Entrevista: «Temos de garantir que este vírus não mata o emprego e as pessoas», afirma o líder do terceiro maior empregador em Portugal

Não escondendo que vamos ter desemprego e empresas que não vão sobreviver a esta crise, José Miguel Leonardo, CEO da Randstad Portugal, sublinha que é preciso criar oportunidades neste novo contexto e preparar o amanhã.

 

Por Ana Leonor Martins

 

José Miguel Leonardo, CEO da Randstad Portugal, reconhece que «o cenário de uma pandemia pareceu sempre mais académico do que real» e por isso «ninguém estava verdadeiramente preparado». Uns porque não tinham o software e hardware necessário, outros porque faltava a cultura de trabalho remoto, que «é diferente de estar em teletrabalho». Mas as empresas reagiram. E percebeu-se que, por vezes, complicavam estas transições e adiavam investimentos e processos sem razão. É o lado B desta crise, «a capacidade humana de reagir e de se adaptar a condições adversas».

Já se nota uma retracção clara no recrutamento e nos grandes projectos de gestão de Pessoas, e também uma maior procura de oportunidades por parte de candidatos, demonstrando claramente o crescimento das situações de desemprego. Por isso, para o “amanhã”, o foco da Randstad é conceber e ajudar a «construir cenários que preparem as empresas para reagir a um mundo novo». Hoje, as prioridades são garantir a saúde e protecção das pessoas e conseguir manter a economia. «Ninguém sabe o que vai ser o amanhã. Mas todos queremos que chegue rápido e que se regresse a uma nova normalidade.»

 

Sendo a Randstad o terceiro maior empregador privado em Portugal, como estão a acompanhar a actual crise causada pela pandemia COVID-19?
Estamos a acompanhar esta crise com preocupação, não apenas na vertente humana, mas também no impacto no emprego e na empregabilidade.  A nossa prioridade foi proteger as pessoas, garantir a sua segurança, implementando um plano de contingência alinhado com a Direcção-Geral de Saúde (DGS), mas também assumindo medidas que fossem além do recomendado, como as entrevistas por canal digital, antes até de o Governo decretar o fecho das escolas.

Da mesma forma, identificámos os nossos contact centers como prioritários para levar a cabo um plano de acção que não apenas concretizasse as medidas de segurança, mas que alterasse o modelo para uma solução de trabalho remoto. Aquilo que parecia ser impensável foi possível, com equipas fantásticas, as nossas e as dos nossos clientes, que nos permitiu até hoje ter mais de 60% das equipas a trabalhar de forma remota.

Isto significa que são mais de seis mil pessoas que hoje fazem atendimento da sua residência, um número que nos enche de orgulho. Mas este orgulho estende-se também às pessoas que diariamente estão nos nossos espaços, trabalhadores que garantem a continuidade do serviço, atendendo os clientes dos nossos clientes.

Em paralelo com a segurança das pessoas, reforçámos os canais de comunicação e a frequência com modelos mais próximos, para garantir esse acompanhamento.

Em termos comerciais, o nosso principal desafio foi o de conseguir manter o emprego e a empregabilidade, trabalhando em parceria com as empresas, lutando junto das instituições do sector para a protecção dos direitos dos trabalhadores e adaptando o portefólio às novas necessidades, chegando mesmo a colocar no mercado as soluções digitais que usamos para que as empresas não coloquem as pessoas no último lugar da sua estratégia, e para que continuem centrados no talento.

 

Não só na Randstad, mas também nas inúmeras empresas vossas clientes, como é que esta situação está a ser vivida e gerida?
As empresas estão a gerir em modo de navegação à vista, reagindo à crise, adaptando a sua oferta, e ainda preparando o que vai ser o futuro. Existem três dimensões nesta equação que têm de ser acauteladas. A saúde, ou seja, como conseguimos garantir a saúde e a protecção das pessoas. A segunda é a economia. É importante que os agentes económicos reajam a esta pandemia e que mantenham a actividade dentro do possível, para reduzir o impacto desta crise. Por fim, a liberdade individual. Nesta área, e já pensando no que vai ser o amanhã, é importante perceber como vai ser a nova realidade e quais as medidas para garantir essa mesma liberdade. São desafios a que todos temos de responder de forma transversal.

