Sustentabilidade e Recursos Humanos: Reciclagem é a ponta do iceberg
Por: Fátima Machado, directora de RH do Grupo Egor
Antigamente, a preocupação ambiental no trabalho era pouco mais do que garantir um ponto de reciclagem e, se possível, utilizar com regularidade os transportes públicos. Hoje, trata-se de um universo completamente diferente, a sustentabilidade é um valor que está presente em todas as facetas do nosso quotidiano, e os Recursos Humanos (RH) não se devem resguardar na repetição de práticas antiquadas, correndo o risco de comprometer a sobrevivência da própria empresa. Os profissionais de RH podem promover práticas sustentáveis, recrutar profissionais capacitados para esta nova realidade, garantir o bem-estar dos funcionários e contribuir para um futuro ambientalmente consciente.
A verdade é que as práticas de sustentabilidade deixaram de ser uma mera escolha de percurso: a Lei Europeia do Clima da União Europeia, por exemplo, sugere e exige uma série de procedimentos dentro dos governos e empresas, como a Neutralidade Carbónica 2050, a expansão de energias renováveis, a mobilidade sustentável, a economia circular, entre outras medidas que impactam directamente as empresas portuguesas e a vida dos seus colaboradores.
Assim, um primeiro passo é garantir que existem procedimentos internos para implementar iniciativas sustentáveis, que podem partir tanto de RH, como de algum funcionário ou parceiro. Contudo, é o departamento de RH que deve liderar este esforço interno e promover práticas sustentáveis, que podem inclusive ser integradas na responsabilidade social corporativa.
Apesar das boas intenções, não basta sugerir um conjunto de boas práticas se não as conseguimos aplicar. E aqui entra novamente em acção a área de Recursos Humanos, em particular o recrutamento. Há uma série de novas profissões com enfoque na sustentabilidade empresarial: o coordenador de Sustentabilidade, responsável máximo pela implementação das iniciativas e por garantir que as metas propostas são cumpridas; especialistas em energias renováveis; analistas de alterações climáticas; cientistas e engenheiros especializados em práticas sustentáveis; ou consultores externos, que analisam o estado actual do negócio, e aconselham quais as alterações que estão ao alcance da empresa.
As práticas sustentáveis são relevantes tanto interna como externamente. Hoje, as empresas multinacionais partilham com regularidade relatórios de sustentabilidade, onde definem metas e objectivos concretos, como a neutralidade carbónica – relatórios que são, cada vez mais, fundamentais para os diversos stakeholders e escrutinados pela imprensa. Estes relatórios comprovam factualmente o compromisso das empresas com um futuro sustentável, um valor que pode ser determinante quando um candidato selecciona qual a empresa para a qual vai trabalhar, ou quando um cliente decide onde comprar determinado produto, sobretudo para esta nova geração particularmente preocupada com a questão climática, e onde observamos também o aumento de fenómenos clínicos como a eco-ansiedade.
Por fim, não nos devemos esquecer de que o bem-estar dos colaboradores deve estar incluído nas práticas sustentáveis. Equilibrar o trabalho e a vida privada, sem um pisar no terreno do outro, é cada vez mais desafiante, e devemos preocupar-nos em capacitar os nossos colaboradores para alcançar uma harmonia work–life balance – isto também é sustentabilidade.
A meta de sustentabilidade dos profissionais de Recursos Humanos deve ser liderar a adopção de práticas sustentáveis, quer seja através do recrutamento, gestão e organização interna, ou formação, com a transmissão de valores que, no final de contas, não só agradam aos colaboradores, público e stakeholders, como garantem um futuro sustentável para a própria empresa.