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A Angústia do Excesso de Informação
Por António Saraiva, Business Development Manager na ISQ Academy
Será que saber demais é um problema? O excesso de informação está a provocar uma angústia fora de comum e que nem nos damos conta dela. Angústia típica provocada pela incapacidade das pessoas em conseguirem processar tanta informação. Há especialistas que referem que quanto mais informação, mais a nossa insegurança aumenta.
E há números verdadeiramente assustadores: todos os anos são produzidos 1,5 biliões de gigabytes de informação, que se dividirmos pela população global do planeta dará cerca de 250 megabytes por habitante. Só na internet existem mais de 2 biliões de páginas disponíveis e que muito em breve se estimam cerca de 3 biliões.
Mas é importante a informação? Sem dúvida que sim. A questão está na rotação da mesma informação, de se conseguir selecionar a melhor informação e na rápida obsoluscência que ela atinge. Quando acabamos de processar, já existe… renovada informação. Do ponto de vista da saúde mental, há já quem identifique síndrome específico associado ao excesso de informação. Com desordens neuróticas associadas nos casos mais graves, com perturbações do sono ou, no mínimo, a sensação de desconforto.
Há estudos que apontam para maiores perturbações nas organizações de cariz mais digital do que na dita economia mais tradicional. E a investigação científica é outro exemplo: há 100 anos existiam, no mundo, cerca de 200 revistas científicas, hoje existem mais de 100 mil, das quais 10 000 em medicina. Diremos que é fundamental toda esta informação! Sem dúvida que a sua importância não é colocada em causa. Se não fosse ela certamente não teríamos a vacina para a Covid_19 disponível em tão pouco tempo.
O problema é sempre uma questão de critério e contexto. Pelas suas consequências imediatas. Trata-se de não acumular todo o Conhecimento, mas saber gerir o Conhecimento, identificando, selecionando e utilizando tão só o que interessa para dado contexto. Há demasiados dados a circularem, nem todos confiáveis. O rastreio que fazemos na Internet, por exemplo, é o padrão? Não, se não o confrontrarmos com fontes seguras, a nossa ansiedade irá disparar. Exemplo: perante um sintoma físico, fisiológico, ou mesmo psicológico, há a tendência a exponenciar uma doença, ou a desvalorizá-la. Certamente, o melhor é marcar uma consulta de medicina. Dados recentes de estudos em vários países indicam que cerca de 40% das pessoas fazem autodiagnóstico e automedicação consultando a Internet e a tendência é aumentar.
Toda a angústia, sem muitas vezes a percecionarmos claramente, gerada pelo excesso de informação, advém do facto que para se obter sucesso, pensa-se que nunca se está devidamente atualizado. Uma sensação de frustração quando não conseguimos responder a todos os mails ou lermos todas as revistas da nossa especialidade. Não querermos demonstrarmos a terceiros que não lemos o livro, ou vimos o documentário ou filme que nos é referido. Além do medo de dizer… não sei!
Cada pessoa deve escolher o seu próprio caminho para obter Conhecimento, para se sentir informado. O importante é que não podemos todos saber tudo. Apostemos nos fenómenos de partilha, nas conversas face a face, mesmo que seja à mesa do café. Não é vergonha nenhuma, sentirmo-nos ignorantes em algumas matérias, temos o direito a essa ignorância. Não saber, permite-nos questionar sempre, abrirmos vias de comunicação constantes e estabelecermos plataformas colaborativas. Saber tudo? É o caminho da solidão!