 

Pela informação disponível, acredita que as empresas, desde o início, se estavam a preparar para “combater” este surto, ou “acordaram” algo tarde?
Não há um tempo certo. O cenário de uma pandemia pareceu sempre mais académico do que real. Ninguém estava verdadeiramente preparado, porque a China parece sempre longe demais, porque outras epidemias não afectaram a Europa da maneira como esta afecta.

Sinceramente, acredito que a tecnologia nos ajudou a responder a esta crise, e que vai ser utilizando a tecnologia que as pessoas vão vencer este vírus. E já temos exemplos fantásticos que demonstram isso mesmo. Veja-se a capacidade de inovação nos testes à doença levado a cabo por cientistas portugueses que encontraram um novo reagente. A parceria entre os CTT e a Uber para garantir a celeridade das entregas ou o facto de o Vila Galé entregar comida em casa como alternativa às cadeias hoteleiras encerradas.

O lado B desta crise é a capacidade humana de reagir e de se adaptar a condições adversas, é a aproximação mantendo a distância e, por isso, mais do que lamentar o “acordar” potencialmente tardio, é fundamental estar bem acordado agora, manter a adaptação das medidas necessárias para responder e reagir rapidamente no pós pandemia.

 

E acha que a maioria estava preparada para, por exemplo, ter quase 100% dos trabalhadores em teletrabalho e tinham os meios necessários para o assegurar?
Não, acho que tínhamos dois casos diferentes: empresas que não estavam preparadas porque não tinham nem software nem hardware preparado para essa alteração e que fizeram um esforço de digitalização incrível; e empresas como a nossa, em que até já tínhamos um dia por semana a trabalhar de qualquer lado, mas que não tínhamos a cultura do trabalho remoto. E este é um ponto fundamental, perceber que não estamos em teletrabalho, estamos a trabalhar remotamente.

A cultura e os processos estão feitos para a realidade de ontem e as próprias pessoas não foram preparadas para esta mudança. Esta é uma responsabilidade das empresas, de partilhar e garantir esta transformação, de continuar a gerir pessoas e performance, de termos reuniões, avaliações, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, de existir formação e momentos de celebração do sucesso.

Este desafio, numa casa cheia ou vazia, num momento de ansiedade e tensão emocional, é ainda maior em áreas de Gestão de Pessoas, críticas não apenas para sentir esta pulsação, mas também para, em conjunto com a Comunicação, encontrar estratégias que aproximam e até aumentam o engagement.

A título de exemplo, na Randstad temos, além do gabinete de crise, uma call com os direct reports do management team para acompanhar e partilhar práticas. Temos também uma hora por semana com quem se quiser ligar para essa mesma partilha e ainda uma hora à sexta-feira, apenas para estarmos juntos, para celebrarmos, porque, afinal, amanhã é fim-de-semana.

Em paralelo, temos cursos para a transformação de teletrabalho e um diário em que qualquer pessoa pode escrever, porque esta é uma viagem para a qual nenhum de nós estava preparado.

 

Como e quando foi traçado o plano de contingência implementado pela Randstad Portugal para dar resposta a esta pandemia COVID-19?
O plano de contingência  é um organismo vivo, que não só replica as recomendações da DGS como cria um processo de comunicação com a Randstad por parte de todos os trabalhadores, e com os seus clientes e candidatos. Activámos a sua primeira versão logo com a primeira recomendação da DGS.

 

Que medidas foram prioritárias, quer para proteger as pessoas, quer para proteger o negócio?
A nossa prioridade são as pessoas, a sua saúde, a sua segurança, e por isso assumimos sempre os períodos de quarentena em caso de viagens e de contacto directo. Compreendemos que os serviços de saúde não conseguissem validar de forma imediata estes períodos, mas assumimos esse risco, não penalizando as pessoas, porque a prioridade é a saúde individual e colectiva dos nossos trabalhadores.

Avançámos com medidas de prevenção e distanciamento social em todos os espaços e trabalhámos em conjunto com alguns clientes para garantir a activação dos seus planos de contingência. Criámos um canal de comunicação e actualização constante aos nossos stakeholders e temos actualmente o nosso contact center interno a trabalhar em horário alargado para fazer esse acompanhamento, além dos canais digitais.

Em relação ao negócio, estamos a acompanhar os nossos clientes, já fizemos webinares para esclarecer e compreender as principais questões de Gestão de Pessoas num enquadramento que está em constante mudança e com regime extraordinário.

