Saúde e profissões da saúde como eixo estratégico de qualificação

Por Ermelinda Carrachás, directora da Escola Superior de Saúde do Piaget de Almada

Vivemos uma fase turbulenta dos sistemas de saúde, em Portugal e noutros países, marcada pelo envelhecimento populacional, pela migração em larga escala e pela crescente complexidade dos cuidados, impulsionada pela evolução científica e tecnológica. Estes factores geram pressões permanentes sobre instituições, profissionais e modelos de organização dos cuidados.

 

A crescente procura de profissionais de saúde em Portugal

Em Portugal, verifica-se uma procura crescente de profissionais de saúde em quase todas as áreas. A aposentação de muitos trabalhadores, a emigração de jovens qualificados e a dificuldade em reter profissionais criam défices, difíceis de colmatar. Este cenário resulta de transformações demográficas e sociais que exigem aumentar a formação e melhorar as condições de trabalho para atrair e reter talento.

 

Novas áreas críticas: envelhecimento, cuidados continuados, reabilitação e saúde mental

O envelhecimento da população é um dos grandes motores destas mudanças, associado a uma maior esperança de vida, nem sempre acompanhada de qualidade. O aumento das doenças crónicas, da dependência e da necessidade de cuidados continuados e paliativos exige equipas multidisciplinares capazes de actuar em contextos institucionais e domiciliários. A reabilitação ganha centralidade na promoção da autonomia, reforçando o papel dos fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala, entre outros, tanto em ambiente clínico como comunitário.

A saúde mental tornou-se, igualmente, um desafio prioritário, sendo uma das principais causas de incapacidade fortemente associada a ciclos de pobreza. Persistem carências de psiquiatras, psicólogos, enfermeiros especialistas e técnicos preparados para actuar em proximidade, prevenção e intervenção precoce.

 

Desafios e oportunidades para formação superior em saúde até 2030

Até 2030, o ensino superior enfrentará desafios e oportunidades. A formação superior terá um papel determinante na preparação de capital humano apto a enfrentar os desafios demográficos, sociais e tecnológicos.

A oferta formativa deve alinhar-se com as necessidades do país, adoptando a modernização pedagógica com simulação clínica avançada, ensino híbrido e metodologias centradas no estudante a par da actualização contínua de competências. A sólida articulação entre instituições académicas e serviços de saúde será decisiva, garantindo estágios de qualidade e ligação à prática profissional. A incorporação de tecnologias como telemedicina, inteligência artificial e dispositivos digitais de monitorização, transformará a prestação de cuidados e deverá ser integrada desde a formação inicial, preparando profissionais para o futuro.

A saúde e as suas profissões podem, assim, afirmar-se como eixo estratégico de qualificação nacional, decisivo para a sustentabilidade, equidade e inovação do sistema.

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