2024: da agilidade à adaptabilidade

Escrevo estas linhas na transição do dito ano velho para o muito aguardado ano novo. No meio dos balanços, análises e profecias, típicos da época, noto uma ansiedade especial em relação aos próximos 12 meses. De certa forma, é compreensível.

Por Carlos Sezões, Managing partner da Darefy – Leadership & Change Builders

Olhando para o mundo (e é este o mindset que qualquer gestor deve ter), notamos que 2023 não resolveu nenhum dos grandes problemas ou desafios globais e acrescentou mais alguns para o seu sucessor temporal – o que exigirá doses suplementares de resiliência, coragem e determinação.

Começando pelo básico. As economias e respectivos agentes vivem de um atributo essencial: a confiança. A confiança gera-se a partir de um certo nível de previsibilidade e segurança – que leva investidores a investir, consumidores a comprar ou empresas a inovar. Se esses níveis de confiança estiverem reduzidos, decisões como as que mencionei acima são adiadas ou tomadas com opções conservadoras. Se tal suceder, o fluir dos capitais será menor e as economias terão uma performance mais modesta – reflectindo-se na criação de riqueza e de empregos.

Ora olhando para 2024, vemos (ainda mais) incerteza e volatilidade do que nos anos anteriores. Começando pela geopolítica: duas guerras (Ucrânia/Rússia e Israel/Gaza) que dificilmente gerarão em resultado positivo e estabilizador nos próximos meses e que correm até o risco (moderado, mas que existe) de escalarem; eleições em países-chave da economia global (não só nos EUA, alerta máximo com o risco de um novo isolacionismo americano, mas também na Índia, Rússia, Indonésia, Paquistão, México ou Taiwan), de cujas decisões dependerá o futuro da globalização; alteração na segurança e custo das cadeias logísticas, nomeadamente marítimas (veja-se, actualmente, o Mar Vermelho).

Continuando pelo clima: a continuação ou agravamento de eventos climáticos extremos, que possam afectar a coesão social, a economia ou mesmo a escala de migrações já em curso. A transição energética: quão rápido e a que custo continuaremos o processo de descarbonização da economia mesmo, sabendo que, paradoxalmente, a procura global de petróleo, gás e carvão continuará altíssima. Prosseguindo na economia e finanças globais: conseguiremos em 2024 reduzir a inflação e preparar o terreno para reduções de taxas de juro?  E terminando na disrupção tecnológica: se 2023 foi o ano do hype do ChatGPT e da Generative AI, qual o impacto que esta e outras tecnologias (atenção ao blockchain e às imersivas AV/VR) terão na transformação de modelos de negócio, hábitos de consumo e no reskilling ou eliminação de postos de trabalho?

Para qualquer gestor de topo, que tem de tomar decisões (alinhado, claro, com os seus accionistas), a complexidade e ambiguidade dos cenários são “pesadas” e dificilmente acomodáveis no planeamento estratégico tradicional. Devemos estar cientes da realidade, aceitar e viver com isso. Saber como elas afectam ou constrangem a nossa capacidade de agir e moldam os vários mercados (sejam eles B2C ou B2B) e suas dinâmicas.

Na minha óptica, as equipas de gestão terão de desenvolver duas competências-chave, altamente correlacionadas. Primeiro, a agilidade. Tal prende-se com a rapidez na leitura dos sinais relevantes (internos e externos) e na capacidade de agir sobre eles, alinhando vontades e recursos. Tal será patente na capacidade de planeamento de cenários (estratégicos e financeiros) e na transformação rápida de processos.

Em segundo, a adaptabilidade. Tal pode definir-se como o conjunto consolidado de competências, traços e características que nos permitem lidar com a mudança – nas nossas vidas, no trabalho que individualmente fazemos e nas interacções nas nossas organizações. Será a adaptabilidade que nos permitirá mudar rotinas de gestão e reporte, modelos de logística e distribuição ou executar com maior sucesso (e celeridade) os roteiros de inovação e go-to-market.

São estas competências que tornarão os líderes empresariais mais competitivos, flexíveis e inovadores. E as equipas mais preparadas para estes tempos voláteis – independentemente do que possa acontecer na sociedade, economia e política globais. E prontas para “fazer acontecer”.

Votos do melhor 2024 possível!

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