Ana Gama Marques, Altice/ MEO: Talento jovem precisa-se! E o seu sucesso representa uma aposta ganha para ambas as partes!

O recrutamento de talento jovem é um tema cada vez mais relevante e necessário no contexto demográfico actual do país e de globalização.

 

Por Ana Gama Marques, directora de Pessoas e Organização da Altice/ MEO

 

Vivemos uma dicotomia: por um lado, queremos capacitar os nossos jovens talentos, seguindo as melhores práticas; por outro lado, precisamos retê-los para garantir a sustentabilidade das nossas empresas e do País. Esta nova geração será o futuro das nossas organizações.

A idade média nas organizações está acima dos 40 anos e, em alguns casos, perto dos 50. Assistimos à passagem à reforma da geração dos baby boomers (nascidos entre 1946-1964) e à entrada no mercado de trabalho dos millennials (nascidos entre 1984-1995) e da geração Z (nascidos entre 1995-2009). As gerações mais jovens, cada vez menores devido à baixa natalidade em Portugal e à globalização do mercado de trabalho, representam uma pressão adicional.

Um estudo da Business Roundtable Portugal e da Deloitte revela que, nas últimas duas décadas, 1,5 milhões de portugueses emigraram, o equivalente a perder seis distritos: Castelo Branco, Santarém, Portalegre, Évora, Beja e Faro. Entre os jovens que permanecem em Portugal, um em cada quatro pensa emigrar. Quando analisada a propensão para emigrar, deparamo-nos com 12,5% na geração X (nascidos entre 1964-1983), 24% entre os millennials e 48% na geração Z.

Anteriormente, a maioria dos emigrantes tinham o objectivo de regressar, mas hoje, três em cada cinco não desejam regressar. Portugal é o oitavo país do mundo com mais emigrantes.

O impacto económico do recrutamento de jovens é significativo. Estes profissionais são cruciais para a inovação e renovação das empresas, trazendo uma mistura única de energia, criatividade e disposição para aprender. Eles tendem a ser inovadores, adaptáveis e abertos a novas ideias. Investir e incentivar o desenvolvimento desses talentos pode trazer novas perspectivas, soluções criativas, novas metodologias, orientação e adaptação a novas tecnologias e uma força de trabalho diversificada, impulsionando a competitividade e a capacidade de resposta das organizações no mercado global.

Dado os desafios e o rápido ritmo de mudança do mercado, a escassez de talentos jovens em Portugal, a emigração desses talentos e o impacto económico resultante, é essencial equilibrar a capacitação dos jovens, enquanto garantimos a sustentabilidade das organizações e do País. Durante esse processo, devemos acompanhá-los, desafiando-os, encorajando- os e comunicando-lhes as oportunidades reais de desenvolvimento, de forma construtiva e transparente, sem excesso de protecção, dando-lhes a oportunidade de fazerem a escolha mais acertada, e evitar que eles saiam.

A melhor capacitação para um talento jovem inclui oportunidades de crescimento, coaching, mentoring e desafios interessantes. As empresas devem ter um propósito claro e visível no dia-a-dia.

No recrutamento de jovens existem diversos desafios ao longo de todo o ciclo de vida do colaborador, que se iniciam no processo de atracção até à saída dos mesmos:

• Atracção de talento – a competição é intensa, especialmente em sectores altamente tecnológicos e inovadores;

• Diversidade e Inclusão – os processos de recrutamento devem atrair uma base diversificada de candidatos;

• Experiência académica versus experiência na vida activa: muitos jovens possuem conhecimento teórico, mas carecem de experiência prática, dificultando a adaptação inicial;

• Desalinhamento de expectativas – ao nível da compensação, progressão de carreira e responsabilidades, podem não estar alinhadas entre os jovens e as organizações;

• Adaptabilidade ao ambiente corporativo – a transição entre a vida académica e o ambiente corporativo pode ser desafiadora; • Retenção de talento – os jovens mudam de emprego com mais frequência face às gerações anteriores;

• Cultura de empresa – manter jovens profissionais alinhados e motivados, com sentimento de pertença à empresa pode exigir abordagens diferentes;

• Tecnologia – os jovens esperam a utilização de tecnologias modernas;

• Coaching e mentoring – os jovens precisam frequentemente de orientação e mentoria, o que exige tempo e recursos. Tendo consciência destes desafios e da mais-valia que o talento jovem representa, as organizações devem:

• Construir uma marca empregadora forte e que esteja alinhada com o propósito da empresa;

• Utilizar ferramentas modernas de recrutamento, que sejam familiares aos jovens profissio, e implementar processos de recrutamento inclusivos e que promovam a diversidade;

• Oferecer compensação justa e benefícios valorizados pelos jovens, como flexibilidade no trabalho, oportunidades de desenvolvimento e um bom equilíbrio entre a vida pessoal e profissional;

• Desenvolver uma cultura inclusiva que valorize e respeite a diversidade em todas as suas formas e que se reflita nas práticas do dia-a-dia;

• Oferecer estágios para que os jovens adquiram experiência prática, promovendo a aproximação entre o mercado de trabalho e o meio académico;

• Implementar programas de formação e desenvolvimento, que ajudem os jovens a desenvolver as habilitações necessárias para as suas funções;

• Estabelecer uma comunicação clara, com expectativas realistas, durante o processo de recrutamento;

• Oferecer programas de mentoring para orientar os jovens nas suas carreiras;

• Desenvolver um processo de integração estruturado, que promova a integração nas equipas e o networking dentro da empresa. Criação da figura de budy, que facilite a integração dos jovens nas equipas com quem vão trabalhar e a figura de orientador, que define e acompanha o dia-o-dia do estágio;

• Criar um ambiente acolhedor que promova uma cultura inclusiva e que facilite a adaptação dos novos colaboradores;

• Desenvolver parcerias com instituições académicas, alinhando os currículos às necessidades do mercado;

• Promover workshops e casos práticos focados na resolução de problemas e desafios reais;

• Oferecer oportunidades de crescimento claras e concretas;

• Criar um ambiente de trabalho positivo e envolvente que mantenha os jovens motivados e comprometidos;

• Oferecer programas de desenvolvimento contínuo, que mantenham os jovens desafiados e envolvidos;

• Valorizar a inovação e a criatividade, permitindo novas ideias e contribuições sem receio de errar;

• Investir em tecnologias que melhorem a eficiência e a satisfação no ambiente de trabalho;

• Oferecer feedback contínuo e construtivo para ajudar no desenvolvimento profissional dos jovens.

 

As empresas e o país devem promover a atracção e a retenção do talento jovem, compreendendo as suas expectativas e desejos em relação à vida profissional e pessoal.

No final, os jovens querem sentir-se relevantes nas empresas, valorizados e incluídos nas decisões, além de ter reconhecimento, planos de carreira claros, e um ambiente de trabalho inclusivo e colaborativo.

 

Este artigo foi publicado na edição de Agosto (nº. 164) da Human Resources, nas bancas.

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