Em cenário de crise, como a Sonae MC assegura o worklife balance de mais de 33 mil colaboradores (nos postos de trabalho e em casa)
RE(TALK)
Tentar dar resposta à pergunta “Worklife is in place” foi o mote para a terceita re(talk), que aconteceu ontem, em directo, contando com as partilhas de Sofia Castro, head of Talent e Employer Brand da Sonae MC, e Inês Casaca, associate director da Randstad Portugal. Saiba como asseguram o equilíbrio dos colaboradores, numa “época desequilibrada”.
Agora que estamos a trabalhar maioritariamente à distância, e sem filhos para ir por à escola, sem reuniões fora, como se assegura o worklife balance? Será que continua a ser “responsabilidade” da empresa promover esse equilíbrio? E como? Foram estas as perguntas lançadas na terceira re(talk) – uma iniciativa da Randstad em parceria com a Human Resources – que se realizou ontem.
Numa conversa, em directo, moderada por Ana Leonor Martins, directora de redacção da Human Resources, Sofia Castro e Inês Casaca pratilharam as opiniões e experiências sobre como se pode assegurar o worklife balance numa altura como esta que vivemos.
Se é verdade que talvez a maioria dos profissionais se encontra hoje a trabalhar em casa, é importante ressalvar que esta uma situação de teletrabalho normal, pois toda a familia está em casa, crianças incluídas, o que traz desafios acrescidos.
Por outro lado, se nas duas talks anteriores os temas tiveram o seu enfoque na gestão à distância, na Sonae MC, uma empresa de retalho que entre várias marcas detém o Continente, essa gestão ainda é de proximidade, pois tem grande parte das suas equipas no seu local de trabalho. «A Sonae MC insere-se num sector que tem uma responsabilidade especial para Portugal tendo em conta o momento em que vivemos», refere Sofia Castro. «Assim temos de facto uma percentagem muito significativa dos nossos colaboradores no seu posto de trabalho habitual.»
Num primeiro momento a Sonae MC implementou um conjunto de cuidados que garantissem tanto a protecção dos trabalhadores como dos clientes, de modo a prevenir o contágio. A responsável partilha: «Desenvolvemos um conjunto de medidas que minimizem essa possibilidade, entre elas estão o distanciamento entre pessoas, sendo que temos marcações em loja que ajudam que as pessoas percebam qual é o distanciamento que devem manter entre elas, colocámos acrílicos de protecção nas caixas de pagamento e no balcão de informação para garantir que, havendo uma maior proximidade, não existe possibilidade de contagio; temos o cuidado de ao longo de todo o dia fazer a higienização dos espaços, sendo que durante a noite é realizada uma higienização mais profunda a toda a loja; aos colaboradores é distribuído gel higienizante, luvas e máscaras, ensinando sempre como estas devem ser utilizadas.»
Sofia Castro garante que todos os colaboradores estão muito conscientes da necessidade destas medidas para segurança de todos, deles próprios e dos clientes. «Todos têm sido muito responsáveis e sentem isto como uma missão pessoal, pois percebem a importância daquilo que é o seu contributo para a sociedade num momento como este, ao mesmo tempo que querem garantir que protegem as suas famílias.»
Já na Randstad, num primeiro momento, tentou-se que as pessoas usassem o software e o hardware da empresa de modo a manter a exigência de qualidade que a caracteriza. Inês Casaca especifica: «Nas últimas semanas, de acordo com o plano de contingência e com o que os nossos clientes propuseram, conseguimos manter na Randstad, na medida do possível, esta qualidade de ferramentas e entregá-las aos nossos colaboradores.» Já no que diz respeito, «sendo elas muito distintas, também foram exigidos diferentes esforços por parte das equipas. Neste momento temos mais de 60% das nossas operações a trabalhar a partir de casa. Foi de facto um esforço que nos está a trazer o sucesso pretendido.»
Para a responsável, a fase da rapidez na decisão já passou. «Agora estamos numa fase de adaptação, com a gestão à distância feita numa base diária, com o objectivo de manter a coerência das equipas sempre com base na comunicação.»
Mais do que worklife balance, é preciso haver worklife integration
Mas se os colaboradores estão permanentemente em casa, como assegura a empresa o equilíbrio entre a vida familiar e profissional? No caso da Sonae MC, com todos os trabalhadores que não estão em loja em regime de teletrabalho, esse «equilíbrio é, de facto, difícil de assegurar», reconhece Sofia Castro. «Vivemos um momento de uma enorme exigência para os nossos colaboradores, mas acredito que, mais do que worklife balance é importante pensarmos em worklife integration. E esta integração entre aquilo que é a vida pessoal e a vida profissional é algo muito importante, que se traduz precisamente neste momento.»
Para a responsável de talento, essa integração passa pelo propósito. «O que sentimos no nosso dia-a-dia é que existe, de facto, uma comunhão muito grande entre aquilo que é o propósito da empresa e o propósito de cada um dos nossos colaboradores». A Sonae MC acredita que tem uma missão realmente especial, que «é a de alimentar Portugal, e é com esta missão que todos os dias os colaboradores se apresentam no trabalho, tanto os de loja, como os dos entrepostos e das estruturas». No caso destes últimos, as exigências também são muitas, uma vez que os padrões de consumo mudaram por completo. «Tudo o que era a gestão normal da actividade sofreu mudanças muito significativas. Aliás, num sentimento de solidariedade, muitas delas voluntariaram-se para ir para as lojas e para os entrepostos ajudar os colegas.»
