2023: O que as pessoas mais vão procurar num novo emprego?

O mundo do trabalho passou, nos últimos três anos, por transformações que mudaram inevitavelmente a maneira como as pessoas olham para o emprego no geral.

 

Por Marco Gouveia, consultor e formador de Marketing Digital, CEO da Escola Marketing Digital

 

As expectativas sobre a esfera profissional e o peso que tem no conjunto de esferas da vida foram renovadas, e a flexibilidade, o teletrabalho e a saúde mental são agora palavras de ordem. Devido à escassez de talentos em alguns sectores, as empresas tiveram obrigatoriamente de se moldar às novas visões dos trabalhadores.

Novos paradigmas têm vindo a consolidar- se e um dos maiores desafios neste momento, e que continuará a sê-lo no próximo ano, é conquistar novos talentos e conseguir retê-los, criando ambientes atractivos, tanto para quem contrata como para quem é contratado. Por isso, com o final do ano a aproximar-se, é hora de pensar sobre como podem os colaboradores ser (mais) felizes no trabalho e, afinal, o que mais procuram numa empresa. Aqui ficam as minhas apostas.

 

1. Salários justos
Apesar de existir uma certa mudança de mentalidades no que diz respeito à remuneração, considerando-a não mais um factor prioritário aquando da escolha de um novo emprego, com a crise que se avista para 2023, o salário voltará a ser, sem dúvida, um factor diferencial. Devido ao aumento da inflação e, consequentemente, do custo de vida, as preocupações económicas serão um factor decisivo. Assim, um salário demasiado baixo, que não acompanhe o custo de vida do país, ou horas extra que não são pagas, são pontos extremamente desfavoráveis para empresas que desejam reter talento.

 

2. Benefícios complementares
A par do ordenado, os benefícios complementares são propostas que as pessoas valorizam bastante. Além disso, passam uma forte mensagem sobre a empresa e os seus valores. Uma empresa que dinamiza campos de férias para os filhos dos colaboradores, por exemplo, é uma empresa que se preocupa com a família. Se opta por oferecer acesso a serviços de saúde mental, ginásios ou a subscrição de serviços de streaming, é sinal de que se preocupa com o bem-estar dos mesmos. E estes são apenas alguns exemplos de benefícios que podem convencer as pessoas a optarem por uma empresa em detrimento de outra.

 

3. Flexibilidade de horário
A flexibilidade de horário é claramente uma tendência que continuará a marcar o mercado de trabalho em 2023. O estudo “O Estado da Compensação 2021-22 – um estudo sobre o futuro do trabalho e o trabalho do futuro”, realizado pela Coverflex com o apoio da APG – Associação Portuguesa dos Gestores de Pessoas, mostrou que 60% dos inquiridos gostavam de experimentar trabalhar 40 horas semanais distribuídas por apenas quatro dias da semana. Já no 1.º Relatório Anual do Estado do Trabalho Remoto em Portugal, levado a cabo pela Remote Portugal, entre Janeiro e Março de 2021, os inquiridos revelaram que a flexibilidade de horário teve um impacto positivo na qualidade de vida familiar e pessoal, e também na produtividade.

 

4. Regime de trabalho
O teletrabalho em tempo integral e os modelos híbridos fazem parte das grandes transformações que acompanharam a pandemia nos últimos dois anos e têm vindo a consolidar-se como um novo paradigma. Uma pesquisa do LinkedIn, realizada em diversos países, apontou que metade dos profissionais deseja uma mistura de trabalho presencial e remoto. Desta forma, o que foi uma resposta de emergência, é agora (e continuará a ser) um diferencial importante para atrair novos talentos.

 

5. Ambiente de trabalho
Como mostra o estudo Randstad Employer Brand Research, realizado pela Kantar, um dos factores mais valorizados numa empresa é o ambiente de trabalho. Um ambiente saudável e amistoso é essencial para a maioria das pessoas. Muitas vezes, mais do que o salário ou os projectos realizados, são as pessoas que “prendem” os colaboradores a um emprego. Portanto, é interessante que as empresas apostem em actividades de team building para fomentar os laços entre colegas e reforçar o espírito de equipa, melhorando o ambiente que se vive na empresa. Vários estudos demonstram que quando há confiança também a produtividade e o rendimento da empresa aumentam.

 

6. Lideranças capazes e empáticas
O ambiente de trabalho tem também muito que ver com as lideranças das empresas. Certamente já ouviu dizer que as pessoas despedem-se dos seus “chefes”, não dos seus empregos. Assim, a procura por líderes mais flexíveis, autênticos e empáticos – características que constituem aquilo a que chamamos liderança humanizada – é cada vez maior. Os líderes devem direccionar o foco mais para os resultados e menos para o tempo de trabalho, oferecendo aos colaboradores mais autonomia e confiança, mostrar compreensão e empatia em momentos que assim o exijam e promover o bem-estar dentro da empresa.

 

7. Progressão na carreira
Tal como os empregadores esperam que os colaboradores trabalhem o suficiente para atingir os objectivos da empresa, também estes possuem as suas expectativas dentro da mesma, além do pagamento ao final do mês. Expectativas essas que podem passar pela possibilidade de desenvolvimento profissional e de crescimento dentro da empresa, assumindo novas responsabilidades e cargos superiores. Neste contexto, apostar na formação dos profissionais (actualizada, preferencialmente prática e que possam aplicar desde logo), dar abertura para apresentarem novas ideias e encarregarem-se de novos projectos continuará a ser um factor crucial em 2023. Em suma, é certo que, com o aumento da inflação e do custo de vida, os salários serão um factor determinante na escolha de um emprego, no entanto, não serão o único. Hoje, há muito para explorar – e oferecer! – de modo a tornar o local de trabalho mais atractivo para quem lá trabalha ou aspira trabalhar no futuro.

Em 2023, manter-se-á o óbvio: as pessoas vão continuar a valorizar um salário justo, compensações extra por trabalho extra, benefícios que lhes facilitem a vida ou a tornem mais agradável de viver, um bom ambiente de trabalho – podendo contar com a empatia dos seus líderes – e a promessa de um futuro melhor.

 

Este artigo foi publicado na edição de Dezembro (nº. 144) da Human Resources, nas bancas.

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