A Forma e o Conteúdo ou o Como e o Porquê

Por João Nuno Bogalho, Gestor de Pessoas. Coordenador de pós-graduações no Instituto Piaget

Na sociedade, na política, nas organizações, e até mesmo na vida pessoal, cometemos um equívoco que – acredito – determina muita da nossa ineficiência colectiva e individual. Focamos na forma, no como, na regra, no processo. Em detrimento, quase total, da discussão do porque, do conteúdo, do desígnio.

Damos por nós sem foco de longo prazo. Sem saber sequer o “onde” queremos chegar. Ao nível político isto é por demais evidente. A lacuna de uma estratégia a longo prazo, que implique mudanças transgeracionais. É, na essência, o aqui e agora, tendo como prazo máximo as próximas eleições.

Neste nível decisório, como sociedade, tendemos a focar a discussão no como, no processo, na regra do detalhe, nas excepções. Criamos tantos processos, tanta burocracia, tanto prazo… que acabamos por perder o foco e o porquê. Acabamos no ridículo de concluir que no Conteúdo há um crime, mas a Forma iliba o criminoso. Temos um caso recente que bem evidencia esta situação.

Desenganemo-nos se pensamos que isto é só na política. Não é. Ao nível das organizações, demasiadas vivem esta realidade, de forma endógena e estrutural. Neste foco de como se faz, em detrimento do porquê se faz.

Vai longe o tempo em que gerir era ditar, procedimentar à exaustão o como, em procedimentos e regulamentos exaustivos. E quando uma pessoa inicia uma função, todo o foco era explicar o como fazer. E a pessoa fazia. Assim. Porque sempre foi assim. Desativa-se o cérebro e executa-se. E é mais um a fazer o processo. E uma vida profissional inteira, a ir para o trabalho, executar, voltar a casa. E isto não é uma verdade apenas para funções menos qualificadas, rotineiras, ou similares. Este é, ainda e em muitas realidades, a verdade do chefe e do subordinado.

Este formato de focar no como ou na forma, está condenado. A entropia das próprias organizações concretiza-se por elas próprias, mas também pela incapacidade de atrair pessoas com capacidade para pensar no porquê.

A mudança não está na forma como capacitamos as pessoas. As pessoas estão capacitadas, são adultas, conscientes e responsáveis. E gostam de contribuir, fazer parte, sentir-se realizadas, crescer intelectual e profissionalmente.

O desafio está em ter líderes que consigam entender, viver, explicar e influenciar o porquê, o conteúdo, o objetivo. Essa é a função nobre da liderança. O como e a forma, é o espaço em que as pessoas colocam as suas competências todas, a sua motivação, o seu empenho. Onde contribuem para que todos cheguemos ao objetivo.

Quando muito se discute e “inventa” sobre como atrair, motivar, comprometer, reter as pessoas nas organizações, talvez fosse um bom desafio começar por explicar às pessoas o porquê, o foco, a razão de ser. Porque o que nos motiva, compromete e nos faz superar, são os objetivos, as visões, as causas.

Talvez seja a pergunta que mais fazemos na vida: “Porquê?”. E é tão frustrante não ter respostas.

Diz-me onde ir, que eu defino como vou. Mas vou, porque quero ir para aí.

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