Exportação de talento

A Microsoft tem portugueses pelo mundo nas mais altas posições do Grupo. Dalia Turner, directora de Recursos Humanos em Portugal, é canadiana e passou mais de 10 anos a trabalhar na Ásia, conta-nos as suas aprendizagens internacionais em primeira-mão.

 

Os trabalhos internacionais são uma óptima experiência de desenvolvimento para os colaboradores. Trabalhar num país diferente, particularmente um que é culturalmente distinto daquele onde passamos a maioria da nossa carreira, é uma óptima maneira de desenvolver competências e capacidades de uma forma inovadora.

Trabalhar em Portugal é muito diferente de Singapura, que por sua vez é muito diferente do Canadá. Tenho mais de 15 anos de experiência em RH e, apesar de as motivações básicas das pessoas permanecerem semelhantes por todo o mundo, mudar-me para Portugal exigiu que fletisse os meus músculos de RH de outra forma. Portugal tem uma legislação laboral diferente de Singapura e do Canadá – ambos favorecem mais o empregador que o empregado. Este ambiente legislativo díspar resultou em novas experiências, pelo que o que funcionava em Singapura e no Canadá, nem sempre funcionará aqui.

E depois há a língua. Esta é a primeira vez em que estou a trabalhar num país onde o Inglês não é a língua de trabalho dominante – isto é, fora da Microsoft. Como resultado de todas as diferenças, precisei de ajustar o meu estilo para que correspondesse ao ritmo de trabalho do sul da Europa e conseguir estar confortável em não ser capaz de compreender 100% das coisas que acontecem à minha volta.

A pronunciada curva de aprendizagem que resulta destas experiências de desenvolvimento e o crescimento pessoal que decorre de viver e trabalhar num país diferente são alguns dos principais benefícios, para os colaboradores, de aceitar trabalhos internacionais. Contudo, as experiências internacionais também trazem vários benefícios para a empresa. Um dos benefícios do qual me tenho apercebido desde que estou em Portugal é a diversidade de pensamento e experiência que acompanha o colaborador nestas missões.

Dentro da nossa equipa de liderança aqui em Portugal, eu sou uma das três colaboradoras em trabalho internacional. Além de mim, há uma americana que veio da “corp” – a nossa sede em Seattle -, bem como um colega da nossa filial italiana que começou recentemente numa função que é diferente daquela que fazia em Itália.

Como chegámos a Portugal em momentos diferentes, estamos todos em pontos distintos da nossa viagem de desenvolvimento, ajustando-nos aos métodos de trabalho portugueses. Trazemos connosco novas e diferentes perspectivas e abordagens aos desafios profissionais que encontramos em Portugal. Outros membros da nossa equipa de liderança já se acostumaram a trabalhar com quem frequentemente pensa e age de forma diferente. Também foi uma adaptação para eles, uma vez que nem sempre respondemos da forma que eles esperam. Ainda assim, foi alcançado um grande equilíbrio. Também notei que perguntas tais como “como é que isto teria funcionado no país xyz” ou “como é que os outros países fazem isto” são frequentemente ouvidas nas nossas reuniões, alavancando as experiências que temos em tempo real.

Também trazemos connosco uma rede de contactos diferente daquela que é tradicionalmente construída dentro da filial portuguesa. E tal como toda a gente vos dirá: mais facilmente as pessoas que conhecemos – e não aquilo que sabemos – é que nos ajudam a ter as coisas feitas. Ser capaz de tirar proveito de uma alargada rede de contactos permite tornar o negócio mais ágil. Impulsionar esta rede facilita uma descoberta mais rápida de potenciais soluções e opções, e pode remover obstáculos mais rapidamente.

Além dos colaboradores internacionais e em todo o negócio, a nossa equipa portuguesa é também abençoada com um significativo número de pessoas que regressaram a Portugal após as suas próprias experiências de trabalho internacionais. Esta repatriação do talento traz também experiência, formas diversificadas de pensar e dá ao negócio um outlook global. De facto, a assimilação de conhecimento dos repatriados é provavelmente a forma mais rápida de integrar novas ideias de várias partes da empresa. Aqueles que regressam do estrangeiro compreendem as formas portuguesas de trabalhar e estão mais aptos para incorporar as ideias e experiências que adquiriram além-fronteiras. Estão ainda mais conscientes daquilo que pode funcionar e dos potenciais desafios que podem surgir quando sugerem uma nova ideia.

Atualmente temos um dos nossos colegas portugueses a trabalhar na Suíça, para onde se mudou depois de 18 meses no polo de Portugal. Tem agora a oportunidade de agarrar uma função semelhante numa empresa maior e mais madura. Por outro lado, o nosso antigo General Manager, João Couto, abraçou um novo desafio enquanto COO da filial alemã. Na sua nova função, o João incorpora as experiências que adquiriu enquanto country manager em Portugal, ao mesmo tempo que experiencia as diferenças de fazer negócios fazendo parte de uma grande empresa, que recebe vários investimentos e tem mais recursos devido à sua dimensão. Ele irá também, durante este processo, ganhar a experiência de integrar a equipa de liderança de uma área com um único país, onde todas as prioridades estão alinhadas, por oposição à equipa de liderança de uma área com vários países, como a Europa Ocidental, na qual se inclui Portugal, onde cada country manager tem prioridades diferentes devido ao seu próprio contexto de negócio.

A capacidade de sustentar o desenvolvimento dos colaboradores ao mesmo tempo que se aumenta a diversidade numa equipa, aumentando o conhecimento e experiência disponível para toda a população de funcionários, é uma das grandes vantagens dos trabalhos internacionais. Potenciar benefícios requer sensibilidade e autoconsciência da parte dos participantes, que têm de estar abertos a fazer coisas de formas diferentes e a aceitar que nem sempre têm uma única resposta; e um espírito de inclusão e recetividade por parte da organização, para tirar o máximo partido do conhecimento que lhe está a ser entregue pelo colaborador. Quando uma empresa acerta nos trabalhos internacionais, e eu já testemunhei isto várias vezes na Microsoft, é uma situação de vantagem mútua, para o colaborador e para a empresa.

 

 

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