Percebemos que, em termos comerciais, temos de viver em três velocidades: reacção à crise, oportunidades neste novo contexto e preparar o amanhã. No hoje fazemos o acompanhamento. Na oportunidade percebemos onde e como ser relevante. No amanhã desenhamos e ajudamos a construir cenários que preparem as empresas para reagir a um mundo novo.

 

E como reagiram colaboradores e clientes?
As reacções foram alinhadas com a comunicação. O mais importante é que #EstamosAqui e por isso reforçámos a mensagem em multicanal e não parámos. Temos a sensação que estamos há meses nesta realidade, porque a vivemos intensamente, com o esforço das equipas, com a adaptação a um novo contexto, mas com o mesmo ADN que nos faz actuar no mercado há 60 anos.

 

O que está a ser mais difícil gerir? Assegurar os meios para a empresa, garantir a normalidade possível ou a gestão humana?
O mais difícil de gerir é garantir que a vida não pára, que este vírus não mata o emprego e as empresas como as conhecemos. Que não tira vidas acabando com o ar, mas também com o pão que coloca em cima da mesa. E não estou a ser dramático. Precisamos de reagir, de garantir que nos protegemos, que protegemos os trabalhadores, mas também que encontramos forma de viver. As empresas têm essa responsabilidade, o Estado tem esse papel e cada um de nós tem a sua missão, tem de ter.

Este sentido de missão é umas vezes muito fácil de gerir porque surge reforçado, mas noutros casos tem desafios ligados à componente emocional, de ansiedade e até de depressão. E preocuparmo-nos com as pessoas é também preocuparmo-nos com as suas emoções e com este equilíbrio, e aqui também as empresas e os líderes têm um papel muito importante que
não pode ser negligenciado.

O que identifica como tendo sido a principal dificuldade até à data e como lhe deram, ou estão a dar, resposta?
A maior dificuldade é acreditar, acreditar que vivemos neste cenário e que temos esperança, mas não data. Esta dificuldade não é um obstáculo à execução e à estratégia, mas não deixa de ser o mais difícil de aceitar. Como é que este “ser” invisível está a questionar a nossa vida como um todo e, pior do que isso, nos tira a vida?

 

Beneficiaram de alguns “ensinamentos” (ou erros a evitar), por exemplo da Randstad Itália? Como é que uma das maiores empresas de recrutamento do mundo está a gerir esta situação, a nível global?
Sim, o facto de sermos multinacional permitiu-nos beneficiar dos nossos colegas da China e dos países da Europa que vivem alguns dias à nossa frente. Temos duas reuniões semanais apenas com os directores-gerais da Europa e o CEO para partilha de melhores práticas, e uma reunião semanal com o mundo todo. Mas não ficamos apenas ao nível de topo, todas as áreas transversais têm reuniões semanais de gestão de crise com partilha de práticas, seja nos Recursos Humanos, Marketing, Comunicação, Public Affairs, entre outros.

A nível global temos um alinhamento em relação a quem somos e qual o nosso papel na defesa dos empregos e da empregabilidade. Consoante os países e as medidas implementadas, desenvolvemos diferentes acções, mas trabalhamos em conjunto com as principais associações no sentido de proteger os direitos dos trabalhadores flexíveis e de encontrar no nosso portefólio soluções que façam sentido para o mercado, neste contexto.

Por isso mesmo, no final de Março, lançámos a nível global um kit digital que não é mais do que soluções digitais que adaptamos para as empresas continuarem a gerir o seu talento e performance. Soluções utilizadas pelos nossos consultores, mas que perante este cenários disponibilizámos e suportámos para que as empresas possam também utilizar.

Em Portugal já fizemos essa adaptação ao nível de recrutamento, selecção, formação/treino, gestão de pessoas e planeamento do futuro. Acreditamos que este portefólio vai ajudar as empresas neste novo contexto em que o remoto é regra, ao mesmo tempo que as prepara para o amanhã.

 

Há algumas “estórias” internacionais que possa partilhar?
As estórias mais duras são mesmo as que falam de pessoas. São estarmos numa videochamada e um dos directores-gerais que está presente está infectado, e um que não está, também está doente. Ou ouvir o nosso colega de Itália a dizer que não se consegue fazer o luto e que toda a gente perdeu alguém… todos perdemos como seres humanos. Mas o que fica é a aprendizagem, e numa dessas reuniões terminámos mesmo a cantar “Bella Ciao”, um momento de união em que ficámos mais próximos do que nunca.

