Desafios, oportunidades e tendências para 2021: do talento ao digital, passando pela sustentabilidade

“Conhecer os desafios ajuda a encontrar o caminho?” é o título do mais recente estudo da EY. Organizado em seis grandes áreas – Crescimento, Sustentabilidade, Talento, Digital, Consumidor e Estado – este estudo contém  análises aos principais desafios, oportunidades e tendências do próximo ano.

 

De todos os desafios apontados no estudo «emerge uma tendência cada vez mais segura e que a EY já defendia antes da pandemia: fenómenos globais como as alterações climáticas e uma postura mais atenta das novas gerações estão a traduzir-se numa reorientação das prioridades dos investidores, tornando cada vez mais importante a adopção de estratégias de criação de valor a longo prazo, que atendem às necessidades de todos os stakeholders: accionistas, colaboradores, clientes e a sociedade em geral», adianta a João Alves, Country managing partner da EY Portugal.

 

1. Crescimento
Nesta análise para 2021, a EY prevê que as intenções e os planos de investimento, serão fortemente influenciados pela rapidez na adopção de tecnologia, pelo foco nas alterações climáticas e na sustentabilidade, e pela reconfiguração das cadeias de distribuição.

As operações de fusões e aquisições (M&A) irão continuar a crescer em Portugal, em volume e em valor, com investidores internacionais e portugueses a procurarem oportunidades interessantes para criar ou reforçar o seu posicionamento no mercado.

Neste ano que revelou ser uma prova de fogo para a economia e os empresários, a análise da EY conclui que as empresas que se adaptaram e deram provas de resiliência serão as mais capazes de atrair o investimento de private equity, que, por seu turno, priorizará: a tecnologia, o talento, a responsabilidade social (64% das sociedades gestoras de private equity possuem actualmente uma política de responsabilidade social) e as soluções de investimento tailor made.

No que ao tema das moratórias diz respeito, e «atendendo a que o fim da moratória legal não coincidirá com o fim da crise económica, é expectável que as restrições de liquidez enfrentadas pelas empresas sofram novo agravamento e assim não consigam fazer face ao seu serviço de dívida», lê-se no estudo da consultora.

Em paralelo, foram e continuam a ser disponibilizadas linhas de crédito de apoio à tesouraria e à retoma económica, com garantia do Estado. «No entanto, face à escalada do número de casos, decorrente da segunda vaga da pandemia, é expectável uma quebra económica assaz mais vigorosa, e de um impacto ainda mais negativo no desempenho das empresas, em geral, e de alguns sectores em particular, como sejam, por exemplo, o do Turismo e o do Retalho», está também referido no estudo.

Especificamente no sector segurador, a EY antecipa, por exemplo, que a nova era do seguro de vida seja bastante diferente. Será necessário que as seguradoras desenvolvam produtos e serviços mais acessíveis, digitais, simples e que apresentem soluções integradas e adaptáveis às necessidades especificas de cada cliente.

Já no imobiliário o interesse mercado português irá manter-se a médio e longo prazo, antevê a EY, mas «com muitos projectos em pipeline concebidos para uma realidade distinta da que se irá viver após 2021, é de prever que se assista a uma redefinição e alinhamento de estratégias e dos projectos com a nova realidade», lê-se no relatório.

 

2. Sustentabilidade
Conhecer os desafios para ajudar a encontrar o caminho significa também refletir e analisar o que acontecerá no próximo ano em termos de sustentabilidade.

«A pandemia COVID-19 veio evidenciar as ligações de interdependência entre a biodiversidade, as alterações climáticas, a sustentabilidade, o bem-estar individual, a saúde pública e a economia, de tal forma que temos vindo a repensar os nossos comportamentos enquanto indivíduos e membros de uma sociedade global», consta no documento da consultora. É o chamado Eco-Living. Cerca de 29% dos consumidores confirmam a intenção de serem mais conscientes sobre as suas ações e o impacto que elas têm no mundo.

«Este despertar de consciência estende-se à forma como comemos, como nos vestimos, trabalhamos, viajamos ou nos mantemos saudáveis. 2021 transformará aquilo que é hoje uma necessidade – a procura pelo bem-estar – num estilo de vida mainstream», conclui o estudo.

A pandemia provocou também mudanças nas expectativas dos colaboradores, que esperam um maior compromisso por parte dos empregadores – horas de trabalho mais flexíveis, licença remunerada, instalações seguras, formação ou apoio à saúde mental.

