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Atracção e retenção de talento: para além do salário
Por Pedro Pinheiro, presidente do ISCAL
Actualmente tem sido discutida a saída de jovens qualificados de Portugal, sendo este um tema que reabre um debate essencial para o futuro do país: a sustentabilidade do mercado de trabalho português. Salários baixos e produtividade limitada são, sem dúvida, factores críticos que ajudam a explicar esta fuga de talentos. No entanto, a discussão não pode ser encerrada aqui. Para reter talento de forma eficaz, precisamos de uma visão mais abrangente, que vá além da mera compensação económica.
Vivemos numa era em que os profissionais, particularmente os mais jovens, procuram algo mais do que apenas uma remuneração competitiva. Hoje, o propósito do trabalho, as condições de bem-estar, as oportunidades de crescimento e a flexibilidade assumem um papel central na decisão de onde e como trabalhar. O modelo de trabalho moderno já não é apenas transacional – baseado na troca de tempo e esforço por um salário – mas profundamente relacional, onde a experiência do colaborador e a sua realização pessoal são prioridades.
Neste contexto, é importante perguntar: estamos a criar condições para reter e atrair talento em Portugal? Será que as empresas, as organizações públicas e o próprio país têm compreendido que, para além de salários, há outros factores decisivos que determinam a permanência e o sucesso dos profissionais? Por onde começar?
Portugal precisa de fazer uma aposta séria na criação de culturas organizacionais humanizadas, que promovam o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, garantam transparência na gestão e coloquem as pessoas no centro das prioridades estratégicas. Criar condições que valorizem o bem-estar psicológico e físico dos colaboradores não é um luxo, mas uma necessidade.
Além disso, é essencial fomentar a inovação e as oportunidades de desenvolvimento profissional. Não basta oferecer um emprego estável; é preciso proporcionar experiências enriquecedoras, que permitam aos profissionais crescer enquanto contribuem para os objectivos das organizações. A flexibilidade nas formas de trabalho, por exemplo, tem-se tornado um elemento-chave para atrair talento jovem, que valoriza profundamente a possibilidade de gerir o seu tempo de forma autónoma.
A produtividade é frequentemente encarada como uma métrica essencial para justificar investimentos ou estratégias de retenção de talento. No entanto, este conceito é frequentemente analisado de forma redutora. A produtividade não é apenas o resultado direto do esforço individual; ela está intimamente ligada ao ambiente de trabalho, às oportunidades de desenvolvimento e ao alinhamento entre os valores pessoais dos colaboradores e os da organização.
Enquanto continuarmos a associar a produtividade exclusivamente a factores económicos tradicionais, estaremos a ignorar uma parte significativa da equação. Um ambiente de trabalho tóxico ou desmotivador não pode produzir resultados sustentáveis, independentemente dos salários oferecidos. Por outro lado, equipas que se sentem valorizadas, motivadas e alinhadas com a missão da organização têm muito mais probabilidade de ser inovadoras e produtivas.
Se queremos verdadeiramente reter e atrair talento, é essencial ir além de oferecer apenas salários competitivos. É necessário adoptar práticas de gestão que promovam o bem-estar e a realização profissional, transformando o trabalho numa experiência mais significativa para os colaboradores. Humanizar as relações de trabalho não é apenas uma questão ética; é uma estratégia inteligente para garantir a sustentabilidade do mercado laboral e, por consequência, do desenvolvimento económico do país.
Portugal precisa de repensar o seu mercado de trabalho como um todo. A saída de jovens qualificados, muitas vezes vistos como “cérebro” e “motor” de inovação, não é apenas um problema económico – é um problema estrutural. É tempo de investir seriamente nas pessoas, criando um ambiente onde estas queiram ficar e onde possam prosperar.
Porque, no fundo, o verdadeiro investimento no talento vai além da esfera económica. É um investimento no futuro do país, na sua capacidade de inovar, competir e crescer num mundo em constante transformação. Que medidas concretas estamos dispostos a adoptar para garantir que Portugal se torna um destino atractivo, não apenas para os que cá nascem, mas também para os que, de fora, olham para nós como uma oportunidade? A resposta a esta questão definirá o país que queremos construir.