Afinal, quem é o “amigo secreto” do DRH?

Por Pedro Ramos, CEO da Keeptalent Portugal

 

Com a chegada do Natal, é habitual falarmos de tradições que unem as pessoas e que as fazem sentir-se acompanhadas como a do “amigo secreto”. Mas, vamos pôr em perspectiva: quem são os “amigos secretos” dos directores de Recursos Humanos (DRH)? Será que os DRH têm realmente consciência da sua posição na hierarquia das organizações ou estão tão absorvidos nas suas funções administrativas que se tornam invisíveis nas reuniões estratégicas das direcções?

Espera-se que os DRH sejam os defensores da experiência do colaborador, mas será que eles têm voz activa “na hora” de aconselhar os Conselhos de Administração? A verdade é que muitos DRH permanecem à margem das decisões-chave quando se trata do futuro da (sua) empresa.

São os CEO os verdadeiros amigos secretos dos DRH? Não me parece… afinal, quanto mais próximos estamos do topo, mais as nossas vozes podem se perder entre os objectivos financeiros e as métricas de desempenho.

E o que dizer das pressões que os DRH enfrentam? Muitas vezes, as suas prioridades são definidas por orientações que vêm de cima, sem levar em conta as necessidades reais dos colaboradores. Quem está a ouvir as suas preocupações? As questões emocionais, os feedbacks, as aspirações dos colaboradores e até mesmo as dinâmicas do ambiente de trabalho são frequentemente relegadas para um segundo plano. Assim, quem são os “amigos secretos” dos DRH? Tenho para mim… que poderão até ser as próprias direcções que precisam de abrir os olhos para o valor estratégico do capital humano.

Neste contexto de transformação e pressão, os DRH devem desafiar-se a si próprios a ser mais do que meros executores de políticas. Assumirem-se como os verdadeiros “arquitectos” da cultura organizacional é um passo essencial. Mas para isso, precisam de aliados que valorizem a sua visão e se comprometam com o bem-estar da equipa. Será que os DRH conseguem encontrar esses aliados dentro das outras direcções, ou continua a ser um “jogo de desgaste emocional” nos meandros dos corredores das administrações?

Mais importante ainda, os DRH devem, acima de tudo, ser os seus próprios “amigos secretos”. Isso significa valorizarem-se, investirem no seu próprio desenvolvimento e posicionarem-se estrategicamente dentro da organização. Ao se autovalorizarem, conseguem não apenas fortalecer a sua posição, mas também inspirar a sua equipa.

O desenvolvimento contínuo das suas competências, a construção de uma rede de influências e o fortalecimento da sua autoestima são fundamentais para que possam ser ouvidos e respeitados nas mesas de decisão.

Neste Natal, podemos reflectir sobre o que realmente significa ser “amigo secreto”. É ser capaz de cuidar e investir em si mesmo, de se afirmar no ambiente organizacional e de criar um impacto positivo. Os verdadeiros amigos secretos dos DRH são, portanto, eles próprios, que precisam de se assumir como líderes estratégicos, promovendo uma cultura que valoriza as pessoas não apenas como recursos, mas como o coração pulsante das organizações.

O verdadeiro amigo secreto não é aquele que (simplesmente) apanha o presente no sorteio, mas sim aquele que é capaz de abrir espaço para um diálogo autêntico e estratégico.

Será que, neste Natal, os DRH estão prontos para se posicionar e reivindicar o seu lugar nas mesas de decisão? Afinal, os verdadeiros amigos secretos são aqueles que reconhecem o valor das pessoas e conseguem transformar esta consciência em propostas que mudem a cultura empresarial. Será que estamos dispostos a ir além das tradições e a provocar estas conversas difíceis?

Feliz Natal!

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