Do outro lado da equação, as empresas que definam uma agenda para um crescimento resiliente face às alterações climáticas serão vistas com uma perspectiva mais atractiva em termos da sua capacidade de, no longo prazo, resistir a choques sistémicos. Neste caso, a pandemia, em vez de desviar a atenção da necessidade de promover um futuro sustentável, veio reforçar esse imperativo.

Também no sector financeiro, cujo maior desafio é a rentabilidade, a sustentabilidade, alicerçada no digital, é a oportunidade para alterar o paradigma do modelo de negócio e focar na criação de valor de longo prazo, já que os dados estão na base de quase todas as actividades financeiras sustentáveis e, em particular, na base das decisões, da gestão e da divulgação de informação. De acordo com o estudo da EY, «a nova realidade será composta por players diferentes, por aqueles que forem capazes de redefinir e transformar o modelo de negócio e de posicionar-se na vanguarda do desenvolvimento tecnológico.»

A um nível global, os desafios que o país enfrenta para garantir que possui os recursos humanos necessários para suportar a transição para uma economia neutra em carbono até 2050 são de grande dimensão. Exigem um investimento substancial e estão relacionados, sobretudo, com os setores já em transição como os da energia, da indústria e da construção, setores primário e terciário.

A análise da EY aponta várias necessidades. O sector da energia é aquele que enfrenta maiores transformações, pois precisa de abandonar não só os recursos fósseis, mas também a maioria dos processos e infraestruturas associados a este modo de produção de energia. A transição para energias renováveis como a solar, a eólica e o hidrogénio requer a requalificação dos trabalhadores de todo o ecossistema deste sector, garantindo que ninguém fica para trás.

Já a indústria precisa de trabalho especializado e qualificado para suportar a transição para tecnologias mais eficientes e desenvolvimento de modos de produção inovadores. É preciso capacitar o setor da construção para fazer face ao problema urgente da reabilitação de edifícios, melhorando a sua eficiência energética. É preciso investir na renovação e qualificação do emprego no setor primário. A agricultura, a floresta e a aquacultura (na produção de algas) representam atividades importantes para a neutralidade carbónica pelo seu potencial de captura de carbono.

Mas são as energias renováveis que têm estado no centro do palco do combate ao efeito das alterações climáticas. O confinamento que resultou da COVID-19 permitiu, de certa forma, antecipar o futuro, no que à contribuição das energias renováveis para a matriz energética diz respeito. A menor procura por eletricidade, aliada ao acesso prioritário à rede deste tipo de fonte, levou à sua maior preponderância em diversas geografias. Durante o período generalizado de confinamento, a contribuição das renováveis ultrapassou 50% da geração total no continente europeu.

O Plano Preliminar de Recuperação e Resiliência (PRR), apresentado à Comissão Europeia em Outubro, surge com o objectivo de controlar a pandemia, recuperar da crise social e económica daí resultante e fazê-lo de forma alinhada aos objectivos estratégicos de resiliência, sustentabilidade, coesão e prosperidade, assim como ao objectivo da neutralidade carbónica para 2050. Como avalia o estudo da EY, a oportunidade apresenta-se em forma de projectos, sendo que serão elegíveis aqueles que se enquadrem nas dimensões estruturantes do Plano, exequíveis até 2026, sem recurso ao endividamento, com efeito conjuntural e estrutural e executáveis em parceria com autarquias, empresas e academia.

 

3. Talento
O contexto pandémico veio também alterar a forma como os portugueses trabalham. Os níveis de stress, a solidão e a perda de qualidade foram acentuados de forma generalizada. Como resposta a este problema, as empresas procuram criar programas de bem-estar que façam frente a este declínio, adquirir competências digitais, ser mais flexíveis.

Segundo um estudo da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), elaborado pela EY, do universo das empresas que podiam optar por implementar políticas de trabalho remoto, 92% escolheu fazê-lo e, dessas empresas, 52% equaciona manter o teletrabalho de forma permanente. «Podemos concluir que, desde que possível, o trabalho remoto veio para ficar», lê-se no estudo da consultora. Num contexto em que o trabalho é muitas vezes realizado sem a presença física, será cada vez mais relevante uma cultura centrada nas pessoas, alicerçada num propósito comum.

 

4. Digital
A crise pandémica que estamos a viver contribuiu de forma determinante para que a cibersegurança se tornasse um tema prioritário na agenda dos líderes da sociedade portuguesa.

A nível transversal assistiu-se a uma forte aceleração do processo transformativo digital, com o trabalho remoto a ser fortemente potenciado e generalizado, e os incidentes de phishing, bem como outras ameaças cibernéticas, a registaram aumentos muito significativos face a períodos anteriores.

