Ana Gama Marques, Altice: «São inúmeros os desafios para continuar a atrair e reter talento em Portugal»

Na análise aos resultados da 50.ª edição do Barómetro da Human Resources, Ana Gama Marques, directora de Pessoas e Organização da Altice, faz notar que «é importante desenvolver e capacitar as lideranças em Portugal, desenhar programas que as permitam desenvolver, garantindo que inspiram, definem e ajustam a estratégia das suas empresas/áreas/projectos aos desafios que surgem a cada momento».

 

«Os grandes temas na gestão de Pessoas, em 2024, serão uma continuidade dos temas de 2023 que vão ganhando cada vez mais preponderância, como vemos no Barómetro: a atracção e retenção de talento com 52%, seguida do upskilling e reskilling com 42% e da inteligência artificial com 27%.

A atracção e retenção dos colaboradores é um dos desafios que se intensificou em 2023 e que continuará em 2024, resultado dos desafios da globalização do mercado de trabalho e da procura que as camadas mais jovens têm por experiências diferentes e desafios novos, e por garantirem que o que fazem tem um propósito e está alinhado com a missão das organizações.

Ao nível da globalização, Portugal compete com os seus recém-licenciados ou trabalhadores no mercado global, pois as nossas competências são reconhecidas internacionalmente. No entanto, apesar de oferecermos desafios iguais aos que existem fora do nosso país e termos condições ímpares, a realidade é que Portugal tem um nível salarial mais baixo do que alguns países da Europa e a carga fiscal do trabalhador não é a mais atractiva.

Se olharmos para o Barómetro, verificamos que, embora exista uma perspectiva de aumento dos salários brutos em Portugal – 85% dos inquiridos responderam que os salários vão aumentar pelo menos 2%; todos os inquiridos consideram que as empresas onde trabalham vão aumentar os salários brutos; e 40% identificam que os aumentos serão superiores a 4% – verificamos que, ao nível dos salários reais, o aumento não é repercutido, existindo uma degradação do poder de compra.

Se aos factos acima identificados juntarmos a conjuntura política actual, que é referida por todos como tendo impacto na actividade das empresas, verificamos que são inúmeros os desafios para continuar a retenção do talento e que o esforço tem de ser simultaneamente interno e externo à empresa. Todos os stakeholders têm de perceber o seu papel e trabalhar conjuntamente para identificarem medidas que permitam atrair e reter o talento português.

Ao nível da inteligência artificial (IA), embora seja o terceiro tema identificado, está muito relacionado com o upskilling e reskilling das pessoas. Inicialmente, uma das grandes questões era como é que as funções iriam ser efectuadas no futuro e que funções iriam desaparecer.

Hoje, um dos desafios de que falamos é como vamos formar as pessoas para as novas funções necessárias à alavancagem da IA, tais como Data scientists, Gen AI prompters, Cloud engineers, Machine learning engineers. Tendo em conta que estas funções são novas, existem poucas pessoas formadas com estas competências para uma necessidade emergente e grande destes recursos, pelo que, certamente, vamos ter um grande desafio na retenção do talento com estas competências.

Adicionalmente, para além das competências técnicas, temos de preparar as pessoas para os desafios do mundo em constante mudança, trabalhando a adaptabilidade e resiliência, enquanto desenvolvemos a capacidade de trabalhar em equipa, a iniciativa e proactividade, a criatividade, a inovação e a liderança.

Embora o tema das lideranças tenha sido abordado em último, este reveste-se de especial importância, pois tal como vemos no barómetro à resposta se as lideranças estão preparadas para enfrentar os desafios que se avizinham, verificamos que 40% responderam que apenas uma parte está preparada e que 38% responderam que sim, mas vão necessitar de actualizar competências.

É importante desenvolver e capacitar as lideranças em Portugal, desenhar programas que as permitam desenvolver, garantindo que inspiram, definem e ajustam a estratégia das suas empresas/áreas/projectos aos desafios que surgem a cada momento. É importante definir/desenhar um caminho, mas ir lendo a cada momento os inputs do exterior e ter a capacidade para o ir ajustando.

Cada vez mais, as pessoas que vão fazer a diferença nas organizações e nas lideranças são as pessoas que se conseguirem adaptar ao mercado. Se repararmos, os grandes líderes dos “unicórnios” são pessoas com uma grande capacidade de resiliência.

O Barómetro também aborda as perspectivas de evolução do emprego em Portugal, quer do ponto de vista do mercado, quer das empresas, em que todos os inquiridos dizem que são de estagnação, em linha com as perspectivas que também se projectam para a economia. Estas perspectivas podem gerar/sugerir algum abrandamento na saída de recursos críticos, no entanto não devemos descurar todas as políticas que temos em desenho e em implementação para a atracção e retenção do talento, pois, se não as trabalharmos de forma contínua e holística, iremos continuar a perder os recursos mais importantes e dificultar a aceleração da economia.»

 

Este testemunho foi publicado na edição de Dezembro (nº.156) da Human Resources, no âmbito da L edição do seu Barómetro.

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