Sonae MC: A desigualdade de género é um tema real
Na Sonae MC a Igualdade de Género é uma das dimensões da estratégia de Diversidade e Inclusão, a par com outras áreas como Incapacidades, Gerações, LGBTQIA+ e Nacionalidade.
“It’s an old recipe with a new flavour”: é assim que a Sonae MC descreve a sua estratégia de Diversidade e Inclusão, onde se inclui a dimensão da Igualdade de Género. Para Catarina Oliveira Fernandes, Area Leader de Learning, Development and Inclusion da Sonae MC, este é um tema cada vez mais relevante, principalmente numa altura em que a pandemia agravou as desigualdades, e a sua importância estende-se à dimensão do próprio negócio.
Qual a estratégia definida pela Sonae MC para a promoção da Igualdade de Género?
A definição da estratégia da Diversidade e Inclusão começou pela escolha das dimensões de Diversidade que queríamos endereçar. Existem muitas dimensões diferentes, sendo que para nós fez mais sentido focarmo-nos em cinco que são as que têm maior coincidência com a nossa estratégia: (1) Igualdade de Género; (2) Incapacidades; (3) Gerações; (4) LGBTQIA+ e (5) Nacionalidades e etnias, sendo que as duas primeiras assumem um carácter prioritário.
Para além disto, definimos princípios de actuação que garantem que a nossa abordagem é sempre multidimensional e tem em consideração a interseccionalidade.
O mote da nossa estratégia é #PODERSER, com o foco principal na promoção da singularidade, como catalisador de um desenvolvimento pessoal e profissional sustentável, garantindo que todos se sentem respeitados, valorizados pelas suas forças e têm confiança na organização.
A promoção desta singularidade contribui para que cada pessoa sinta que pode ser ela própria, e que tem um ambiente seguro onde se pode desenvolver, criando assim as condições para um ambiente mais inovador e com melhor performance.
De que forma esta estratégia evoluiu do pré-pandemia para os dias de hoje?
Definimos a nossa estratégia de Diversidade e Inclusão no final de Janeiro de 2020 e está intimamente relacionada com a estratégia da empresa e assente nos nossos valores, por isso está muito actual. Na Sonae MC temos uma expressão para definir a nossa estratégia de Diversidade e Inclusão – “It’s an old recipe with a new flavour” – porque entendemos que as bases da Diversidade e Inclusão estão enraizadas na nossa forma de ser e de estar. Ou seja, o tratar bem as pessoas, respeitá-las pelo que são, colocá-las no centro do nosso sucesso é algo intrínseco à nossa cultura e está bem patente nos nossos valores corporativos, nomeadamente no valor “pessoas no centro do nosso sucesso”.
Dizemos que esta receita tem um novo sabor porque é uma estratégia mais consequente, mais consistente e mais intencional, que eleva a nossa preocupação com as pessoas e com a sua individualidade.
Sabemos que a pandemia veio agravar as desigualdades e, nessa perspectiva, a nossa vontade de fazer mais, melhor e mais rápido, aumentou. Na Sonae MC somos muito orientados para a acção e o nosso sentido de urgência de endereçar as nossas dimensões de diversidade e criar as condições para uma verdadeira inclusão aumentou também.
Existem programas ou iniciativas no seio da Sonae MC relacionadas com a questão da Igualdade de Género?
Cada dimensão de diversidade é muito complexa e exige uma abordagem sistémica, pelo que definimos para cada uma das dimensões, áreas de actuação respectivas. No caso da Igualdade de Género desenvolvemos acções e projectos relacionados com: a) Emprego e educação; b) Equilíbrio entre a vida pessoal e profissional; c) Protecção social; d) Visibilidade.
Damos como exemplo formação específica como é o caso da participação no programa PROMOVA desenvolvido em parceria entre a NOVA e CIP, que pretende desenvolver talentos femininos com potencial de liderança em funções de alta direcção. Participámos em programas de mentoring internos e internacionais e também programas de flexibilidade interna.
