Pandemia provoca perda de 345 milhões de empregos no terceiro trimestre do ano

Quase todos (94%) dos trabalhadores, a nível mundial, residem em países com algum grau de medidas de encerramento de locais de trabalho em vigor. Assim sendo, OIT reviu em alta o número de horas de trabalho perdidas, a nível global, durante os primeiros três trimestres de 2020, reflectindo assim um impacto mais severo da pandemia no mercado laboral. Os dados são do relatório de análise do mercado laboral, a nível mundial, no âmbito da COVID-19 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

O relatório da OIT estima uma queda de 5,6% no número de horas de trabalho, a nível global, no primeiro trimestre de 2020 (versus 5,4% de estimativa anterior) face ao quarto trimestre de 2019, equivalente a 160 milhões de empregos a tempo inteiro (assumindo uma semana de trabalho de 48 horas).

No que se refere ao segundo trimestre de 2020, a OIT também reviu em alta a sua estimativa de queda no número de horas trabalhadas face ao quarto trimestre de 2019, de 14,0% para 17,3%, equivalente a 495 milhões de empregos a tempo inteiro.

O continente americano, como um todo, deverá ter registado uma descida de 28,0%, sobretudo devido às quedas de 33,5% e 35,8% na América do Sul e América Central, com a América do Norte, incluindo Canadá e Estados Unidos, a registar descida de 18,4%. O bloco Europa e Ásia Central deverá ter registado uma queda de 17,5%, versus a estimativa anterior de 13,9%, equivalente a 55 milhões de empregos a tempo inteiro.

A Organização Internacional do Trabalho estima que, no terceiro trimestre deste ano, tenha havido uma queda de 12,1% nas horas trabalhadas, a nível global, face ao quarto trimestre de 2019, equivalente a 345 milhões de empregos a tempo inteiro. Embora represente uma melhoria face à estimativa de recuo de 17,3%, no segundo trimestre, ainda assim espelha uma descida considerável, mostrando que a recuperação do emprego continua a ser dificultada pelo actual contexto da COVID-19.

Em relação ao quarto trimestre de 2020, a OIT também actualizou as suas projecções, delineando três cenários: i) cenário base, que aponta para uma perda de 8,6% no número de horas trabalhadas, equivalente a 245 milhões de empregos a tempo inteiro, ii) cenário pessimista, que aponta para uma queda de 18,0%, equivalente a 515 milhões de empregos a tempo inteiro e iii) cenário optimista, que aponta para uma queda de 5,7%, equivalente a 160 milhões de empregos a tempo inteiro.

No segundo trimestre de 2020, a perda de emprego deveu-se a uma maior proporção da inactividade do que ao desemprego. As medidas de apoio ao emprego por parte dos governos provocaram ausências de trabalho, ao invés de despedimentos, e por outro lado os indivíduos não puderam procurar emprego ou não estavam disponíveis para trabalhar devido ao confinamento imposto. A OIT alerta que a experiência de anteriores crises parece indicar que a reintegração dos inativos no mercado laboral é ainda mais difícil do que no caso dos desempregados e, como tal, uma eventual recuperação adivinha-se complicada.

As reduções no número de horas trabalhadas traduzem-se em perdas substanciais de rendimento para os trabalhadores a nível mundial. A OIT estima que o rendimento do trabalho, a nível mundial, terá diminuído 10,7%, nos primeiros três trimestres de 2020 face ao período homólogo. Em valor, essa perda terá ascendido a 3,5 biliões de dólares, equivalente a 5,5% do PIB global, nos primeiros três trimestres de 2019.

Em resposta à crise COVID-19, os governos lançaram programas de estímulo fiscal numa escala sem precedente, sobretudo nos países de elevado rendimento per capita. Os últimos dados da Oxford Covid-19 Government Response Tracker database, de 2 de setembro, indicam que o valor total de pacotes de estímulo fiscal, a nível global, igualou 9,6 biliões de dólares, cerca de 11% do PIB mundial, em 2019.

A OIT calcula que, em média, um aumento de estímulo fiscal em 1% do PIB anual reduziria as perdas nas horas trabalhadas em 0,8 pontos percentuais no segundo trimestre de 2020. Assim sendo, a redução estimada de horas de trabalho no segundo trimestre do ano teria sido de 28% caso não tivesse havido estímulos económicos, ao invés da estimativa de 17,3% avançada pela OIT e já referida acima.

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