‘Bora Jovens junta a Coca-Cola à Ajuda em Ação para promover a empregabilidade de jovens em risco de exclusão social
A Ajuda em Ação, através do projecto de empregabilidade ‘Bora Jovens, realizado em parceria com a Coca-Cola, quer mudar a vida de 70 jovens de Portugal para melhor numa altura em que assistimos ao aumento dos números de desemprego como consequência do arrastar da pandemia. Em entrevista à Human Resources, Mário Santos, director de Programas da Ajuda em Ação explicou os objectivos deste projecto.
Por Sandra M. Pinto
Simultaneamente, a ONG decidiu também concentrar forças no apoio às comunidades em risco de exclusão, onde a realidade do desemprego jovem é ainda mais preocupante.
O que é e quando nasceu a Ajuda em Ação?
Somos uma ONG internacional apartidária e sem qualquer filiação religiosa que luta contra a pobreza e a desigualdade.
Promovemos a dignidade e a solidariedade para a construção de um mundo justo.
Promovemos a solidariedade das pessoas num mundo global para ajudar as crianças, as suas famílias e as populações que sofrem com a pobreza, exclusão e desigualdade a desenvolverem as suas capacidades e alcançarem as suas aspirações de uma vida digna, de modo sustentável. Contamos com 40 anos de história (fundados em 1981) e temos a nossa sede em Espanha.
Marcam presença noutros países? Quais?
Hoje trabalhamos em 21 países da América Latina, Ásia, África (incluindo Moçambique) e Europa (Espanha e Portugal).
Têm noção do número total de quantas pessoas apoiam?
Apoiamos cerca de 880 mil pessoas em todo o mundo.
Desde quando estão em Portugal?
Temos estrutura e equipa em Portugal desde final de 2019. No entanto, promovemos projectos de educação digital e igualdade de género em parceria com a Fundação SIC Esperança, desde 2017, com o apoio da Google.
Porque escolheram trabalhar em Portugal?
A Ajuda em Ação trabalha em Moçambique há 24 anos. Por este motivo e pela proximidade e relação com Espanha, tornou-se pertinente estender as respostas sociais e presença no nosso país.
De que forma se desenvolve a vossa missão no nosso país?
Sabemos que a pobreza e a desigualdade se herdam e por isso vamos actuar junto dos públicos mais vulneráveis do país para romper a transmissão intergeracional da pobreza, com projectos realizados em parceria com organizações locais que também conhecem e actuam no território nacional.
Em Portugal, desenvolvemos projectos educativos e de empoderamento feminino desde início de 2020, em Camarate (Loures), um bairro com elevado índice de pobreza e exclusão social, trabalhando em conjunto com parceiros locais. Em 2020, os nossos projetos tinham impacto em 1200 pessoas, principalmente alunos do Agrupamento Escolar Camarate, nas áreas de equidade educacional, combatendo o abandono escolar com diversos parceiros locais experientes e comprometidos.
Em 2020, iniciámos cursos de costura, ainda a decorrer, para mães de diferentes etnias, a fim de fornecer ferramentas para a empregabilidade e promover a coesão social.
Iniciámos o ano de 2021, com o projecto de promoção da empregabilidade de jovens em risco de exclusão social.
Com a chegada da COVID-19 redirecionámos os nossos projetos para duas fases de resposta de emergência, em 2020 e 2021, apoiando 443 pessoas (249 crianças) de 123 famílias em Camarate, através de um importante trabalho em rede com parceiros locais e a entrega de cartões de compra de alimentos.
Dessas três áreas qual a que tem tido um maior enfoque?
Na execução de um projecto de combate à pobreza e exclusão social é necessária uma atenção dedicada às diferentes dimensões que permanecem em comunidades, grupos sociais ou regiões e que vão dificultando o movimento de saída das pessoas de um ciclo que as mantém sujeitas (reféns) a uma vulnerabilidade social e dependência do sistema. Se temos uma linha de intervenção pela equidade educativa com actividades em contexto escolar que promovem a frequência e permanência na escola de alunos que estão em risco de abandono e com elevado absentismo, sabíamos que, durante o confinamento as famílias necessitariam de apoio para a aquisição de alimentos. Se é uma verdade que uma criança com fome não aprende, também é verdade que uma família com fome coloca todo o ecossistema daquele agregado em risco. Portanto a intervenção tem que ser flexível, rápida, ajustada às necessidades e com intencionalidade e nunca de forma isolada, dai a importância dos parceiros.