Outra das áreas de actuação da Igualdade de Género especialmente relevante é a protecção social, e neste âmbito desenvolvemos um projecto que tem dois eixos: por um lado, a definição de uma proposta de valor rápida, eficaz e holística para as nossas pessoas, e por outro, sensibilizar toda a nossa população e capacitar grupos específicos. Condenamos de forma veemente quaisquer práticas de violência, física ou psicológica e desenvolvemos mecanismos de sensibilização, apoio e protecção. Neste âmbito aliámo-nos mais uma vez à Cruz Vermelha Portuguesa e estamos hoje mais preparados para apoiar as nossas pessoas. Este projecto foi lançado no dia 25 de Novembro, dia internacional pela eliminação da violência contra as mulheres, sob o mote “Tu não és só uma, és uma de nós”.
Não podemos deixar de referir a campanha de Igualdade de Género que lançámos o ano passado #ÉDEMULHER protagonizada por colaboradoras internas. A campanha partia de estudos concretos que mostravam como a Igualdade de Género ainda não é uma realidade, e, por outro lado, pretendia quebrar estereótipos de género associando uma mensagem de força e superação.
Esta foi uma campanha integrada, interna e externa, com um exercício de envolvimento de todos os colaboradores, tendo sido distribuídas 34.000 pulseiras com o #ÉDEMULHER solicitando a cada colaborador que personalizasse a sua pulseira e a usasse como sinal de apoio à Igualdade de Género.
De que forma os colaboradores participam e/ou se envolvem nestas iniciativas, principalmente nos dias de hoje, com parte da população da empresa em trabalho remoto?
A Sonae MC tem mais de 34.000 colaboradores e uma grande parte da população esteve sempre a trabalhar nas nossas lojas, garantindo que continuávamos a alimentar Portugal. Apenas uma parte da nossa população esteve em trabalho remoto. Ainda assim, é óbvio que as dinâmicas internas mudaram e tivemos de nos adaptar, mas se existe uma característica que nos define enquanto empresa é a nossa capacidade de resiliência e adaptação constante.
Sempre que lançamos um novo projecto ou acção, a adesão e o entusiasmo são emocionantes e não são raras as vezes em que a criatividade na concretização nos surpreende positivamente. Somos o verbo fazer!
Que aspectos identifica como desafiantes no que diz respeito à promoção da Igualdade de Género na Sonae MC? A desigualdade de género é um tema real e a sua abordagem é muito complexa porque está enraizado culturalmente, sendo que os desafios são transversais a todas as empresas e à sociedade. Naturalmente que as empresas têm um papel fundamental de promoção da igualdade de género, no entanto este fenómeno necessita de ser trabalhado também mais a montante.
Sabemos que os preconceitos inconscientes estão na base da maior parte das desigualdades e existem estudos que mostram que isto acontece desde tenra idade. Por exemplo, um estudo refere que com a idade de seis anos as meninas já consideram que os meninos são mais inteligentes, mesmo sendo elas a ter melhores resultados escolares. Sendo os preconceitos inconscientes uma consequência da nossa biologia, pois intrinsecamente relacionados com a forma como o nosso cérebro funciona, é necessário sensibilizar, formar e mitigar, porque estas percepções afectam naturalmente as escolhas que as meninas e meninos vão tomar e a forma como nos relacionamos ao longo da vida.
Na Sonae MC estamos preocupados com os preconceitos inconscientes e estamos a lançar um plano de formação com o objectivo de termos toda a nossa população formada ainda este ano, sendo que este é um tema que tem de ser recorrente, porque como todos sabemos, “não tem cura”, apenas pode ser mitigado.
Como está distribuída a população da Sonae MC em termos de género?
Temos uma população maioritariamente feminina em cerca de 65%, à semelhança da maior parte dos retalhistas.
