos portugueses sobre a depressão promovido pela Lundbeck Portugal, farmacêutica especializada em doenças neurológicas e psiquiátricas, e indicam que 33,6% dos inquiridos respondeu que já lhe foi diagnosticada a doença por um profissional de saúde.

De acordo com o estudo, a que a agência Lusa teve acesso, 62,1% dos portugueses sentiu que estava com uma depressão em algum momento da sua vida e 77,3% tem ou já teve um amigo ou familiar próximo a quem foi diagnosticada a doença.

«É de esperar que haja um elevado número de pessoas diagnosticadas com depressão porque Portugal é dos países do mundo com maiores taxas» desta doença mental, alertou Gustavo Jesus, ao salientar ainda que a pandemia provocou um aumento desta prevalência nos últimos anos.

Segundo adiantou o especialista, o Serviço Nacional de Saúde (SNS), que está a «passar por um período de grande dificuldade», não consegue dar a resposta necessária face à elevada prevalência da depressão em Portugal, nomeadamente nos cuidados de saúde primários.

«Os médicos de família estão aptos [a fazer o diagnóstico], mas o problema é que não há médicos de família [suficientes]. Há muitos portugueses que não têm médico de família e, os que têm, sentem o seu acesso dificultado», salientou o psiquiatra.

Já nos casos em que os doentes têm de ser referenciados dos cuidados de saúde primários para a psiquiatria hospitalar, confrontam-se com tempos de espera para a primeira consulta nos hospitais que «têm vindo a aumentar sucessivamente», sublinhou.

O inquérito revela ainda que os «portugueses parecem não ter grandes dúvidas sobre o facto de a depressão ser uma doença», mas 28,5% ainda consideram que se trata de um estado de espírito. Mais de 70% dos inquiridos considerou que a doença é pouco valorizada pela sociedade, enquanto 29% tem a percepção de que é crónica, ou seja, que «fica para a vida toda».

A tristeza (91,3%) e a perda de autoestima (89,6%) são os dois sintomas que maior número de inquiridos associa à depressão, seguindo-se a falta de prazer e de interesse (85,3%), a ansiedade (82,3%) e o cansaço físico ou diminuição de energia (81,9%).

De acordo com Gustavo Jesus, na maior parte dos casos, a depressão é uma doença aguda, que deve ser tratada no momento em que é diagnosticada, e que não evoluiu para uma situação crónica na maioria das situações. «É uma doença altamente frequente. Embora a depressão não seja sempre uma doença crónica, é neste momento a doença responsável por mais dias de vida doentes no mundo», salientou o psiquiatra.

O inquérito «A visão dos portugueses sobre a depressão» envolveu um total de 1215 inquiridos, telefonicamente, entre os dias 27 de Setembro e 3 de Outubro de 2022.

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