Uma carta aberta a recrutadores e gestores de Pessoas (de quem fica desempregado depois dos 50)

Para quem fica desempregado depois dos 50 anos a vida muda drasticamente! As consequências a nível pessoal são graves e reflectem-se essencialmente na saúde e na qualidade de vida dos indivíduos e famílias que enfrentam esta situação.

Por Miguel Freitas, “ex”-profissional de IT

 

Aos 50 anos, creio poder afirmar, sem grande margem de erro, que uma pessoa está madura. A vida já lhe ensinou muitas coisas e a maturidade está no seu auge. Experientes e possuindo ainda todas as capacidades, estas pessoas são descartadas e impossibilitadas de aceder ao mercado de trabalho. Independentemente da sua qualificação e currículo, estas pessoas são obrigadas a passar pela humilhação de já não serem úteis, numa sociedade cada vez mais egoísta, egocêntrica, exclusivamente focada nas aparências e no crescimento económico.

Após recorrentes entrevistas de emprego, normalmente sem sucesso, vêem-se obrigadas em muitos casos a ter de mudar de área e a aceitar trabalhos não qualificados para sobreviver, onde a sua experiência e conhecimentos não são relevantes, ou simplesmente resignam-se a ficar marginalizadas num completo vazio social.

Passam a integrar um grupo alargado de pessoas que ficam impossibilitadas de contribuir para a produtividade e para o desenvolvimento do seu país, com a sua experiência e conhecimentos, que foram adquirindo ao longo da vida. Ficam miseravelmente para trás, desvalorizadas, passam de desempregados à situação de não empregáveis. Ainda muito novos para a reforma, mas muito velhos para trabalhar. A idade para a reforma vai subindo, e quem não encontra trabalho vê-se obrigado a aguardar mais de 15 anos para se reformar, ou, caso opte e tenha condições para a reforma antecipada, sofrerá um corte escandaloso na sua pensão. Mais um inevitável paradoxo da nossa actual sociedade!

Como muitos especialistas dizem, um emprego para a vida já não existe, actualmente em média um jovem mudará 13 vezes de trabalho durante a sua carreira. Ora, seguindo este raciocínio, haverá um ponto no tempo em que inevitavelmente essa mudança acontecerá perto dos 50 anos. O que irá acontecer a essas pessoas? Ver-se-ão os jovens de hoje, no futuro, na mesma situação, ou pior?

Esta realidade deixa-me perplexo e a pensar que tipo de sociedade ajudámos nós a criar? É preciso dar lugar aos mais novos, é certo, mas não me parece justo expulsar os mais velhos para fora de jogo tão precocemente, mesmo com recurso ao vídeo-árbitro.

A hipocrisia empresarial é chocante. As empresas são geridas por pessoas que dizem ter ética e moral, contudo as suas acções revelam o contrário. Uma total falta de respeito pela experiência e sabedoria dos seus anciões em proveito dos recursos mais frescos, acabados de formar e supostamente mais baratos. Eu diria mais vulneráveis e fáceis de manipular, e que têm também de lidar com a crescente precariedade das condições de vida e trabalho.

A Europa, e em particular Portugal, estão a ficar velhos, todos os indicadores demográficos assim o demonstram. Portugal não é excepção, e está nos primeiros lugares da lista dos países com uma taxa de natalidade mais baixa e um índice de sustentabilidade potencial igualmente baixo. São indicadores que nos revelam o envelhecimento acelerado da população. Daqui a algumas décadas este sistema não será certamente sustentável.

Existe uma crise social e de trabalho, em pleno crescimento, da qual pouco ou nada se fala, que porá, com certeza, em risco a sobrevivência da sociedade actual. Se a este facto somarmos a crise demográfica, a degradação das condições de trabalho, a rápida evolução tecnológica, como a chegada da automatização, da robótica e da inteligência artificial, num futuro próximo nem os mais novos conseguirão acompanhar e sobreviver muito tempo no mercado de trabalho.

Se, hoje em dia, já é difícil encontrar pessoal especializado para trabalhar na maioria dos sectores, daqui a duas décadas a situação será muito pior. Não haverá jovens suficientes para satisfazer as necessidades do mercado de trabalho e seremos um país de velhos. O decréscimo populacional será inevitável, e Portugal enfrentará o maior desafio da sua história. Como fazer renascer um país envelhecido, deprimido, empobrecido e periférico? O actual sistema capitalista, neoliberal com os seus livres mercados não consegue resolver este problema, terá de se pensar em alternativas, em outras formas de organização, redistribuição da riqueza e criação de actividades comunitárias mais inclusivas, justas e sustentáveis.

Como alguém já disse, envelhecer não é um direito, é um privilégio! Contudo a nossa sociedade assim não demonstra. O que espera a grande maioria das pessoas é uma velhice precária, a exclusão social e uma vida sem condições, maioritariamente solitária. Já é tempo de fazer alguma coisa para acabar com este pesadelo!

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