“Uma empresa é um Big Brother sem câmaras”

O primeiro Randtalks, da Randstad Portugal, foi conduzido por Edson Athayde, CEO e director Criativo da FCB Lisboa, que nos trouxe a sua experiência sobre marcas e Employer Branding.

 

Texto: TitiAna Amorim Barroso

Foto: Paulo Alexandrino

 

Edson Athayde é um dos criativos mais premiados na área da Publicidade e tem uma vasta experiência na Gestão de Pessoas.

«Desde 1993, que faço a gestão de recursos humanos, tinha 28 anos quando me nomearam director Criativo e para me “facilitarem” o trabalho nomearam-me vice-presidente. Aprendi que gerir o activo humano e as suas expectativas não é fácil, principalmente se as pessoas são mais velhas ou se acharem melhores do que nós», partilha. E contínua: «contratam-me sempre para empresas que não estão a ter sucesso, no nosso sector também é normal. Entrei na FCB em 1998 quando a empresa estava falida e deixei-a entre as melhores do país em 2002. Há 3 anos regressei, numa altura que faltava brilho a Portugal. A primeira coisa que estabeleci quando regressei à FCB foi o “Raising the Bar”. Todos os dias tentamos garantir que vamos estar um bocadinho melhores do que no dia anterior. Talento de verdade não gosta de empresas preguiçosas. A nível internacional temos a iniciativa “Brave Together”, somos bravos juntos, ganhamos e perdemos juntos.»

«A empresa tem de ser um íman. Antigamente não havia esta preocupação, entravamos para uma empresa, tínhamos um trabalho a vida inteira e morríamos. Agora não é assim, principalmente com os Millennials, que são difíceis de convencer a entrar e a manter», sublinha Edson Athayde sobre a importância do Employer Branding (EB).

Embora não se considere um especialista nesta matéria, a verdade é que todos os dias tem pessoas a enviarem-lhe o currículo, diz até que se sente uma espécie de Randstad para a publicidade em Portugal. E na sua empresa, tem implementado uma série de iniciativas de EB, desde «os “Raising the Bar Awards”, onde 25 dos melhores publicitários do mundo julgam o trabalho da empresa, para os colaboradores é um incentivo saber que estão a ser avaliados pelos melhores e há um prémio. Temos iniciativas em conjunto, como os jantares de Natal. Temos canecas personalizadas com o nome de cada colaborador, e oferecemos aos nossos clientes. Publicamos no Facebook da empresa a fotografia de novos colaboradores, isso gera um buzz incrível, até nos meios especializados. Temos também rótulos de vinhos personalizados para colaboradores que o mereçam, em sinal de reconhecimento pelo seu trabalho. Dividimos os lucros. Criámos o “Storytelling Academy”, aqui convidamos professores e especialistas em diversas áreas que saibam contar histórias».

Edson Athayde chama a atenção para o Storytelling. «Se não somos bons contadores de histórias não temos a atenção das pessoas. Ser um contador de histórias tem tudo a ver com gerir empresas e até países. Nomes como Barack Obama, Steve Jobs, Walt Disney são de bons contadores de histórias».

E ressalva que «uma organização é um ambiente incontrolável. Uma empresa é um Big Brother sem câmaras. Mudam as temporadas, por vezes os actores e até as personalidades», por isso é crucial gerir expectativas individualmente e recorrer sempre à honestidade.

 

Perguntas a…

Edson Athayde, CEO e director Criativo FCB

 

O que é para si a Gestão de Pessoas?

As agências de Publicidade, são em geral Pequenas e Médias Empresas, apesar de a nível mundial serem grandes empresas, a nível local são mais pequenas. O que faz com que o responsável pelas empresas tenha de saber gerir pessoas, não só do ponto de vista burocrático, aqui haverá sempre alguém, mas em torno das problemáticas das pessoas.

E como descreve as pessoas do seu sector?

1/3 são pessoas vaidosas, criativas, um bocado instáveis emocionalmente, que têm ambições muito grandes num mercado em que há prémios, o trabalho está na rua. Isto é uma questão premente. Portanto lido com questões, que noutros sectores são os directores de Recursos Humanos a fazê-lo, mas numa agência tem de ser o CEO. E como acumulo com a direcção criactiva lido directamente com um conjunto de egos imaturos, porém geniais, que alimentam uma agência.

O tema que o traz hoje é o Employer Branding. Quais são as principais ideias a reter?

Venho falar da experiência que estou a ter neste projecto da FCB, há uma série de elementos dedicados a isso e do meu passado. Antes de virar moda, já andava preocupado com esta terminologia do Employer Branding.

O mais importante é como a marca que a empresa projecta para fora para atrair talentos é construída a partir de dentro. Não existe uma marca de uma empresa excelente na sociedade, sendo péssima para os colaboradores, embora isto seja o objectivo de algumas empresas. É fácil contratar uma agência para dar um “lustro” na parte de fora, mas se não vem de dentro não se mantém por muito tempo.

É importante fazer dos colaboradores embaixadores da marca?

Isso é uma maneira de dizer. Ou como a empresa tem de dar subsídios aos colaboradores para comentarem que trabalham numa boa empresa. Se eles são embaixadores ou não já deve ser uma consequência e não um objectivo.

 

Sobre Randtalks:

É um evento que pretende ser trimestral, criado pela Randstad Portugal. Uma sessão de pequenos-almoços com a participação de convidados fora da área da Gestão de Pessoas, mas com um contributo importante para o sector.

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