Qual a percentagem de mulheres em cargos de gestão na Sonae MC?
No início deste ano fomos a primeira empresa portuguesa a assinar o CEO Pledge um compromisso internacional com a Igualdade de Género e o ano passado definimos o nosso target de atingir 40% de mulheres na liderança até 2023, estando a acompanhar ao nível de recrutamento e evolução salarial.
Quais as boas práticas da Sonae MC em relação a este tema que gostaria de partilhar?
É fundamental ouvir as pessoas e envolvê-las nas acções e projectos. Por exemplo, no ano passado, a campanha da Igualdade de Género foi protagonizada por colaboradoras internas.
Por outro lado, é essencial dar visibilidade, criar role models e inspirar. A este propósito desenvolvemos uma rubrica “D&I Info snacks for busy brains” que pretende criar awareness e inspiração sobre temas da diversidade e inclusão. É uma rubrica semanal que tem tido uma excelente performance em termos de engagement.
Medir é sempre importante, pelo que este ano desenvolvemos também um inclusion index. Acrescentaria também a importância do papel dos homens na promoção da Igualdade de Género. Por um lado é fundamental enquadrarmos o tema da Igualdade de Género da forma certa, como sendo algo que é benéfico para a organização como um todo. Em segundo lugar, a Igualdade de Género passa também por trabalharmos os temas de descriminação que também existem relativamente aos homens e existem muitos estereótipos culturais que prejudicam a promoção da individualidade e singularidade de cada um.
No sector do retalho, existem profissões tipicamente de mulheres e de homens?
Não existem profissões tipicamente de mulheres, nem de homens, estes são estereótipos que têm de ser quebrados o mais rapidamente possível e que prejudicam todos porque limitam a individualidade e o talento de cada um.
Enquanto sociedade temos de conseguir criar as condições para que tanto meninas como meninos, em todas as dimensões da sua diversidade, sejam livres de perseguir o caminho que escolherem, tenham igualdade de oportunidades para vencer e possam participar e liderar, de forma igual, na sociedade.
O tema da Igualdade de Género tem impacto no negócio?
A Igualdade de Género não só tem impacto como é um tema de negócio. Equipas mais diversas são mais inovadoras e têm melhor performance. Para além disso tem impactos positivos na atracção e retenção de talento; aumentam o sentimento de pertença à empresa e têm um impacto positivo nos consumidores. A inclusão é, cada vez mais, um factor distintivo e uma vantagem competitiva.
Hoje faz mais sentido falar-se em igualdade ou equidade?
A nossa estratégia tem três princípios orientadores. O primeiro garante que a promoção da diversidade e inclusão é responsabilidade de todos na organização, depois temos a singularidade como princípio base e orientador da nossa estratégia e a equidade no sentido que não queremos dar as mesmas oportunidades a todas as pessoas, mas sim dar as oportunidades necessárias para que cada pessoa se desenvolva no seu máximo potencial. Isto exige um grande esforço porque passamos de uma normalização para uma cada vez maior customização, mas acreditamos firmemente que é a estratégia certa e o único caminho que potencia verdadeira inclusão.
Em termos gerais, o que considera importante mudar nas empresas para que haja uma verdadeira igualdade?
Para existir uma verdadeira igualdade existe naturalmente um papel das empresas que têm de monitorizar e ser intencionais nas suas políticas de diversidade, e este é um caminho que a Sonae MC está a percorrer com muito entusiasmo. Porém existe também um papel que a sociedade e cada um de nós tem de assumir. A forma como educamos os nossos filhos e filhas, como adequamos a nossa linguagem no dia-a-dia, como damos visibilidade a role models, comos desconstruímos a diferença no sentido de nos aceitarmos como somos são passos pequenos, mas muito importantes para construirmos uma sociedade mais equitativa.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Igualdade de género, diversidade e inclusão” na edição de Julho (n.º 127) da Human Resources nas bancas.
Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.