 

Que impactos imediatos já se estão a fazer sentir, nas empresas, em Portugal?
Há uma retracção clara no recrutamento e nos grandes projectos de Gestão de Pessoas. Ao mesmo tempo, há uma redução do trabalho temporário, fruto do fecho de muitas indústrias. Após as primeiras duas semanas sentimos já uma maior procura de oportunidades por parte de candidatos, demonstrando claramente o crescimento das situações de desemprego.

 

Essa retracção acaba por ter impacto na vossa actividade…
Sim, sentimos o impacto de todas as empresas nossas clientes, que tem impacto directo no nosso negócio.

 

Estão já a traçar um plano também para o pós COVID-19?
Sim. Em COVID e pós COVID. Como acelerar e como contribuir, onde podemos ser relevantes e como podemos contribuir para a retoma.

 

Acha que as empresas – e a economia nacional – estão preparadas para o que se segue, depois de ultrapassada a situação de pandemia?
Não sei. Ninguém sabe como vai ser o amanhã. O que sentimos é que todos queremos que o amanhã chegue rápido e que regresse a uma nova normalidade mais parecida com o que tínhamos e não com o que temos. Acredito que aprendemos e que alguns sectores menos afectados vão ajudar a que os mais afectados possam acelerar a sua retoma. Mas, uma vez mais, o que precisamos primeiro é de garantir a saúde das pessoas e as medidas preventivas para que todo o sector industrial e de manufactura possa voltar a trabalhar. E acreditamos que vamos ter um papel a ligar as pessoas com o emprego.

 

Para que riscos há sobretudo de estar atento, no pós Estado de Emergência?
Vamos estar focados no tema da saúde das pessoas. É preciso recuperar a confiança de estar na rua, de estarmos no mesmo espaço, de permitir que as pessoas possam trabalhar sem correr riscos.

 

Que áreas e sectores acha que mais vão sofrer com esta crise? 
O nosso está claramente nessa lista, mas a Indústria de uma forma geral está a sofrer muito com esta crise, assim como os Transportes e o Turismo. E a recuperação neste caso está muito ligada ao aumento da confiança e do consumo privado, que acreditamos vai demorar algum tempo a recuperar. Por isso é que é tão fundamental acelerarmos o amanhã para garantir que contribuímos para esta confiança.

 

No limite, quais as medidas que poderão ter de tomar?
É prematuro falar em medidas específicas. Todas as nossas acções têm em vista a sustentabilidade da empresa.

 

E que podem ter impacto nas pessoas…

Temos vários cenários que temos de ir acompanhando. Não há decisão mais difícil do que pensar em medidas que afectem as pessoas, seja de forma temporária, seja de forma definitiva, e por isso tem de ser visto tudo, olhando para as várias opções, e sempre considerando a sustentabilidade da empresa, para garantir a sobrevivência dos seus trabalhadores.

Estávamos com a taxa de desemprego em mínimos históricos em Portugal. O que prevê que aconteça no pós COVID-19?
Prevemos que o desemprego passe para dois dígitos, mas com uma diferença face à crise de 2012, desta vez não é económica, é mundial, e por isso acreditamos que as empresas se vão preparar para que este seja um período curto no tempo e sem recorrer a mecanismos que aumentem o tempo de duração desta crise. Mas sem dúvida que vamos ter desemprego e empresas que não vão sobreviver, disso não podemos ter dúvidas.

 

Se os números do desemprego efectivamente dispararem, o que será fundamental fazer? Fundamental é reinventar e reagir. Fazer uma navegação consciente e à vista, mas não deixar que este fecho de portas nos impeça de abrir a janela. Há outras oportunidades de negócio, mecanismos que nos podem ajudar a sobreviver e acções para que o amanhã chegue mais rápido e que tudo fique efectivamente bem.

As empresas têm de reagir de forma estratégica e transparente, sem oportunismos, mas procurando oportunidades para ser relevante. E planear, criando cenários, mais do que um, que ajudem a reerguer da crise, reconhecendo que a velocidade será diferente consoante os sectores e compreendendo o que é possível fazer para acelerar esse voltar.

 

Sendo o sector do Turismo um dos mais afectados, e com a relevância que vinha a assumir no PIB nacional, que consequências devemos estar preparados para enfrentar?
O Turismo como um dos sectores mais afectados pela crise vai ser também lento na retoma, pois acredito que vai haver uma desconfiança nas viagens para fora do País. A retoma começará por ser de consumo interno e gradualmente vamos voltar a posicionar-nos. É muito interessante ver que o Turismo de Portugal já está a trabalhar para não ser esquecido, e com relevância, e assim vai ter de continuar, até que a confiança nos países volte e as pessoas se sintam seguras para viajar.