A maioria dos responsáveis pela cibersegurança nas empresas espera que estes acontecimentos tenham reflexos nos seus orçamentos, com cerca de metade a considerar que o investimento irá aumentar ou, no pior dos cenários, permanecerá o mesmo. A expectativa é que a sua função se torne ainda mais relevante nas organizações, com um maior enfoque na cibersegurança ao nível executivo.

A este nível digital, o sector segurador é um dos que enfrenta grandes desafios, fruto do impacto da pandemia COVID-19 nos resultados da generalidade dos ramos, mas também devido a problemas já antigos ao nível da digitalização, tecnologia, eficiência e relação com o cliente.

É neste contexto que muitas seguradoras estão a investir na criação e exploração de ecossistemas, capazes de trazer novas fontes de receita, inovação e experiências aos seus clientes. De acordo com a publicação da EY, «os ecossistemas são uma realidade cuja expansão deverá continuar. Têm provado ser capazes de impulsionar a inovação em escala no setor segurador, para além de ajudarem as seguradoras a superar desafios».

 

5. Consumidor
A situação em que a sociedade e a economia operam foi permanentemente alterada pela COVID-19. Passou a definir-se por interações sem toque, medidas de saúde e segurança sanitária, novos comportamentos humanos e mudanças permanentes no mercado. O que dará origem a novos segmentos de clientes, para os quais as empresas têm de olhar com atenção, para poderem vencer e ter sucesso no mercado.

O consumo em casa vai manter níveis elevados por um extenso período, sendo que 74% dos consumidores portugueses serão mais conscientes e cautelosos com os seus gastos.

O consumidor da economia sem contacto (“touchless”, através da tecnologia e da inovação de serviços) define o novo normal. Este novo consumidor adoptará tendencialmente, em 2021, os seguintes comportamentos de consumo: compras rápidas e sem contacto (34% dos consumidores portugueses farão mais compras online de produtos que antes compravam em lojas físicas), vida consciente em casa (74% serão mais conscientes e cautelosos com os seus gastos), experiências em lojas sem contacto (26% vão fazer pedidos online e recolhê-los em loja com mais frequência) e vida experiencial em casa (27% irão gastar mais em experiências no longo prazo).

As transacções sem contacto são a tendência de pagamentos mais significativa a emergir com a COVID-19, com 56% dos consumidores portugueses a dizerem que usarão menos dinheiro físico depois da pandemia. Esta mudança de comportamentos é para permanecer, já que 50% dos consumidores acreditam que a forma como compram se alterou e permanecerá no futuro.

 

6. Estado
Esta análise da EY para 2021 revela que a crise pandémica que atravessamos está a colocar uma enorme pressão sobre todo o sistema de saúde e em particular sobre o SNS.

«É necessário repensar o modelo de financiamento de um sistema que já se encontra sobre grande pressão, sentida em particular de forma excessiva pelos agregados familiares, sendo possível e desejável encontrar soluções, a partir da experiência de outros países, que se enquadre na realidade nacional. É também necessário refletir no aprofundamento da colaboração e coordenação entre todos os prestadores de saúde, públicos e privados, definindo uma estratégia nacional, com regras claras, optimizando a capacidade instalada e capacitar o sistema para melhor responder no futuro a situações como a da actual pandemia», conclui o estudo da consultora.

Ainda de acordo com o documento da EY, e depois de um 2020 inesperadamente dramático, «o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), com financiamento comunitário, é a principal resposta pública aos impactos mais visíveis da crise, tendo também uma preocupação de fundo de que os investimentos a realizar, nomeadamente em matéria de transição climática e de transição digital, deixem a economia e as empresas melhor preparadas para o futuro e mais competitivas». Os grandes desafios deste PPR, todavia, são o curto prazo de implementação a pressão para obter resultados no curto prazo, identifica a EY.

Em relação ao Orçamento do Estado para 2021, «afastado que foi (para já) o cenário de uma crise política potencialmente resultante do chumbo do OE2021, o Governo continua a ter pela frente um contexto económico complexo e extremamente desafiante», lê-se no estudo da consultora.

E mais: «A conclusão legítima que se pode retirar é que o OE2021 é muito mais focado na área das famílias (com algumas medidas importantes ao nível dos apoios sociais) do que nas empresas. No entanto, é igualmente legítimo entender que o contexto em que o OE2021 é apresentado é tudo menos linear e por isso pode-se admitir que o OE2021 não seja suficiente para responder aos desafios da crise, pois o Estado tem recursos escassos e limitados para gerir».

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