Um robô pode sofrer de burnout?

Pedro Ramos, presidente da APG – Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas, CEO da Keeptalent Portugal e co-autor da obra “A Influência da Liderança no Burnout” (RH Editora)

 

Com esta mania actual de perguntar tudo ao ChatGPT… perguntei ao ChatGPT se os robôs poderiam sofrer de burnout e eis que a resposta da inteligência artificial à minha pergunta (nada artificial) foi a seguinte:

“Os robôs não são seres vivos e, portanto, não experimentam emoções ou sentimentos como os humanos. No entanto, os robôs podem apresentar problemas de desempenho ou falhas devido ao mau funcionamento de seus componentes físicos ou eletrônicos.”.

Bem… confesso que fiquei num misto de maravilhado com a resposta, sobretudo com o facto de a inteligência artificial (IA) assumir que “os robôs não são seres vivos” e por isso não terem emoções e sentimentos; mesclado com uma sensação de preocupação, pois a IA acaba de me assumir que os robôs (afinal) também podem apresentar falhas nos componentes físicos ou eletrónicos…

Afinal… que grande responsabilidade!  Ao que parece esta coisa dos “sentimentos e emoções” são só parte integrante dos seres humanos. Dos seres humanos que, como eu, proliferam nas organizações, ao que parece, cada vez mais coabitando com os robôs numa base de equipas mistas – entre humanos e não humanos.

Será que o tema (que supostamente é cada vez mais um factor critico de sucesso) da Gestão das Emoções das empresas e equipas de trabalho, muito impulsionado pelo “A” (de Ansioso) do actual mundo BANI, afinal vai ficar exclusivo da gestão de uma parte dos colaboradores das empresas: apenas dos humanos?

Estranha mesmo é a parte da resposta do “meu amigo” ChatGPT que me esclarece a seguir que “um robô pode apresentar problemas de sobrecarga se for operado continuamente sem tempo suficiente para resfriamento ou manutenção adequada. Nesses casos, o robô pode falhar ou até mesmo quebrar. Além disso, um robô pode apresentar problemas de programação ou design que podem levar a comportamentos inesperados, como erros de cálculo ou colisões com objetos ou pessoas”…

Medo… Tenhamos muito medo! Se os robôs não têm sentimentos e emoções, ainda assim, quando trabalham em demasia ou não lhes forem dadas as melhores condições físicas para executarem as tarefas para os quais foram “contratados”, podem adoptar “comportamentos inesperados” tanto de operação como até de “colisão com objectos e pessoas”?

Vamos ver, então, se nos entendemos: Os colegas robôs não têm sentimentos nem emoções, mas se trabalharem em excesso ou se não forem bem tratados, podem adoptar comportamentos estranhos, agressivos e perigosos e até (simplesmente?) bloquearem  ou “estourar” em serviço? Ou melhor… ao serviço…

Confusos? Eu também! Como sabemos, o burnout (não há muito tempo!) deixou de ser encarado como uma doença da pessoa [ser humano], fruto das suas fragilidades e vulnerabilidades para passar a ser encarada como uma doença da própria organização, resultado directo das suas dinâmicas e práticas incorrectas de gestão dos humanos e da qualidade e da forma como as relações internas entre os vários humanos (incluindo as interações entre humanos líderes e liderados), associado às questões directamente relacionadas com os temas do próprio ambiente de trabalho numa escala tipo “do mais corrosivo ou toxico” ao mais “respirável e feliz”.

Ora, é neste ponto que, com o devido respeito, eu tenho de discordar com o nosso “todo sábio” ChatGPT quando insiste que os robôs não podem sofrer burnout nas empresas dado que não possuem sentimentos e emoções. No fundo, humanos e não humanos, dentro do contexto organizacional, dependendo da forma como são tratados, cuidados, protegidos e possam usufruir de boas experiências, estarão bem mais longe de quebrar, bloquear, entrar em desgaste ou colisão…

Por isso, entrei em discussão com o ChatGPT sobre esta argumentação e, ao fim de algum tempo… pelo menos, a IA lá veio afirmar que “embora os robôs não possam experimentar burnout como os humanos, eles ainda podem apresentar problemas de desempenho ou falhas devido a vários factores relacionados ao seu projecto e operação”.

Bom, numa coisa estamos de acordo neste confronto de inteligências – a minha, humana e a outra, a artificial – que tanto humanos como robôs necessitam de ter um “pojecto” [prefiro chamar-me “propósito”] e de vivenciar níveis de bem-estar que lhes possibilitem e estimulem um melhor desempenho e qualidade na sua “operação”.

Eu que ainda tenho a esperança de um dia poder dizer, com propriedade, que “o meu chefe é um robô”, e acredito em equipas hibridas de humanos e robôs para se potenciarem melhores resultados, aproveitando o melhor de cada um, começo mesmo a pensar que os temas do bem-estar e das boas ralações dentro das organizações, não é apenas uma questão de sentimentos e emoções, mas uma questão de atitude !

Upps… será que lancei uma nova discussão? Vamos lá perguntar ao ChatGPT se os robôs também podem adoptar certas atitudes (ou serão, antes, atitudes certas?) nos locais de trabalho?

 

 

 

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