A estabilidade profissional está muito para além do contrato. A estabilidade emocional é cada vez mais importante (vídeo)

“De pessoas para pessoas” foi o mote para a RE(talk) da passada sexta-feira que contou com a presença de Ana Teresa Rodrigues, HR Operations manager da Pepsico Portugal, e Cláudia Ferreira, regional business manager | Staffing da Randstad Portugal. Ainda sob o “tema maior” da estabilidade profissional, as convidadas defenderam que, mais do que um contrato, a sensação de estabilidade está relacionada com a forma como as empresas comunicam e como tratam e interagem com os seus colaboradores.

Por Sandra M. Pinto

 

Em tempos de instabilidade e incerteza, a estabilidade profissional parece ter reiterado a sua importância, mas com o mundo do trabalho a evoluir, é preciso perceber que também o conceito de estabilidade não se restringe ao vínculo contratual entre empresa e colaborador.

Na visão de Ana Teresa Rodrigues, a estabilidade profissional está relacionada com um conjunto de outros factores, «nomeadamente o clima organizacional, as relações que se geram nas empresas e também a capacidade que as empresas têm para entender e perceber as necessidades dos colaboradores e os seus estados de animo, aspectos que contribuem muito para aquilo que é a estabilidade profissional, a qual não pode estar só dependente da relação contratual».

Cláudia Ferreira concorda que a estabilidade não está só ligada a vínculos contratuais. «A sensação de estabilidade está muito relacionada com a forma como as empresas comunicam e como tratam e interagem com os seus colaboradores», defende, acrescentando «o papel dos lideres e a forma como estes se envolvem com os colaboradores nas actividades do dia-a-dia, e, claro, a forma como cada profissional percepciona a empresa».

Sendo certo que quando se fala em estabilidade profissional, é indissociável da estabilidade financeira, nas palavras das especialistas começa a ganhar relevância a estabilidade emocional. Ana Teresa Rodrigues faz notar que «em casos onde existem trabalhadores temporários e outros com contrato sem termo, há diferentes maneiras de percepcionar esta estabilidade emocional. No nosso caso isso é muito evidente, apesar dos nossos esforços para que assim não seja», revela. «A ligação às empresas é muito mais difícil quando se trata de trabalho temporário, o que leva a ter de existir um esforço maior por parte das empresas de trabalho temporário que têm de criar aqui um vinculo maior com os colaboradores, o que nem sempre simples, pois eles estão no cliente.»

Integrando uma empresa especializada em gestão de Recursos Humanos, Cláudia Ferreia corrobora, «no caso dos trabalhadores temporários, este vinculo emocional e esta estabilidade tem de ser trabalhada diariamente e a Randstad faz esse trabalho no dia-a-dia, através da comunicação com os colaboradores e do acompanhamento do cliente, para cimentar a ligação do colaborador à empresa», garante. «A nossa ligação com o colaborador é de modo a criar com ele e entre ele o cliente uma efectiva conectividade. Esta relação tripartida é sempre trabalhada de uma forma que o colaborador percepcione essa ligação e crie essa estabilidade, mesmo estando a trabalhar para um empresa de trabalho temporário.»

Mas esse também deve ser um “trabalho” feito pelas empresas clientes, até porque será o forma de reter os profissionais que se destacarem. Ana Teresa Rodrigues revela que tentam «minimizar o sentimento de não pertença, fomentado o vinculo e estabilidade emocional do colaborador».

 

Um conceito em evolução

Com novas formas de trabalho a ganhar relevância, como o trabalho por projecto, a verdade é que para muitos profissionais o conceito de estabilidade profissional ligado a um contrato não faz sentido, ou não é valorizado. E, pelo menos no sector da Tecnologia, isso não é associado a precariedade, ao que contrário do que muitas vezes acontece com o trabalho temporário. A HR Operations manager da Pepsico Portugal ressalva que esta realidade depende muito das dinâmicas do mercado e dos sectores de actividade. «Quando falamos de tecnologia, falamos de um sector absolutamente dinâmico em que a empregabilidade é muito alta, mas se falarmos de Indústria, falamos de situações diferentes. Sem dúvida que vamos ter de nos adaptar, mas sempre em função da dinâmica e do tamanho do mercado em causa.»

Com base na sua experiência na área, a especialista da Randstad salienta que a situação tem vindo a sofrer alterações em virtude não só do cada vez maior número de modelos de trabalho, mas também da actual pandemia, a qual veio trazer uma nova realidade.  «Desde há alguns que as gerações percepcionam não o emprego para a vida , mas o emprego por projecto, por motivação ou desafio ou crescimento profissional.» Mas a estabilidade profissional continua a ter um papel importante na opção de mudar de emprego, apesar de, segundo o estudo de employer branding da Randstad, tem vindo a perder relevância.

Para Ana Teresa Rodrigues – e ainda que reconheça que a estabilidade contratual vai sempre estar presente -, estabilidade profissional tem muito mais que ver com a relação que cada um de nós tem com o trabalho, «e nisso a pandemia acabou por vir desempenhar um papel importante». Por outro lado, «as pessoas têm de sentir que há uma participação dos lideres na actividade da empresa. Isso passa pela relação com as chefias e pelo ambiente de trabalho que se vive na empresa, fundamental para que a relação de trabalho se mantenha mais estável e contínua.

«A liderança é importante não só para a estabilidade emocional, mas em todos os outros factores que são considerados como os principais para a vida profissional, como seja o equilíbrio entre vida pessoal e profissional ou a própria progressão na carreira», acrescenta Cláudia Ferreira.

«Apesar de não existirem trabalhos para a vida, as empresas desejam manter os bons profissionais, desde logo porque investiram neles. Aqui entram, e são muito importantes, todos os estímulos que as empresas sejam capazes de criar», defende Ana Teresa Rodrigues. «São decisivos no prolongar dessa estabilidade. As empresas têm de ser muito dinâmicas na óptica de satisfazer o colaborador, proporcionando-lhe experiências diferenciadoras, crescimento de carreira mais rápidos.»

«Se a empresa conseguir estabelecer a conexão certa com a pessoa, se isso acontecer no momento certo, certamente que essa ligação vai ajudar a uma estabilidade profissional», conclui Cláudia Ferreira.

 

(re)Veja esta conversa aqui, na íntegra. A moderação foi assegurada por Ana Leonor Martins, directora de redacção da Human Resources.

As re(talks) são uma iniciativa da Randstad em parceria com a Human Resources, promovida desde Março, e estão todas reunidas aqui.

 

 

 

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