Vamos conversar sobre ser genuíno no trabalho?

Por Joana Russinho, People Enthusiast, head of Human Resources

Maria está na fase final de um processo de recrutamento sobre o qual tem conversado comigo. Licenciou-se recentemente e caiu de amores por uma das empresas que contactou. Um misto de entusiasmo e ansiedade assombram estes seus últimos dias. Tudo conforme o esperado quando se está prestes a dar o próximo passo.

– Joana, na última entrevista do processo de recrutamento onde estou, disseram-me que a cultura da empresa valoriza a genuinidade. Como se pode ser genuíno se estamos a trabalhar? – perguntou-me a Maria.

A expressão da Maria era a de alguém que acabara de ser descoberta após ter cometido uma falha gravíssima 😊

– Posso deduzir, pela tua pergunta e expressão facial, que receias não ser aceite tal e qual como és, bem como uma pressão(zinha) para seguires normas internas com as quais ainda não sabes se te vais identificar? – questionei com um sorriso.

– Sim, isso e mais! E se digo alguma coisa que não devo? Ou que não é valorizada? Imagina que tenho uma opinião diferente da dos meus colegas? Não fica bem expressá-la! Quero criar uma imagem profissional – completou em jeito de desabafo.

Maria a ser genuína, a recear falhar por não corresponder ao que é esperado. Maria, no alto dos seus 23 anos, a ser quem é nesta conversa comigo.

– Entendo a tua preocupação, Maria. A autenticidade no local de trabalho pode parecer um desafio, especialmente quando queremos estar alinhados com a cultura da casa e, ao mesmo tempo, manter a nossa identidade. Mas pensa comigo, ser genuíno não significa não ponderar antes de agir, ou expor todas as nossas vulnerabilidades sem pensar, mas sim encontrar um equilíbrio entre ser verdadeiro contigo mesma e respeitar o ambiente profissional onde estás – introduzi.

Maria, de sobrolho franzido, chega-se agora mais à frente na cadeira.

– Ok, e como é que se pode encontrar esse equilíbrio? – perguntou, ainda visivelmente apreensiva.

– Bom, na minha opinião, primeiro é importante lembrar que ser genuíno não implica contrariar constantemente ou desafiar a cultura da empresa. Em vez disso, trata-se de encontrar maneiras de integrar a tua personalidade e opiniões de forma construtiva. Por exemplo, quando tiveres uma opinião diferente, tenta apresentá-la de uma forma que seja construtiva e alinhada com os valores da empresa. Assim, mostras que valorizas uma comunicação aberta e a diversidade de pensamento, enquanto mostras que respeitas as normas estabelecidas.

Maria experimenta, experimenta vá: “Gostei muito das ideias que discutimos até agora e acredito que estão no caminho certo. Tenho uma sugestão que poderia complementar o que já foi proposto. A minha ideia é… [explica a sugestão]. Acredito que isso poderia ajudar a alcançar [benefício esperado]. O que acham?”

– E quanto ao meu medo de não ser valorizada? – questionou Maria.

– Esse medo é natural, mas a boa noticia é que há formas de o ultrapassar. A autenticidade também se revela se estiveres disponível para receber feedback. Se tiveres a oportunidade de receber sugestões e críticas construtivas, vê isso como uma oportunidade de crescimento, não como um ataque pessoal. Além disso, escolher os momentos certos para expressar as tuas ideias e opiniões pode ajudar a garantir que são bem recebidas.

O sobrolho baixou, menos mal, mas agora o cabelo é agarrado por uma mola furiosa que deixa Maria com mais um “se”.

– E se, mesmo assim, não me sentir bem na empresa? – perguntou Maria.

– Maria, se assim for, estará tudo bem. Se isso me acontecesse, se após algum tempo eu sentisse que os meus valores pessoais estavam em choque com a cultura da empresa, conversaria com um mentor, alguém de Recursos Humanos, ou um colega de confiança, para ter uma perspectiva externa. Às vezes, uma conversa franca pode ajudar a esclarecer coisas que nos parecem óbvias, mas que não são. Imagina, se a situação pode ser ajustada, ou se é realmente uma questão de incompatibilidade. A tua autenticidade também é uma parte crucial da tua satisfação no trabalho! Deves dá-la se isso te for natural.

– Parece que encontrar um equilíbrio exige um esforço consciente – reflectiu Maria.

Maria agora mais serena, pede uma água. Levanta os olhos em reflexão e traz os joelhos ao peito. Tanto mundo, Maria, e tanto de bom que tens para dar com o que de genuíno tens.

– Verdade, exige, mas esse esforço vai levar-te a uma experiência de trabalho mais gratificante e autêntica. Ao seres genuína, não só estarás a respeitar-te a ti mesma, mas também a contribuir para um ambiente onde os outros podem sentir-se encorajados a ser autênticos. No fundo, a autenticidade pode ser uma força poderosa para o desenvolvimento pessoal e profissional.

Maria sorriu. Espero que mais aliviada e confiante. Ignorou a luz do telemóvel pela quarta vez. A conversa estava a surtir efeito, pensei satisfeita.

– Se a autenticidade fosse um bolo, Joana, que ingredientes juntarias para o fazeres? – desafiou com uma gargalhada.

Gosto da sua criatividade. É espontânea, directa, estruturada na forma de pensar e não tem vergonha de se atrever.

– Uns que sei que tens: autenticidade, integridade, transparência e empatia – respondi de forma assertiva.

Acredito que ser genuíno é um caminho para uma vida mais satisfatória e significativa, tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Envolve coragem, mas ninguém disse que a vida é fácil, e isso a Maria já sabe.

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