Cinco ideias para manter o rumo numa “expedição empreendedora”
Por Ana Pedro, fundadora da Polka Dots
De acordo com o mais recente barómetro da Informa D&B, o primeiro semestre de 2024 viu surgir 27.263 novas empresas em Portugal e registou 1074 processos de insolvência. À primeira vista trata-se, claramente, de um rácio positivo no que diz respeito ao vigor do tecido empresarial interno, mas até que ponto pode a análise dos números dar-nos alguma perspectiva sobre a gestão de um negócio?
Nas últimas décadas, o empreendedorismo mudou radicalmente de imagem. Se, em tempos, ser empresário implicava nascer-se com a capacidade de descobrir, mais ou menos intencionalmente, como transformar uma indústria, actualmente o empreendedorismo dá forma à aspiração de milhões de profissionais que procuram liberdade para manobrar as suas carreiras e, pelo caminho, encontrar uma desejada igualdade de forças entre o trabalho e a vida.
Quem equaciona fundar o seu próprio negócio ou se estreou há pouco tempo no empreendedorismo descobre rapidamente que são muitas e abrangentes as incógnitas em torno do que significa desbravar um caminho novo – por vezes a solo, nem que seja nos primeiros tempos. Não é por acaso que a analogia com uma expedição é recorrente: num ambiente caracterizado pela incerteza e diante de um desafio arriscado, avança-se munido de recursos escassos e de um financiamento limitado, deparando-se com uma concorrência feroz e opositores ruidosos. Ainda assim, o caminho faz-se em frente e há ideias que reforçam a escolha de todos quantos se aventuram.
A imagem da expedição torna-se ainda mais válida quando percebemos que construir uma empresa é uma maratona e não uma corrida de velocidade. Ser paciente e consistente na criação diária de impulso pode parecer fácil quando se trabalha no projecto da nossa paixão mas, no longo curso, tentar ascender sem parar para respirar simplesmente não funciona. É muito importante reservar tempo, criar distância para analisar o que nos rodeia e planear antes de executar.
Para os que receiam a Síndrome do Impostor, desmistifique-se: ninguém tem as respostas todas. Reconhecer e aceitar o facto de nem sempre sabermos o que fazer é um bom primeiro passo para nos rendermos à inevitabilidade do desconforto e avançarmos mais rapidamente para um cenário de resolução. Pode, inclusive, ser libertador identificar aquilo em que somos realmente bons e aquilo em que somos inexperientes ou desconhecedores – e pedir ajuda.
Sem surpresas, ser fundador implica usar todos os chapéus. A maior parte das pessoas possui conhecimentos especializados numa ou duas áreas técnicas que constituem a base da nova empresa. Contudo, quem envereda pelo empreendedorismo não se limita a ser programador, designer ou especialista em recrutamento. No início, o(s) fundador(es) é/são o embaixador, o comercial, o financeiro, o gestor de redes sociais… É inevitável, a luta interna vai existir – há que aprender a lidar com ela e fazer como o polvo.
Gerir tantos papéis diferentes significa ser puxado em múltiplas direcções diferentes – ao mesmo tempo. Definir rotinas de trabalho que permitem a optimização do tempo abre espaço para a coexistência de outras esferas e favorece um equilíbrio saudável, diferente para cada empreendedor e fundamental para o sucesso.
Finalmente, quando tudo à volta parece difícil ou confuso, não se alinha ou simplesmente não resulta, regressar ao porquê é sempre uma boa ideia. O ‘Porquê’ é a razão que nos guia, é o propósito que justifica toda a expedição e visualizá-lo recentra-nos sempre que necessário e mantém-nos no caminho certo.
Afinal os números oferecem perspectiva: o empreendedor pode sentir-se solitário na expedição, mas nunca está verdadeiramente sozinho no trajecto.