Vuja de: O déjà vu está muito visto!

E se conseguíssemos trazer um olhar sempre fresco para o nosso dia-a-dia de trabalho? Pode uma vista cansada, pelo tempo, pela rotina ou pela falta de recursos, ter um novo brilho?

 

Por Rita Oliveira Pelica, Chief Energy Officer ONYOU & Portugal Catalyst – The League of Intrapreneurs

 

Que sentimento é aquele que nos dá um brilho nos olhos, ao descobrir uma nova forma de fazer as coisas, porventura de forma mais rápida, mais barata ou simplesmente diferente? Ou até mais cara, se houver orçamento… Quando aquilo que já tratávamos por “tu”, por estarmos tão familiarizados com o tema ou com as pessoas, passa a ser algo novo? Por explorar? Recordo o entusiasmo que é quando estamos numa conversa estimulante com alguém que acabámos de conhecer.

Isto só pode ser um “vuja de”! Um obrigada especial ao comediante George Carlin por ter partilhado esta visão, em tempos, com a sua audiência: como podemos criar (ter) uma sensação de um momento que nunca aconteceu, que nunca foi visto, apesar de este já ter acontecido várias vezes? Tal como Carlin sentiu a necessidade de recriar constantemente a sua actuação, em palco, também os intraempreendedores têm a necessidade de recriar, reimaginar o seu trabalho. E talvez também todos os outros que não se consideram tão empreendedores. Ainda…

Se todos os dias temos o nosso plano e seguimos cegamente a nossa rotina, em nome da eficiência, pura e dura, e do piloto automático, a vida profissional não é mais do que um somatório de déjà vus.

Casa-trabalho e trabalho-casa, sempre na mesma estrada. Recentemente, e por mero acaso, “bati de frente” com este conceito. Vuja de. Fez-me todo o sentido, até porque o déjà vu está muito visto… Esta parece-me uma legítima preocupação de todos aqueles que procuram ver além da “mesmice” do habitual.

A frescura do “mais do mesmo”, mas de forma diferente, captou logo a minha atenção e o meu pensar mais deliberado e intencional. Lembrei-me do livro de Daniel Kahneman, do seu “Rápido e devagar: Duas formas de pensar” e também da lebre e da tartaruga. E de uma fusão das duas. Conseguem imaginar?

Sabemos que as organizações nos pedem para sermos ágeis (modo lebre), mas também sabemos que, para sermos mais curiosos e criativos (quando nos pedem para pensarmos fora da caixa), temos de ser mais observadores e atentos, prestando atenção aos detalhes. Isso exige uma desaceleração de pensamento e o exercício da contemplação (modo tartaruga). Exige um misto de lebre e de tartaruga, mas eu pessoalmente nunca vi nenhum. Só unicórnios portugueses.

E é aqui que reside a beleza do ver além do óbvio, para além da nossa familiaridade com tudo aquilo que diariamente nos rodeia: como reenquadrar os problemas/ desafios que nos surgem no caminho, na forma de obstáculos e de pedras, e redesenhá-los como oportunidades e pontes? Ver algo como nunca foi visto, até então.

Vendo bem, parece que é exactamente disso que as organizações precisam, de “reinventar a roda”, criando espaço para o vuja de. Como? Olhando para “fora” da própria organização, procurando fontes de inspiração noutros sectores de actividade, uns mais paralelos, outros mais oblíquos; promovendo activamente sistemas de inovação aberta e de crowdsourcing; e olhando para “dentro”, alterando pequenas coisas no dia-a-dia, por exemplo, fazer reuniões no exterior, mais curtas, sem powerpoints (sim, é possível, já experimentei!); definindo novas equipas multidisciplinares em novos projectos, e não somente com os “suspeitos do costume”.

Há tantas pequenas grandes coisas que se podem fazer, para se mudar. Só um pouco. De cada vez. O cenário, as personagens, o formato do filme. Menos pode ser mais. Pequenos momentos podem ser consolidados num grande argumento.

Já viu isto? Está a ter um déjà vu ou um vuja de?

 

Este artigo foi publicado na edição de Junho (nº. 150) da Human Resources, nas bancas.

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