Entrevista CEO. Vítor Freitas, Leica: 50 anos de paixão, precisão e compromisso

A Leica em Portugal celebra cinco décadas de história em Portugal, uma história de «muito trabalho, rigor, disciplina e dedicação diária» dos actualmente mais de 800 colaboradores. O director-executivo Vítor Freitas não tem dúvidas de que é a eles que se deve o sucesso desta love brand.

 

Por Ana Leonor Martins

 

Foi em 1973 que a Leica iniciou o seu percurso em Portugal, mais concretamente em Vila Nova de Famalicão, onde ainda hoje se situa a fábrica – já outra – da empresa especialista em aparelhos ópticos. Foi o aumento dos custos de produção na Alemanha que motivou a aposta. A escolha do Norte encontra justificação não só nos laços familiares da família Kaufmann, mas sobretudo na história e experiência da região na indústria fabril e mecânica de precisão. Vítor Freitas não tem dúvidas de que a «grande densidade de mão-de-obra qualificada» é um dos grandes “cartões de visita” de Portugal para o investimento estrangeiro, sendo que a escassez de talento especializado e qualificado no sector da indústria tem sido um dos grandes desafios dos últimos anos. E isso deve-se «sobretudo às melhores condições que as empresas estrangeiras oferecem a jovens licenciados portugueses, condições que a grande maioria das empresas em Portugal ainda não tem capacidade para oferecer»

 

Qual a importância estratégica que Portugal representa para o Grupo Leica?
Para além de uma extensão do negócio iniciado em Wetzlar, na Alemanha, Portugal, mais especificamente Vila Nova de Famalicão, representa, para o grupo Leica, a tradição, o compromisso e a dedicação de uma love brand adorada por milhares de seguidores. Como segunda unidade de fabrico da marca, a fábrica da Leica em Portugal foca-se na produção e exportação para a “casa-mãe” de aparelhos ópticos – como binóculos clássicos, rangefinder e miras telescópicas – destinados à Óptica Desportiva, nomeadamente a observação de animais, que representa uma percentagem considerável do nosso volume de facturação. Por outro lado, apoia a produção esde elementos fundamentais para máquinas fotográficas e lentes distribuídas a partir de Wetzlar.

 

Quais os marcos mais relevantes deste meio século de história da Leica em Portugal?
É muito difícil escolhermos um, dois ou três marcos “mais relevantes” no meio de cinco décadas de história de muito trabalho, rigor e disciplina, na medida em que só através desta dedicação diária de cada um de nós foi possível atingir estes mesmos acontecimentos.

Ainda assim, no caso de termos de destacar alguns marcos, olhamos orgulhosamente para a inauguração da nossa fábrica em 1974, em Santiago de Antas, Vila Nova de Famalicão, instalações que duraram 40 anos; a inauguração da nossa actual fábrica, em Março de 2013, pela mão do Presidente da República na altura, Aníbal Cavaco Silva, que nos permite ser considerada uma fabrica de referência na indústria Óptica; e podemos também destacar a inauguração, a 1 de Dezembro de 2016, de uma Leica Store, na cidade do Porto, com uma galeria e uma academia.

 

Referiu a actual fábrica, que representou um investimento de 22 milhões, e a abertura da primeira loja oficial da marca… O que acredita que tem justificado esse investimento no nosso país? E porquê a norte?
O Norte de Portugal é, e sempre foi, reconhecido pela sua história e experiência na indústria fabril e mecânica de precisão. Neste sentido, estes investimentos podem ser justificados como uma aposta clara no crescimento sustentado e contínuo desta região.

Desde 1973, com o aumento dos custos de produção na Alemanha, que a Leica olha para esta região – e em especial para Vila Nova de Famalicão –, com um enorme potencial de evolução na indústria fabril. Além disso, existe também uma ligação muito forte da família Kaufmann, accionista maioritária da Leica, à cidade do Porto e de Vila Nova de Famalicão.

 

De forma mais genérica, o que torna Portugal atractivo ao investimento estrangeiro?
Nos dias de hoje, Portugal é visto pelas empresas internacionais de grande dimensão como um dos países mais atractivos para efectuar elevados investimentos devido ao facto de ter acesso ao mercado europeu, como membro da União Europeia; pela grande densidade de mão-de-obra qualificada – e com custos inferiores face à média europeia, especialmente em áreas como tecnologia, ciência e engenharia; pela sua localização estratégica, o que o torna um ponto de entrada para o mercado europeu e um hub de comércio internacional – União Europeia e Norte de África –; e ainda pela forte aposta no desenvolvimento de infra- estruturas de elevada qualidade.

 

E em que áreas Portugal devia melhorar?
Apesar de Portugal já ser um país bastante atractivo para investimento estrangeiro, é fundamental pensarmos de que forma podemos melhorar ainda mais esta atractividade e não nos deixarmos cair para segundo plano, sendo ultrapassados por países concorrentes. Simplificar processos burocráticos para que as empresas possam obter licenças com maior facilidade e rapidez é, para mim, uma das medidas imperativas para continuar a apostar na atractividade do nosso país.

 

Um dos temas com que Portugal se debate tem a ver com a “fuga de talento”, o que, num contexto de generalizada escassez de pessoas, se torna ainda mais desafiante, para as empresas e para o País. Qual a explicação para esta emigração?
Sem dúvida alguma que a escassez de talento especializado e qualificado no sector da indústria tem sido um dos temas quentes dos últimos anos. Esta escassez ou “fuga de talento”, se assim quisermos chamar, deve-se sobretudo às melhores condições que as empresas estrangeiras oferecem a jovens licenciados portugueses, condições que a grande maioria das empresas em Portugal ainda não tem capacidade para oferecer.

 

Com a maior generalização do trabalho remoto, que permite viver num país e trabalhar para outro, – e de uma nova forma de encarar o trabalho, mais flexível – acha que um país como Portugal sai beneficiado ou prejudicado? Como é que na Leica vêem este tema? Creio que, como em tudo no actual ecossistema organizacional, existem vantagens e desvantagens associadas ao trabalho remoto. Ainda assim, consigo olhar de uma forma mais positiva do que negativa para a generalização deste novo método de trabalho remoto.

No entanto, na Leica, esta realidade não é muito sentida, na medida em que somos uma fábrica produtora de aparelhos ópticos e a grande maioria das nossas pessoas trabalha diariamente com processos, instrumentos e máquinas que estão presentes na fábrica, pelo que necessitamos da sua presença diária.

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Agosto (nº. 152) da Human Resources, nas bancas. 

Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.

Ler Mais