Podemos observar outro exemplo que é o que acontece com o projecto da promoção da empregabilidade quando observamos que a escolaridade dos participantes está perto do 9º ano ao mesmo tempo que promovemos a sua entrada no mercado de trabalho vamos informando que se tiver mais formação e mais escolaridade as duas dimensões podem coexistir e “alimentar”, de forma muito significativa o seu futuro.
Não temos uma dimensão à qual damos mais atenção, temos é períodos de tempo em que nos dedicamos mais a um tema para que não fique em desequilíbrio relativamente às outras intervenções.
Ao nível da empregabilidade jovem a que necessidades tentam dar resposta?
Em primeiro lugar, à integração no mercado de trabalho. Os jovens que estão integrados neste projecto querem trabalhar, mas ganham consciência que o trabalho é um valor muito importante pela representatividade que passam a ter no meio social que frequentam. Ao longo do processo formativo, deixam de estar desocupados para passarem a ter um trabalho, a ser alguém com responsabilidade, histórias para contar que o diferenciam do contexto onde, até ao momento, estavam evolvidos e este movimento é muito revelador do potencial que têm e desconheciam. Os jovens passam a ser vistos de forma diferente e a querer também um percurso diferente, iniciando-se um movimento pela integração, quando, perante as necessidades de descobrir o potencial de cada um, a nossa equipa e o processo formativo são um veículo para essa descoberta. Começam a comunicar melhor, a sentir-se mais confiantes, a apresentar-se de forma adequada a um contexto de trabalho, a reconhecer que a sua opinião tem validade, com maior consciência dos valores sociais como um mecanismo de regulação entre pares.
Implementam agora o projecto social “Bora Jovens” – Empregabilidade Jovem, com o apoio da Coca-Cola. Em que consiste?
A Ajuda em Ação iniciou a implementação o projecto social da Coca-Cola com o nome de “’BORA JOVENS” em Portugal, em dezembro de 2020. Com a duração inicial de 6 meses, estivemos a trabalhar com um grupo de 70 jovens dos 17 aos 23 anos, que têm menos oportunidades e estão em risco de exclusão social e educativa. O projecto decorre atualmente com jovens de Lisboa, Loures, Almada, Porto e Setúbal.
Quais os seus objectivos?
O objectivo é que, após a formação, treino de competências e acompanhamento previstos no projecto, os jovens consigam mudar as suas vidas por dominarem as ferramentas de empregabilidade com mais facilidade, rapidez e flexibilidade conseguindo a integração de 32 participantes em contexto de trabalho. Se conseguirmos atingir este número manteremos a nossa ambição, porque queremos formar 70 participantes.
A que população se dirige este projecto?
Jovens entre 17 e 23 anos em situação social de grande vulnerabilidade.
De que forma se implementa este projecto e qual a sua duração?
O acompanhamento aos jovens é garantido por uma equipa de técnicos e dividido em duas fases: FASE 1: CONHECER e FASE 2: CONHECE-TE, sendo que os jovens desempenham um papel de autoria na construção do seu percurso para a empregabilidade para uma maior motivação inicial na procura activa de emprego durante todo o processo.
A primeira fase “Conhecer”, inclui 14 sessões de acompanhamento em grupos de 5 a 7 participantes que abordam três diferentes temas:
· Saber-Saber: Competências Pessoais e Sociais (se sei quem sou, posso tornar-me melhor)
· Saber Fazer: Competências técnicas (se aplicar o que sei, consigo mais oportunidades)
A segunda fase “Conhece-te” inclui 6 sessões de acompanhamento individual. Após estas duas fases focamo-nos no “Fazer acontecer” onde pretendemos criar competências para a procura de emprego, tornando reais as suas oportunidades para integração laboral. O impacto e avaliação de resultados serão garantidos em diferentes momentos. A primeira fase do projecto teve duração de 6 meses, sendo agora prolongado, dado o sucesso do mesmo.