 

Qual a sua opinião sobre a forma como a situação está a ser gerida em Portugal, a nível global? Mais do que criticar as opções políticas, o mais importante é destacar como os nossos políticos conseguiram deixar politiquices e se focaram em resolver e implementar medidas. Acho que esta tem de ser uma fase de união e confiança. A guerra está depois da nossa porta e não dentro de nossa casa. Teremos tempo para ponderar se foram as melhores ou se não existiam outras, agora é mesmo tempo de achatar a curva e de proteger as pessoas e empregos. Este tem de ser o nosso foco.

 

Sobre os apoios divulgados até agora, o que destacaria, quer em relação às empresas, quer aos trabalhadores?
As medidas apresentadas são uma solução para muitas empresas, mas estão pouco ou nada adaptadas a regimes flexíveis de contratação, o que coloca numa situação muito complicada os trabalhadores temporários e as empresas que prestam este serviço. Esta ausência de protecção neste contexto não é positiva e devia ser revista, para garantir que, depois, estas mesmas empresas e trabalhadores estão prontos para contribuir para a retoma.

 

O que acha que ainda está por fazer e que urge assegurar?
Por fazer muito, mas o mais urgente é mesmo garantir que conseguimos controlar o vírus e aumentar o número de testes para que as pessoas possam voltar  gradualmente e com segurança aos seus trabalhos. Realizar testes de despistagem e ao mesmo tempo compreender se já há imunidade de grupo para que consigamos acelerar a nossa nova normalidade.

 

Enquanto líder, o que considera que é mais importante na gestão de uma crise desta natureza?  Liderança é mesmo o mais importante, e liderança autêntica, genuína. Estamos todos a passar por este momento, precisamos de ser transparentes, de falar e de ouvir, de compreender e de estar li- gados. A gestão emocional de cada pessoa é diferente, e mesmo à distância é preciso gerir e acompanhar, a exigência é maior, em todos os momentos, seja nas más notícias seja na gestão diária.

 

Que “lições” acredita que se vão poder retirar daqui?
Somos muito mais humanos do que pensávamos. E ser humano é precisarmos uns dos outros, é ajudarmo-nos uns aos outros e sermos mais fortes como um todo. Aprendemos que a tecnologia não nos vai substituir, só nos vai ajudar a ser mais humanos. E sem dúvida que tudo o que demos por garantido agora não temos a certeza de que é para sempre, por isso vamos dar também outro valor ao que nos rodeia.

 

Em termos de novas formas de trabalho, acha que vai trazer mudanças significativas? Quais? Sim, vamos deixar-nos de exageros. Antes desejávamos ser todos remotos sem saber do que falávamos. Enquanto empresas complicávamos essas transições e adiávamos investimentos e processos. Hoje percebemos que não queremos to- dos fazer teletrabalho, sabemos o que nos faz falta e onde e como produzimos mais remotamente. Percebemos também que
os obstáculos para colocar em teletrabalho eram nossos e não de tecnologia e por isso conseguimos passar mais de 60 mil pessoas para trabalho remoto em contact center. Amanhã acho que vamos equilibrar. Reconhecer em que situações a distância aproxima e melhora a qualidade de vida e em que alturas o espaço de trabalho é uma fonte de partilha, criatividade e inovação.

 

Algum conselho que queira deixar, às empresas, às pessoas e, eventualmente, às entidades governativas?
#EstamosAqui para o governo. Somos o terceiro maior empregador privado nacional e queremos ajudar para que a retoma seja mais rápida no nosso país. Às empresas, queremos dizer que #EstamosAqui para as ajudar a gerir pessoas, hoje e amanhã, e às pessoas queremos reforçar que #EstamosAqui para encontrar emprego, para as ajudar na sua carreira, para as acompanhar num período que sabemos que não é fácil, mas que vamos superar.

 

O que acha que se segue, para as empresas, para o País e para o mundo? 
O que se segue é amanhã. Tem de ser aprendizagem, tem de ser equilíbrio entre tecnologia e humanidade, tem de ser prioridades e a garantia de que vai ser melhor. E amanhã, para que seja mesmo tudo melhor, só há um culpado e esse culpado somos nós.

 

Este artigo foi publicado na edição de Abril da Human Resources.

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