A arquitectura do bem-estar, antes do ioga e do mindfulness

De acordo com um estudo recente da Organização Mundial de Saúde, quatro em cada 10 pessoas sofrem de burnout, doença reconhecida em 2019, pela OMS, como consequência de stress crónico relacionado com a profissão, e que se caracteriza por um sentimento de exaustão constante, negatividade e redução significativa de produtividade. É, aparentemente, mais prevalente em mulheres e indivíduos com menos de 30 anos.

Por Joana Lacerda, Project leader na Openbook

 

A cultura crescente do wellness e do self-care, tão amplamente divulgadas, não são a solução para o burnout. A resolução do problema passa por questões estruturais e estas deverão partir de iniciativas das organizações. A verdade é que, empresas que não estejam atentas ao bem-estar dos seus colaboradores estão sujeitas a maiores índices de insatisfação, que consequentemente levam a uma taxa de rotatividade alta e diminuição de produtividade.

A solução passa, em grande parte, pela redefinição de políticas de gestão, incluindo, entre outras, a revisão da carga excessiva de trabalho, a implementação de medidas que mitiguem a pressão constante, uma clara definição de objectivos e responsabilidades e uma comunicação eficiente. Paralelamente, o ambiente físico surge como uma oportunidade de alavancar a mudança das organizações. A flexibilidade e adaptabilidade do espaço e o conforto são actualmente considerados pilares fundamentais para um local de trabalho que privilegia a saúde mental de quem dele usufrui.

 

Adaptabilidade e flexibilidade no desenho do layout
O sucesso de um escritório começa com a definição de um programa claro, com uma ampla oferta de locais que se adequem a todo o tipo de tarefas e de personalidades. E porque nem todos respondem ao mesmo ambiente físico de igual forma, é fundamental envolver e dar voz aos colaboradores.

Aos velhos gabinetes e openspaces deverão juntar-se várias salas de reunião com diferentes características: salas de equipa, pequenas salas individuais para trabalho de concentração, cafetarias que se possam adaptar a áreas de convívio e trabalho informal, fora das horas de refeição.

Organizações que disponham de escritórios com grandes áreas devem, também, ponderar o benefício de ter espaços para serviços clínicos, apoio psicológico, amamentação e mindfulness, entre outros.

 

Conforto
Após a arquitectura estar definida, há vários aspectos que importa ter em conta, de entre os quais destacamos a iluminação, a acústica e a ergonomia.

A iluminação é especialmente relevante, não apenas a luz natural, mas também a artificial. Um light-design eficiente, com a temperatura correcta e adaptada aos espaços e a possibilidade de regulação ao longo do dia, cria uma atmosfera acolhedora e motivadora. Por outro lado, pode reduzir a fadiga ocular, aumentar a concentração e melhorar o humor dos colaboradores.

Um ambiente de trabalho tranquilo, com controlo de ruídos, promove a concentração e reduz o stress. Isso pode ser alcançado através de isolamento acústico e oferta de espaços para reuniões e chamadas telefónicas.

A somar, a ergonomia, onde se incluem cadeiras ajustáveis e mesas de trabalho reguláveis em altura, ajudam a manter uma postura saudável, reduzindo a tensão muscular e a fadiga.

As organizações têm agora a oportunidade de apostar em ambientes de trabalho saudáveis e adaptados aos perfis dos seus colaboradores, por forma a impactar positivamente a qualidade de trabalho, a satisfação e o bem-estar. As aulas de ioga e mindfulness poderão vir depois.

Ler Mais