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A Comunicação empática e humana não pode ser uma trend
Por Carla Caracol, Directora de Recursos Humanos do Grupo Renascença Multimédia, Professora Universitária, membro da Direcção Nacional da APG e da DCH Portugal
É cada vez mais comum encontrar plasmado, em conferências, livros, artigos, e até mesmo em conversas com maior formalismo, construtos supostamente muito profundos e importantes só porque são mencionados recorrendo a estrangeirismos.
Há sempre uma nova sigla, um novo conceito, uma nova teoria que é a “última bolacha do pacote” e que dita a tendência dominante em matéria de Gestão de Pessoas… e uma pessoa, que até lê umas quantas coisas, mas que, quanto mais sabe mais tem consciência do que há ainda por descobrir, até se sente diminuída ou envergonhada por assumir que nunca ouviu o termo agora revelado e citado como incontornável para todos os profissionais na matéria. “O quê? Nunca ouviste falar nisto? Como assim? Não tens acompanhado os artigos e os vídeos do xpto nas várias plataformas? Tens que ver!”. E uma pessoa, perante tamanha sapiência, lá questiona o que é, na sua essência, procurando informação sobre essa epifania que, aparentemente, vai solucionar todos os problemas da gestão e que nos apoiará a ser melhores profissionais. Contudo, espante-se, não raras vezes, depois de alguma consulta e análise, não se encontra nada de novo… apenas uma roupagem diferente para conhecimentos, experiências e soluções comuns!
Não levem a mal, mas porque andamos a chamar às mesmas coisas (conceitos, processos, práticas) coisas diferentes? Porque não investimos antes o nosso escasso tempo verdadeiramente a inovar ou a melhorar o que já existe, acrescentando algo com valor real face aos desafiantes tempos actuais? Mal comparado faz-me sempre lembrar os remakes de filmes… será que já esgotámos a imaginação? Ou pior, será que já não acreditamos que ainda há muito mais a fazer? Porque perdemos tempo a reproduzir discursos, só porque são os circunstancialmente dominantes?
Será que pareceremos assim tão vintage apenas porque não estamos totalmente alinhados com este (suposto) mundo BANI/FANI, que recentemente foi VUCA ou porque não somos mainstream o suficiente para garantir a drive que promove o purpose, assegurando o engagement aos nossos employees através de uma happy experience? É uma interrogação irónica, mas, acreditem, que oiço muitos colegas a utilizarem expressões destas de uma rajada só. Pior do que isso… estão a falar a sério! A questão é: será que todos os que com eles trabalham e/ou com quem têm que, simplesmente, comunicar, percebem verdadeiramente a mensagem ou, para o efeito, necessitarão ainda de uma estratégia de storytelling?
Cada vez mais a comunicação genuína, fluída, honesta, transparente, objectiva, é necessária! E, quando falamos nos domínios de Gestão de Pessoas, esta tem que se assumir, para além de tudo isso, profundamente empática e humana! Por isso, parece-me que, em vez de utilizarmos estrangeirismos, devemos ter a preocupação de sermos simples, de forma que todos os interlocutores, da base ao topo da organização, nos percebam!
A maior parte das vezes os profissionais de Recursos Humanos conseguem concretizar verdadeiras obras de arte em termos de processos de intervenção estratégica nas organizações, mas depois, ao comunicá-los, complicam! As Pessoas estão cansadas de coisas aparentemente complexas… até apreciam desafios complexos, mas que são desconstruídos, fazendo-as acreditar que a solução não está nas mãos da elite, sendo da responsabilidade de todos, pondo em tudo o que fazem o que de melhor são.
Humanizar a gestão é também falar claro com todos para que a integração seja uma realidade e não uma qualquer trend!