De que forma está a Coca‑Cola comprometida e envolvida no projeto?
A equipa da Coca-Cola acompanha a implementação do projecto com muita proximidade. Para além de ser o impulsionador do ‘Bora Jovens, é agora também uma das respostas à integração dos participantes, com a possibilidade de colocação dos jovens na fábrica em Azeitão. Da Coca-Cola, temos não só o financiamento necessário para o projeto, mas a sensibilidade, compromisso e o know-how empresarial que reforçam os princípios da intervenção com a promoção da empregabilidade jovem.
É este projecto para continuar?
Depois do sucesso dos primeiros 6 meses, da pertinência desta problemática em contexto de pandemia e da procura de jovens, a Ajuda em Ação e a Coca-Cola decidiram prolongar o projecto até final do ano, dando oportunidade a mais jovens de integrarem esta resposta. O projeto está a revelar-se uma mais-valia para as intervenções que estão já a ser executadas por outras entidades com a população juvenil. Até este momento a avaliação da nossa intervenção tem sido muito positiva, não só por estarmos a conseguir integrar os jovens no mercado de trabalho mas sobretudo por existir uma mudança visível e significativa na forma como passaram a ter no trabalho um valor social de maior impacto para as suas vidas, que não existia antes. Existindo financiamento o projecto mantém-se porque é prioritário chegarmos a outros territórios como as cidades do interior e o Algarve.
Qual a importância de projectos de empregabilidade jovem junto de populações em risco?
Um trabalhador tem uma representatividade diferente no contexto social. A desocupação ou o não estar a trabalhar é muito angustiante mesmo que, para quem está nesta situação, não o admita. É sempre negativo. Um jovem que está desocupado e procura trabalho é um cidadão que não está a participar de forma plena na construção da sua comunidade, não goza da mesma liberdade em decidir, comparativamente com outros jovens com uma situação financeira e familiar mais estáveis. Fica preso à sua circunstância e ao seu território, sendo preciso uma aposta séria e de âmbito nacional perante esta problemática. Um jovem em risco é um problema de todos porque é alguém que não vai conseguir exercer os seus direitos e o seu potencial no futuro da sua comunidade. Agir sobre este problema é preparar melhor o futuro de cada um de nós.
Rui Serpa, VP & Portugal Country Director Coca-Cola Europacific Partners
Na Coca-Cola acreditamos que podemos e devemos fazer a diferença na vida das pessoas. Faz parte da nossa responsabilidade social, não só sermos uma empresa íntegra em todos os aspetos da nossa operação, mas também o contribuirmos para uma comunidade local solidária, igualitária, com oportunidades para todos.
Para isto é preciso estar no terreno, junto das pessoas e das comunidades, com ações concretas, que façam a diferença na sua vida, criando programas de intervenção como o ‘Bora Jovens. Os efeitos sociais e económicos desta pandemia são devastadores, para todos em geral e para os jovens em particular pelas portas que já não eram muitas e que se fecharam. Para jovens que já viviam em contextos menos favoráveis, com menos oportunidades, estes efeitos tendem ainda a ter uma maior dimensão.
Com o ‘Bora Jovens, cada jovem que participa ganha ferramentas e oportunidades que de outra forma poderia nunca as ter. Por cada jovem que participa são muitas as vidas e muitos percursos que são tocados, muitos exemplos que são dados. São famílias que ganham o potencial de serem dotadas de um recurso essencial – o emprego.
Paula Lobinho, responsável da área de Diversidade e Inclusão e Parcerias Institucionais do El Corte Inglés
Enquanto Entidade Empregadora Inclusiva, distinguida também com o Selo da Diversidade, é para o El Corte Inglés um dever estar associado a projetos como este – ‘Bora Jovens -, no combate à pobreza e exclusão social.
Temos a certeza que conseguiremos proporcionar aos jovens que estão connosco uma verdadeira formação profissional e consequente integração no mercado de trabalho.