O retrato do mercado de trabalho português em 50 destaques
Da população empregada e as suas qualificações aos salários, passando pela expressão do teletrabalho, a Randstad Research analisou à lupa o mercado de trabalho português. E os números demonstram que estamos a atravessar um clima económico estável.
Por Randstad Research
Desde o início do ano, a Randstad Research tem apresentado, trimestralmente, 50 destaques do mercado de trabalho português, com base nos dados disponíveis do Instituto Nacional de Estatística (INE), do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), do Ministério do Trabalho, do Banco de Portugal e do Eurostat. Em Dezembro, deu a conhecer os números referentes ao terceiro trimestre (Q3) de 2024.
Antes de elencarmos os 50 destaques, e para maior facilidade de leitura e interpretação dos números, apresentamos a análise de Pedro Empis, Operational Talent Solutions director da Randstad Portugal.
Mercado de trabalho em recuperação? Sim, mas com riscos estruturais
O ano de 2024 trouxe notícias positivas para o mercado de trabalho em Portugal, mas uma análise mais aprofundada revela um cenário misto, que exige atenção. O crescimento do emprego, atingindo o valor histórico de 5,14 milhões de pessoas empregadas no terceiro trimestre, é certamente positivo. Contudo, será que estamos a caminhar para um mercado de trabalho mais sustentável e inclusivo, ou apenas a mascarar problemas estruturais com resultados imediatos?
Por um lado, os indicadores apontam avanços importantes. A estabilidade da taxa de desemprego, aliada à redução do desemprego de longa duração, são sinais de um mercado mais dinâmico. Além disso, as remunerações médias aumentaram 4,9% nos primeiros nove meses de 2024 face ao ano anterior. Num contexto de inflação alta, este crescimento sugere algum alívio no poder de compra dos trabalhadores, embora o impacto real varie entre sectores e regiões.
Outro aspecto positivo é a qualidade do emprego. A proporção de trabalhadores com ensino superior atingiu 34%, e a taxa de emprego deste grupo é de 79,2%, muito superior à dos trabalhadores com menos qualificações. Este dado reflecte uma correlação clara entre qualificação e empregabilidade, mas também expõe um mercado que recompensa mais quem está no topo da pirâmide educacional.
No entanto, a realidade do mercado de trabalho em Portugal continua desigual e limitada devido a desafios estruturais. As disparidades regionais permanecem evidentes: enquanto Lisboa e Setúbal apresentam taxas de emprego e dinamismo acima da média, grande parte do interior do País enfrenta níveis reduzidos de actividade e oportunidades.
Igualmente preocupante é a alta proporção de trabalhadores com baixas qualificações, que representam 32,5% do total, o dobro da média europeia. Essa dependência de mão-de-obra pouco qualificada limita o potencial do País para competir em sectores de maior valor acrescentado, como tecnologia ou serviços especializados. A taxa de desemprego jovem, mesmo com uma queda de 2,3 pontos percentuais no 3,º trimestre, permanece três vezes superior à média nacional, demonstrando a dificuldade em integrar os jovens no mercado de trabalho.
Outro dado que não podemos ignorar são os sinais de enfraquecimento no dinamismo empresarial. A inversão da tendência de constituição e dissolução de empresas, com mais encerramentos do que aberturas registadas no mês de Outubro, levanta questões sobre a capacidade do tecido empresarial português para sustentar um crescimento robusto e inovador do emprego. Aliado à concentração de emprego em sectores tradicionais, este dado evidencia a urgência de diversificar a economia para sustentar o crescimento do emprego.
Embora o mercado de trabalho esteja a modernizar-se em aspectos como o teletrabalho, que já abrange 19,2% dos colaboradores, os avanços continuam insuficientes para resolver os problemas estruturais. A dependência de sectores tradicionais, as desigualdades regionais e a incapacidade de integrar jovens e trabalhadores menos qualificados no mercado de forma significativa representam barreiras ao crescimento sustentável.
O futuro do mercado de trabalho em Portugal depende de um compromisso estratégico: investir na requalificação da força de trabalho, reduzir as desigualdades regionais e fomentar um ambiente favorável à inovação e ao empreendedorismo. Caso contrário, corremos o risco de que os avanços observados em 2024 se revelem apenas superficiais, incapazes de transformar estruturalmente o mercado de trabalho e de garantir a competitividade a longo prazo.
Leia o artigo na íntegra na edição de Dezembro (nº. 168) da Human Resources.
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