A flexibilidade tem de ser mais do que um slogan corporativo

Prolifera o mote “work-life integration”, mas quem, de facto, está a praticá-lo? E como? É preciso compreendermos como, enquanto organizações, devemos investir na flexibilidade e autonomia das nossas equipas. O respeito por cada pessoa, de forma individual, cria este sentimento recíproco de valorização e produtividade: mais satisfeitos no local de trabalho, os colaboradores são mais produtivos e os líderes também ganham com os resultados da equipa.

Por Ana Correia, HR manager da Zühlke Portugal

 

A verdade é que a equipa de liderança não é um grupo exclusivo de pessoas “iluminadas” com poder de decisão em nome de todos os colaboradores. Cada pessoa está numa fase de vida diferente, com responsabilidades, constrangimentos e necessidades díspares. Potenciar a flexibilidade laboral é assumir um voto de confiança nos colaboradores e destes em si mesmos, aumentando assim a responsabilidade e autonomia para realizarem as suas tarefas em estreita colaboração com a equipa – onde quer que esta esteja.

A globalização dos projectos e a fluidez dos modelos de trabalho exige esta transformação de mindset. Com colegas em diferentes regiões e até mesmo países, com horários diferentes, em trabalho remoto ou híbrido e com necessidades individuais específicas, é imprescindível adaptarmos a forma como gerimos o talento – afinal, se alguém quer manter um controlo excessivo, total e desnecessário sobre a equipa terá de permanecer acordado de sol a sol para responder a todos os fusos horários.

Quando há comunicação, coordenação e compreensão de todas as partes envolvidas, cujo objectivo final do trabalho em equipa está determinado, então temos todas as condições para permitir essa flexibilidade. A autonomia acarreta responsabilidade, contribuindo para equilibrar a produtividade no trabalho e a vida privada dos colaboradores.

Fazer formações escolhidas pelo colaborador em horário laboral sem necessidade de “repor horas”, usufruir do tempo acumulado num banco de horas noutro momento, ajustar a semana de trabalho para 4 dias, ou reduzir, por exemplo, até 80% a carga de trabalho para responder a compromissos pessoais são algumas das medidas que podemos implementar nesta cultura de flexibilidade.

Será tão aventureiro assim atender ao ritmo de cada pessoa, ao momento em que cada um realmente entra no seu “flow”? Ao criarmos as ferramentas necessárias para responder às necessidades de cada pessoa estamos a promover um ambiente saudável e a contribuir para a felicidade organizacional. Quando os colaboradores beneficiam de maior autonomia e a empresa lhes confia a responsabilidade sobre os seus próprios resultados, contribuímos para a sua produtividade e permanência na equipa.

Trabalhamos com adultos, então tratemos as nossas pessoas assim e depositemos nelas o poder de decidirem como alcançar os melhores resultados. Valorizar o maior asset da organização através da confiança que depositamos no modo como gerem os seus dias e os seus horários, sem justificações constantes ou gestão intrusiva, é contribuir para que alcancem os melhores resultados, se desenvolvam pessoal e profissionalmente e elevem consigo toda a equipa.

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