Steve Jobs estava errado. Encontrar um trabalho que se adora pode não ser a melhor coisa do mundo

O significado da frase “Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás de trabalhar nem um dia na tua vida”, atribuída a Confúcio, é incontestável. Ninguém quer um trabalho aborrecido, onde todos os dias se contam os minutos para sair. Mas gostar do trabalho que se faz nem sempre significa que isso deixe de ser trabalho. A Fortune desconstrói alguns mitos sobre o tema.

 

A pressão para adorar o que se faz tem vindo a aumentar neste século, desde o discurso de Steve Jobs em 2005 na Universidade de Stanford. O fundador da Apple encorajou os estudantes reunidos: «O vosso trabalho vai preencher uma grande parte da vossa vida, e a única forma de estarem verdadeiramente satisfeitos é fazerem o que acreditam ser um grande trabalho. E a única forma de fazerem um excelente trabalho é adorarem o que fazem. Se ainda não o encontraram, continuem à procura.»

Alguns professores universitários estabelecem uma linha directa entre esta afirmação e o sentimento de fracasso de alguns alunos que ainda não identificaram o que podem adorar fazer. Sentem-se sem rumo após o fim dos estudos, convencidos que não farão um excelente trabalho e que, consequentemente, podem não adorar as suas vidas.

Por isso é importante aliviar a pressão ao dissipar alguns mitos que existem sobre este tema.

Na infância devemos saber o que adoramos

Steve Jobs disse: «Descobri o que adorava fazer cedo na vida.» No entanto, para cada história de alguém que sempre teve vocação para informática, música ou vida marinha, e prosseguiu a sua paixão como carreira, há alguém que tropeçou na sua vocação por um acaso.

Não existe uma forma única de encontrar o trabalho que se ama, e muitas vezes é uma combinação de factores que fazem com que as pessoas sintam que adoram o seu trabalho. Em suma, é válida a recomendação de Jobs para “continuar à procura”, seja dentro da área actual ou noutras áreas, de um trabalho que pareça digno do seu tempo e esforço.

Fazer o que se gosta é uma forma infalível de ganhar mais dinheiro

Muitas vezes, as pessoas equiparam a satisfação no trabalho com o potencial de ganhar mais dinheiro. No entanto, há razões para acreditar que, quando um profissional adora o que faz, pode não procurar maximizar os seus ganhos do trabalho, porque está mais preocupado em fazer o trabalho em si.

Na verdade, um estudo descobriu que as pessoas acreditam que é justo pagar menos às pessoas que adoram o que fazem em comparação com aqueles que não adoram.

A vida é melhor quando se faz o que se gosta

No geral, as pessoas são mais felizes quando adoram o seu trabalho. No entanto, há evidências de que esta felicidade pode ter um custo para si e para os outros.

Quando adora o seu trabalho, pode ser mais difícil manter limites saudáveis ​​entre o trabalho e a vida. Não manter estes limites pode levar à exaustão e ao burnout, e as relações pessoais podem sofrer. Como qualquer amor, o amor pelo trabalho pode ser totalmente absorvente, por isso, tenha cuidado para o trabalho não o consumir.

A única forma de fazer um excelente trabalho é adorar o que faz

Um estudo revelou que os gestores achavam que os profissionais que adoravam o seu trabalho tinham um melhor desempenho do que aqueles que não adoravam o trabalho, mesmo quando tal não se verificava.

Na verdade, as pessoas que adoram o seu trabalho podem nem sempre fazer um trabalho melhor, e são mais críticas e selectivas tanto do trabalho que fazem como com quem trabalham. É possível produzir trabalho de alta qualidade, independentemente de o adorar, por isso não confunda paixão com desempenho.

Escolha um trabalho de que gosta e não terá de trabalhar nem um dia na vida

Por mais atraente que possa parecer, a maioria das pessoas não vai adorar o que faz a cada minuto de cada dia. Na verdade, esperar amar o trabalho a todo o momento pode resultar em desilusão quando este fica aquém, fazendo com que os profissionais deixem os seus empregos. Em vez disso, procure um trabalho que tenha momentos que lhe transmitam esse sentimento de amor, e outros momentos em que tal não irá acontecer.

Encontrar o trabalho de que se gosta não garante uma vida gratificante, tal como acomodar-se a um emprego que simplesmente não se odeia. Em vez disso, os profissionais devem pesar na balança o que recebem do trabalho em vez do que dão para fazer esse trabalho. Em vez de procurar um trabalho que adora, talvez deva procurar um trabalho que utilize os seus talentos para um propósito que valha a pena e para o qual seja tratado e pago de forma justa – por outras palavras, que valha a pena amar.

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