Gerir Pessoas para além da agenda institucional e do ego

Por Carla Caracol, Directora de Recursos Humanos do Grupo Renascença Multimédia, Professora Universitária, membro da Direcção Nacional da APG e da DCH Portugal

Estamos a vivenciar o paradigma da Sociedade 5.0 onde impera a humanização, servindo a tecnologia para dispensar a automatização acéfala de tarefas que não acrescentam valor, disponibilizando tempo para as Pessoas mobilizarem competências mais críticas e valorizadas para o e no mercado!

Quantas vezes já ouvimos este chavão? Quantas vezes já nós mesmos o dissemos e defendemos? Mas quantos de nós já o conseguimos efectivamente operacionalizar?

Gerir Pessoas em contexto organizacional pressupõe a optimização do que de melhor os colaboradores têm que possa efectivamente contribuir, de forma positivamente diferenciada, para o negócio. E, também por isso, Gerir Pessoas pressupõe servir e cuidar de ambos, em paralelo e em simultâneo. De nada serve apregoarmos que as “Pessoas são o maior activo” das empresas se depois, elas mesmas, na sua rede de networking, não confirmam esse statement.

Todos percebemos que a utilização da tecnologia é incontornável e até desejável, mas Gerir Pessoas não pode ser automatizável. A personalização da relação que instiga a confiança entre as partes, a comunicação bidireccional fluida tem que estar assegurada na sua génese, sob pena de, por um lado, passarmos a ter máquinas que asseguram as tarefas quotidianas que não exigem competências sociais nem sensibilidade, não assegurando evolução, e, por outro lado, Pessoas que funcionam como verdadeiros robots, que vivem a sua relação com a empresa como uma verdadeira relação transaccional, onde trocam o seu tempo pela simples concretização do que está explanado no descritivo funcional, sem qualquer compromisso, afectividade ou interesse e, pior, sem pensar ou repensar sobre isso, não procurando a sua melhoria.

Assegurar a sustentabilidade do negócio passa também por investir no combate a este cumprimento cego do “to do”. A velocidade e volatilidade do mercado exige que sejamos tecnologicamente eficazes e eficientes, assegurando o cumprimento do algoritmo por trás do que é digitalizável, mas pressupõe também que é imperativa a adequação desse status quo, e isso tem que ser, pelo menos, concebido, desenvolvido, testado e implementado por pessoas, pelas nossas pessoas, pelos colaboradores.

A verdadeira humanização no mundo corporativo será concretizada quando todos passarmos a defender, nos mais diversos fóruns, que temos todos que trabalhar no sentido de nos respeitarmos mais, enquanto profissionais e seres humanos, ultrapassando egos e agendas próprias. A agenda institucional deve ser encarada como a missão, nunca a confundindo com os princípios e os valores. Não deve, nem pode, valer tudo!

Falava há dias com uma pessoa, que muito admiro, sobre o sucesso. O sucesso é um conceito pessoal e a sua concretização nada tem a ver com o que a sociedade considera. O sucesso está sobretudo relacionado com a satisfação que se retira de algo por se ter conseguido dar significado ao nosso contributo. E é isto que os gestores de pessoas têm que procurar… serem facilitadores do sucesso dos colaboradores, alinhando a função, a tarefa com esse significado pessoal.

Falamos em motivação há décadas… de que valem, a longo prazo, as oportunidades de desenvolvimento individual, os teambuildings, as recompensas e benefícios, entre outras condições disponibilizadas aos colaboradores, se não agimos de igual forma na relação? Achamos mesmo que assim temos a sua retenção assegurada? A concorrência estará sempre disponível para lhes dizerem o que eles querem ouvir e fazê-los sentir como eles esperam sentir-se…

Sejamos ousados para nos fazer escutar, passando das palavras à acção, de forma estratégica, sustentada, sobre os ganhos efectivos, com uma abordagem humanizada da gestão de pessoas, e sejamos corajosos para passar à acção sabendo, de antemão, que o caminho será sinuoso, pleno de desafios e com imensos constrangimentos, mas que é o mais adequado para garantir que partilhamos a concretização da visão corporativa com quem tem o mesmo sentido de missão, não poupando esforços na sua concretização, pois, no final do dia, todos se sentirão com a sensação de dever cumprido.

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