A semana de quatro dias e o well-being

Sendo eu uma forte defensora do well-being organizacional, não poderia estar mais de acordo com a proposta de valor da semana de quatro dias para as nossas pessoas. Não sou ingénua, sei que implica uma alteração do mindset e do status quo, mas fiquei convencida de que seria possível fazer esta transição de forma tranquila

 

Por Daniela Lima, Managing partner da Swaifor

 

Depois de um fim-de-semana prazeroso com os termómetros a registarem máximos históricos no mês de Abril, eis que o mês de Maio não fica nada aquém das expectativas! Numa segunda-feira, dia 1 de Maio – dia em que se celebra o Dia Internacional do Trabalhador –, não poderia deixar de pensar no desafio que representa a semana dos quatro dias de trabalho. Porquê? Porque me sinto completamente revigorada após experienciar duas semanas de quatro dias. Fui à minha pilha de livros, com o nome de “os livros que comecei a ler e por força das circunstâncias não terminei” – acreditem que está cada vez maior –, e encontrei o livro que procurava: “Sexta-Feira é o Novo Sábado”, do prestigiado autor Pedro Gomes.

Confesso que acho a “semana de quatro dias” uma ideia espectacular, audaz e que vende “super bem”, atendendo às restrições que se colocam hoje ao nível do mercado de trabalho e à autoconsciência dos profissionais relativamente ao seu bem-estar. Sei que não é o meu forte, a microeconomia ou macroeconomia, mas detive- -me nos vários argumentos que o Pedro Gomes utiliza no seu livro para tecer o encadeamento lógico do seu raciocínio para que a sociedade possa caminhar neste sentido evolucionista. Contudo, ao contrário do que eventualmente pensamos, esta proposta está fortemente consubstanciada na prática e na teoria organizacional, inclusive, não é uma ideia recente ou audaz, mas o resultado da evolução técnica e científica das civilizações, em muito impulsionada pelos recentes avanços tecnológicos – novas formas de trabalho, a inteligência artificial, a transformação digital, falta de talento ou riscos psicossociais (Paul Samuelson, Livro “4 Days, 40 Hours”, publicado 1970).

Deter-me no livro “Sexta-Feira é o Novo Sábado” – que prazerosamente estou a ler –, é permitir-me entrar no confronto entre muitas das minhas ideias pré-concebidas em relação ao trabalho, à satisfação que obtemos dele, à qualidade e quantidade de energia que investimos nele, tal como à compreensão da relação entre o tempo investido e a produtividade. Conforme John Maynard Keynes sugere, «o maior problema não é fazer com que as pessoas aceitem novas ideias, mas fazê-las esquecer as antigas» (Pedro Gomes, “Sexta-Feira é o Novo Sábado”). Num dos muitos desafios que lançou, abracei um – acreditem que existem muitos e até mais cativantes, mas este prendeu-me (que pena o professor Ivo Dias não ter tido melhor aluna nas suas Unidades Curriculares de Economia). Começamos por ter de compreender que as economias são dinâmicas e que, consequentemente, procedem de forma natural a ajustamentos constantes, conforme a história económica tem mostrado. O interessante é, quando falamos do well-being e do impacto que este tem na produtividade, temos de compreender o que é a produtividade.

O exemplo que Pedro Gomes utiliza no seu livro é brutal. Começa por nos explicar, de forma simples, a diferença entre a produtividade média e a produtividade marginal, que considera ser a pedra de toque no que concerne ao entendimento da ciência económica. Em termos práticos, o que é perceptível é que se eu trabalho muitas horas por dia, aumento os níveis de produtividade média «quanto mais horas ou dias alguém trabalha, maior a sua contribuição acrescentada, mas a sua contribuição marginal diminui» porque os «trabalhadores são menos produtivos na oitava hora de trabalho do que na sétima e, concomitantemente, menos produtivos à quinta-feira do que à sexta-feira».

Parece que estas questões que emergem em contexto laboral, como o stress, a ansiedade, o esgotamento dos trabalhadores, o síndrome de burnout, a falta de equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional, a doença mental e as doenças físicas (auto-imunes), poderiam encontrar na semana de quatro dias a solução para travar a sua proliferação em contexto organizacional.

Este conjunto de factores acaba por impactar as organizações e as empresas, com custos na produtividade e nos seus resultados. Contudo, o bem mais precioso das organizações são as pessoas, como tal, volto a escrever sobre o impacto da semana de quatro dias, tendo em conta as vantagens, mas não descurando as desvantagens. Pelo menos, deixo o debate em aberto sobre a miríade de possibilidades que se abre em contexto organizacional para alavancar o well-being organizacional.

Em suma, é bom ter sonhos e um objectivo pelo qual lutar, sem perder o foco no propósito. Acredito que a sociedade, não só por intermédio de legislação ou da obrigação, deve ser mais reflexiva. Fica o repto! Vamos permitir-nos sonhar com um futuro mais promissor no trabalho, em que o well-being seja uma prioridade para todos!

 

Este artigo foi publicado na edição de Maio (nº. 149) da Human Resources, nas bancas. 

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