Os Talentos, o Propósito e a Liderança

Por Luís Roberto, Managing Partner da Comunicatorium e Professor convidado do ISCSP-ULisboa

A definição de estratégias para a atração e retenção de talentos, tem sido nos últimos tempos uma das prioridade das agendas das empresas.

Cientificamente, o talento é alguém com uma inclinação natural ou vocação para uma determinada tarefa. Alguém que executa uma ação com facilidade e com resultados acima da média.

Vários são ao exemplos de talentos ao longo da nossa história.

Einstein, pai da teoria da relatividade, quando questionado sobre o seu talento, respondeu “Eu não tenho nenhum talento especial. Apenas sou apaixonadamente curioso”.

Com a evolução dos tempos, percebemos que as habilidades consideradas inatas podem ser aprendidas e desenvolvidas caso exista motivação e treino, embora com certos limites.

Se estabelecermos um paralelismo com o mundo do desporto, é fácil admitir que um indivíduo com 1,60m de altura, dificilmente terá sucesso na liga de basquetebol NBA, por maior que seja a sua dedicação e prática.

Não deixa de ser curioso, que ao longo da História o talento tem estado sempre associado à  riqueza. Na antiguidade, o “talento” era uma unidade de medida, usada para pesar ouro e prata.

Há pouco mais de 20 anos, ser líder do mercado, era uma das maiores riquezas de qualquer empresa, e considerado como a melhor oferta  para atrair talentos.

Como forma de se diferenciarem,  as empresas passaram a usar os  seus valores como forma de captarem as atenções, embora nem sempre tenham sido bem percecionados junto dos seus consumidores.

Algumas empresas reconheceram a redução de candidatos em processos de recrutamento, quando usaram os valores para atrair talentos, em vez do simples logo.

Atentos à transformação global, aos desafios emergentes do mundo contemporâneo e ao papel fundamental para a inovação e desenvolvimento das sociedades, as empresas passaram a refletir sobre o seu propósito e os seus princípios de gestão.

Possuir um propósito claro, significa a afirmação da existência, transmitindo o que a empresa  representa em termos éticos, emocionais e práticos, e como os expressa nas suas operações, na sua cultura e nos seus colaboradores.

Nos dias de hoje, os novos talentos anseiam trabalhar em organizações com um propósito desafiante e com projetos motivadores.

Preferem o acesso a uma frota de carros eléctricos, mais do que um carro de serviço a diesel, dão total importância ao trabalho remoto, à flexibilidade de horários e ao equilíbrio vida pessoal-vida profissional, à formação.

O propósito e o papel ativo da empresa junto da sociedade, o contributo para um  mundo mais sustentável, aliado à  inovação e ao digital, tem-se revelado como  elementos catalizadores para os mais jovens.

As mudanças contínuas e o atual contexto de incertezas, levam-nos no entanto a questionar sobre quais as melhores estratégias para continuar a atrair e a reter talentos nas nossas empresas.

Pensar sobre o caminho no futuro,  estar atento ás mudanças geoestratégicas que ocorrem no mundo, e a compreender o impacto sobre as empresas, o negócio e as pessoas , começa a ser um desafio e um exercício permanente da gestão.

Veja-se o que aconteceu com a crise pandémica e antevejam-se as consequências da invasão da Ucrânia.

Como pode a liderança e os líderes  prepararem melhor as empresas para reter os seus talentos, em ambiente de constantes mudanças ?

Uma forte cultura de transparência é a base necessária para gerir  as expectativas num mercado em rápida mudança.

Dar e receber feedback é fundamental para assegurar o alinhamento e o sucesso no cumprimento de objetivos individuais e colectivos, bem como as preocupações sobre saúde e bem-estar, benefícios e salários, segurança, desempenho e eficiência.

Ajudar os jovens talentos a ligar os pontos entre a mudança e a estratégia do negócio, e a compreender as razões do negócio para a mudança, ajuda a construir a confiança e a ligação humana com a empresa.

Explicar o que a mudança pode significar para a sua área de responsabilidade,  é não só uma forma de contribuir para o plano individual de desenvolvimento, mas também um convite ao debate e à apresentação de novas ideias.

Criar a mentalidade de que mudança é parte da progressão natural da empresa e uma oportunidade de crescimento, reforça o apoio à retenção e à marca.

“O talento é o ingrediente mais indispensável para o sucesso, mas o sucesso depende de como o talento é gerido.”