Professores gostam do que fazem mas são os que mais sonham com a reforma (e não recomendariam a profissão)
A maioria dos educadores e professores gosta da profissão, apesar de sentirem que ganham mal e que o trabalho não é reconhecido, sendo cada vez mais os que gostariam de se aposentar, revela um estudo realizado pela Federação Nacional da Educação (FNE) e Associação para a Formação e Investigação em Educação e Trabalho (AFIET)
Em Junho, no final do ano lectivo, mais de três mil professores responderam a um inquérito nacional e a maioria (75,3%) disse sentir-se realizada profissionalmente: gostam de dar aulas, mas também são cada vez mais aqueles que sonham com a reforma.
Numa classe envelhecida, continuam a aumentar os casos de professores que desejam aposentar-se. Neste Verão, 16,4% disse que gostaria de se aposentar antecipadamente (em 2023 eram 14,5%) e outros 13,8% esperam que tal aconteça nos próximos cinco anos (eram 12,7% em 2022).
O Ministério da Educação, Ciência e Inovação tem um plano que espera que quem está à beira da aposentação aceite adiar a reforma em troca de mais 750 euros brutos mensais, ajudando assim a reduzir os casos de alunos sem aulas.
O estudo revela ainda que 82,8% dos inquiridos admite que não incentivaria um jovem a ser professor. Também são menos os que desejam continuar a dar aulas por ser aquilo de que gostam: no Verão do ano passado eram 45,1% e agora são apenas 35,5%, segundo a consulta.
A «excessiva quantidade de trabalho administrativo» continua a ser o maior problema que dizem enfrentar, seguindo-se as dificuldades de conciliação da vida profissional com a familiar.
Aumentou o número de professores que aponta a indisciplina dentro da sala de aula como o maior desafio (passou de 10,8% para 16,5% dos professores), assim como aqueles que acham que têm alunos a mais (de 11,8% para 13,9%). A estes problemas soma-se o sentimento de não existir reconhecimento social da sua profissão (87,7%), um problema que também se agravou em apenas um ano (mais 4,8 p.p.).
Sobre as perspectivas de desenvolvimento da carreira, quase nove em cada dez (89,2%) consideram que são pouco ou nada atractivas, continuando a registar-se uma ligeira melhoria: Em 2021, 96,2% viam o futuro da carreira como algo decepcionante ou pouco atractivo, e no ano passado eram 94%.
Mais de um em cada quatro inquiridos defende que são precisos mais professores e assistentes nas escolas, enquanto 16,8% escolhem a opção de apoiar os alunos com necessidades educativas especiais.
Sobre as novas ferramentas digitais, entendem que são um recurso para o ensino, mas levantam preocupações em relação ao seu uso nas aulas e recreios. A maioria continua a ser contra o uso de manuais digitais no processo de aprendizagem dos seus alunos, um processo que foi iniciado pela anterior equipa do ministério da Educação e que tem levado a forte contestação por parte dos pais.
Os professores gostariam ainda que as escolas tivessem mais autonomia para definir os currículos, calendário e até modelo de avaliação dos alunos, segundo o estudo realizado entre 14 e 28 de Junho de 2024 ao qual responderam 3570 docentes do pré-escolar ao secundário.
Um em cada quatro inquiridos (41,4%) tinha entre 21 e 30 anos de serviço, 18,9% entre 31 e 35 anos de serviço e 17,4% já tinham mais de 35 anos de serviço.