Inês Casaca admite que equilíbrio, além de ser a palavra-chave, é um grande desafio para todos. «O worklife balance é um tema que já tem vindo a ser trabalhado pela maioria das empresas, sendo que acredito na sua junção com o worklife blending, ou seja, cada pessoa tem automia para, de uma forma responsável, gerir a sua rotina e o seu tempo, estabelecendo as suas prioridades numa altura como esta. Estamos num momento em que, todos os dias, tentamos descobrir aquele que é o nosso ritmo e qual a melhor forma de gerir o nosso tempo. A Randstad tem promovido e tem dado às suas pessoas essa capacidade de autonomia e de responsabilização, mais focada naquilo que é a entrega do que na tarefa.»
Em termos de iniciativas promovidas, a Randstad lançou o “Estamos aqui”, que tem uma vertente de arranjar soluções para os problemas diários com base no positivismo. Lançou por exemplo “O Diário”, no qual qualquer colaborador pode participar. É também amplamente promovida a partilha entre equipas, existindo «horas agendadas para, por exemplo, se tomar um café em conjunto».
Flexibilidade como palavra-chave
No caso da Sonae MC, o teletrabalho está implementado há cerca de um ano, sendo que a empresa acredita que o equilíbrio se alcança com flexibilidade. «Neste momento o principal desafio que sentimos nos nossos colaboradores é, efectivamente o facto de terem os filhos em casa, pelo que acreditamos que aqui o mais importante é mesmo a flexibilidade», afirma Sofia Castro. «Essa flexibilidade passa por medidas muito diferentes de pessoa para pessoa. O importante é que nos saibamos adaptar à realidade de cada um.»
A head of Talent acredita que no pós pandemia o trabalho à distância vai ser muito mais comum e que é preciso desmontar a ideia de que isso implica uma quebra de produtividade. «No momento que vivemos, isso até pode acontecer porque são muitos os papéis que as pessoas são chamadas a desempenhar ao mesmo tempo nas suas casas. Não podemos nunca tirar conclusões comparando o momento que vivemos com aquilo que é a realidade do teletrabalho», ressalva.
Na opinião de Inês Casaca cabe a cada um perceber o quão flexivel deve ser e de que forma se deve adaptar a esta nova realidade, e aqui, as empresa, os gestores e os lideres, têm um papel fundamental, pois são eles que ajudam a que isto aconteça ao darem algumas guidelines. «A responsabilidade deve ser de cada um de nós, e não só da empresa. Temos de aprender as nossas prioridades e de nos adaptar às prioridades dos outros. É essencial sermos flexíveis.»
E a estratégia?
De quem estava a assistir, surgiu uma questão mais macro. “Não estamos todos demasiado focados nas questões imediatas, esquecendo a vertente estratégica?” Sofia Castro acha que não. «Acho que o momento que estamos a viver nos faz pensar de forma mais acentuada em algumas medidas estratégicas que, no caso da Sonae MC, já vinhamos a tomar.»
E exemplifica: «Em primeiro lugar, o tema da liderança. A Sonae MC acredita que é muito importante passar de uma liderança mais autoritária para uma liderança mais participada e com maior proximidade onde se explica o objectivo para que cada colaborador consiga dar o melhor de si. A situação que vivemos só veio acentuar esta nossa crença», assegura.
O outro tema muito importante para a Sonae MC é a digitalização, tanto de uma forma mais global como relacionada com as competências das pessoas. «Se isto já era importante antes, hoje ganhou uma importância ainda maior, e que vai certamente crescer no futuro. Tivemos um crescimento enorme nas encomendas online, mas temos a certeza de que isto não ficará pelo momento que vivemos, pois as pessoas vão ganhar este hábito. A necessidade de competências digitais foi acelerada, mas já era já algo estratégico para a Sonae MC.»
Também na Randstad a estratégica não foi de todo esquecida. «Esta necessidade de urgência veio, de alguma forma, mostrar que o caminho continua a ser o que estrategicamente já tínhamos definido, particularmente no que diz respeito à transformação digital», revela Inês Casaca. «Na Randstad continuamos estrategicamente muito alinhados e o grande desafio passa por estarmos focados na solução de uma forma positiva.»
Manter a proximidade
No que respeita à Gestão de Pessoas, e no momento em que vivemos, Sofia Castro defende que deve ser assegurado o tema da proximidade «algo que quando estamos no local de trabalho é simples, mas com a situação que estamos a viver não é tão fácil, mas que é preciso assegurar».
Inês Casaca concorda, acrescentado a necessidade de uma cada vez partilha e frequência na comunicação. «É importante que os lideres tenham a capacidade de ser transparentes, transmitindo com segurança o que se está a passar, indicando qual é o caminho a seguir. Acima de tudo importa manter o engagement dos colaboradores.»
(re)Veja aqui a talk na íntegra.
Devido ao facto de sexta-feira ser feriado, a próxima re(talk) acontece já amanhã, dia 9 de Abril, às 15h00. Terá Pedro Ramos, director de Recursos Humanos, e Inês Veloso, directora de Comunicação de Marketing da Randstad Portugal, como convidados, e o tema será “O employer branding está de quarentena?”
Os directos poderão ser acompanhados através do site e redes sociais (facebook e linkedin) da Human Resources. Ou directamente através do youtube da Randstad, inscrevendo-se aqui.
Texto Sandra M. Pinto