Por que importa atrair profissionais promissores para a educação?

Portugal é dos países da OCDE onde o contexto socioeconómico das crianças mais condiciona o seu sucesso escolar e futuro rendimento médio. E isso não resulta da falta de capacidade das pessoas.

 

Por Maria Azevedo, co-fundadora e directora de Formação da Teach For Portugal e Jon Garay, director de Recrutamento da Teach For Portugal

 

A educação é a única ferramenta capaz de resolver a desigualdade de oportunidades, quebrando ciclos de pobreza enraizados, crenças estabelecidas e expectativas sobre o máximo potencial de cada um. No entanto, e apesar do esforço e melhorias significativas como as ilustradas nos resultados do último Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), a educação em Portugal está ainda longe de funcionar como elevador social. Para que tal aconteça, é necessário atrair para a área da educação, em particular para os contextos mais desfavorecidos, profissionais com perfis diversificados, comprometidos em dedicar as suas carreiras a esta missão.

Em Portugal, são necessárias cinco gerações para que crianças nascidas em famílias com rendimentos baixos alcancem o rendimento médio. E isto não resulta da falta de esforço ou capacidade das pessoas, mas sim de condicionantes – barreiras adicionais e falta de recursos e/ou apoio – a que os mais pobres são sujeitos.

Muitas condicionantes começam ainda antes de a criança ter nascido. Portugal é dos países da OCDE onde o contexto socioeconómico das crianças mais condiciona o seu sucesso escolar. No nosso país, a escolaridade das mães está directamente correlacionada com o sucesso académico dos seus filhos. A probabilidade de uma criança cuja mãe completou o 9.º ano, ter sucesso escolar, ou seja, ter positiva a Português e Matemática no 9.º ano e nunca ter reprovado, é de apenas 31%. Já se a mãe tiver uma licenciatura, essa probabilidade é de 71%. Ao longo do percurso escolar, a taxa de reprovação entre os alunos de comunidades desfavorecidas é de 52%, cinco vezes superior à dos colegas de um contexto social mais favorecido.

Estes números demonstram que a probabilidade de sucesso escolar de uma criança é fortemente influenciada por um conjunto de factores que lhe são alheios. A menor probabilidade de sucesso ou a reprovação, a escolha de percursos profissionalizantes com menos preparação ou menor probabilidade de entrada no ensino superior, o término precoce dos estudos, entre outros, implicam menor oportunidade de escolha à entrada no mercado de trabalho, piores condições de trabalho e remuneração, e reduzida probabilidade de progressão na carreira.

Em Portugal, a perpetuação deste ciclo de desigualdades é ilustrada pelo facto de o maior salto no salário bruto real médio se verificar entre profissionais com o ensino secundário e profissionais com uma licenciatura; ser licenciado vale em média mais 750 euros mensais, um ganho de 72%.

Garantir a igualdade de oportunidades a partir da educação implica assegurar que os alunos das comunidades desfavorecidas (e as respectivas famílias) têm ao dispor recursos e oportunidades adicionais, adaptadas às suas necessidades e contexto, que os apoiam e inspiram na procura de um futuro melhor.

Entre outros, é necessário: (i) assegurar uma relação de maior proximidade entre a escola e a comunidade, que permita a definição de uma visão e objectivos comuns; (ii) flexibilizar e preparar os profissionais a trabalharem nestas comunidades a adaptar a escola, o currículo e estratégias pedagógicas à realidade envolvente; (iii) inspirar os alunos a definirem expectativas ambiciosas para o seu futuro, e apoiá-los no caminho para os atingir; (iv) dotar a comunidade de recursos adicionais para suprir as necessidades básicas de cada família, permitindo o foco na educação.

Só atraindo, seleccionando e formando profissionais comprometidos com trabalhar dentro e fora da sala de aula, e dentro e fora da escola, é possível actuar de forma eficaz em tantas frentes.

Atrair profissionais para a educação, em particular para trabalhar em comunidades desfavorecidas, é um desafio crescente em grande parte dos países europeus. A redução do prestígio da profissão, as condições de trabalho, e os desafios e dificuldades do dia-a-dia – incluindo a dificuldade em motivar os alunos, os conflitos na escola, a falta de respeito e reconhecimento, ou mesmo o isolamento dos profissionais – são indicadas como as principais causas para a não escolha de profissões relacionadas com a educação nestes contextos, ou para a desistência e procura de outras oportunidades em fases posteriores da carreira. Portugal não é excepção, onde a falta de professores que se prevê vir a acentuar- se ao longo desta década demonstra esta realidade. Muitos profissionais formados optaram por carreiras alternativas porque a docência não lhes assegura uma vida confortável e satisfatória, e o número de jovens que escolhe esta área de formação é cada vez mais reduzido.

 

O que atrai talento para a educação?
De forma a identificar o que atrai talento para a educação, a Teach For All – rede global de organizações a trabalhar em educação em 60 países, da qual a Teach For Portugal é um dos parceiros – realizou um inquérito a candidatos e potenciais candidatos de diversos países (jovens profissionais de diferentes áreas de formação) sobre como se sentem e o que desejam para as suas carreiras.

Perante o actual contexto (pós-)pandémico, os inquiridos destacaram as seguintes prioridades: (i) procura de propósito e significado nas suas escolhas; (ii) valorização do seu bem-estar e equilíbrio; (iii) existência de oportunidades de desenvolver da sua liderança e competências (que serão mais-valias transversais a outras áreas do mercado); e (iv) desejo de trabalhar em colaboração com pessoas que apresentam valores semelhantes.

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Setembro (nº.141) da Human Resources, nas bancas.

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