Saberes do Futuro

Por João Nuno Bogalho, Gestor de Pessoas. Coordenador de pós-graduações no Instituto Piaget

 

A Humanidade e o Futuro é uma das Unidades Curriculares que lecionei este ano no instituto Piaget de Almada.

Toda ela um desafio, nos novos Paradigmas da Humanidade, todas as suas Dinâmicas de Futuro, e os Novos Contratos da Humanidade.

Um dos temas que abordámos assenta na discussão à volta de quais os “Saberes Chave Para a Educação do Futuro”. Isto de uma forma genérica na Humanidade, numa perspetiva globalizante da Educação para as Futuras Gerações.

Desde os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU na sua Agenda 2030, até que Competências ensinar no Sistema Escolar (António Dias de Figueiredo, 2017), juntando as 12 Competências Chave para um Desenvolvimento Sustentável da Humanidade (Rieckmann, 2012), e ainda os 7 Saberes-Chave para a Educação do Futuro (Edgar Morin, 2000), entre outras abordagens. É por demais evidente a necessidade de re-equacionar os conteúdos do que consideramos ser os conhecimentos mais importantes a garantir nas futuras gerações. Mas também a forma e as metodologias utilizadas nesse mesmo processo de ensino e educação. Isto é verdade na dimensão humana e social do ser humano e na sua relação com os outros e a humanidade, mas também na sua relação com o próprio planeta.

Ainda era eu estudante universitário, já se discutia e encarava o tema do gap existente entre a Universidade e a Empresa. Era já claro, no final da década de 80, que havia uma diferença grande entre o que se ensinava nas escolas e no meio académico, e o que depois o mercado de trabalho solicitava e valorizava de facto, quando começavamos a trabalhar nas empresas. Vivia eu a experiência universal de trabalhar na AIESEC e esta necessidade de aproximar empresas e estudantes era já um dos nossos pilares de atuação. Mas, já nesta associação internacional de estudantes, tínhamos clara a necessidade de entender as diferentes culturas do mundo, e os seus distintos valores, crenças e religiões, sistemas políticos e organizacionais. Era para nós claro que só entendendo o pluralismo cultural, e as diferenças, conseguíamos conviver e trabalhar em harmonia em mais de 100 países.

Por um lado entendo que as universidades deram um salto enorme ao aproximar os conhecimentos transmitidos aos seus alunos, da realidade esperada e desejada pelos distintos mercados, indústrias e áreas de conhecimento. E hoje este gap nalgumas áreas do conhecimento tem sido bastante mitigado. Também porque os alunos entenderam (e as próprias instituições de ensino) que há necessidade de se aproximarem e cruzarem experiências ao longo da vida académica.

Mas a verdade é que o mundo e as necessidades das organizações avançam muito mais depressa do que a capacidade de estruturar conhecimento, afinar programas curriculares, e transmiti-los aos alunos.

Mas, hoje o conhecimento e a informação estão disponíveis de forma incomparavelmente mais fácil e universal e democrática. A tecnologia, também ela, está disponível para grande parte das pessoas, permitindo-lhe aceder, consultar, integrar e aplicar muito do conhecimento que há bem pouco só estava acessível a muito poucos.

Mas, na verdade, continuamos a ouvir, ler, e muitas vezes a sentir, que o tal gap continua lá.

E continuará.

Enquanto olharmos para o futuro das gerações com base no que é o conhecimento assente e “aprovado” hoje, o futuro que antecipamos hoje, terá muito pouca relação com o futuro que verão à entrada para as Universidades, os alunos que começam o percurso escolar no próximo ano lectivo.

E é este o gap que crescerá cada vez mais aceleradamente, até que tenhamos, enquanto Humanidade, Sociedade e – também – País, a capacidade de pensar de forma estratégica a longo prazo. E saber distinguir o que são competências estruturantes, na vida e no trabalho, do que são conhecimentos importantes em determinados ambientes e momentos.

Talvez seja hora de olhar para temas como Ambiguidade e Tolerância à Frustração, ou Empatia e Mudança de Perspectiva, Cooperação em Heterogeneidade, Pensamento Crítico e Antecipação, Justiça, Ética e Ecologia. Ou porque não, Aprender a Aprender, ou Capacidade Empreendedora, Assumir Riscos e suas Consequências. Terminando talvez com a capacidade de discernir Informação de Conhecimento, e a capacidade de análise crítica construtiva sobre o próprio conhecimento.

Quer a Humanidade como um todo, em todas as suas dimensões, quer as Empresas em particular, muito agradeceriam estas novas competências.

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