Ao ritmo actual, as mulheres alcançarão a igualdade de direitos em 300 anos

A ONU Mulheres alertou que, com o actual ritmo de progresso, levará 286 anos para que as mulheres tenham os mesmos direitos e protecções legais do que os homens.

«Pode levar até 286 anos, quase três séculos, para que as mulheres tenham os mesmos direitos e protecções legais do que os homens», salientou a vice-directora-geral da ONU Mulheres, Anita Bhatia, durante uma conferência de imprensa que serviu para apresentar o relatório sobre a matéria.

Durante o seu discurso, Anita Bhatia insistiu que «ao ritmo actual de progresso, os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) do Objectivo 5 [focado na igualdade de género] podem levar décadas, e até séculos, para se materializarem».

Além disso, sublinhou que «a paridade na força de trabalho não será alcançada nos próximos 140 anos» e que «é provável que demore 40 anos para alcançar a igualdade de representação nos parlamentos de todo o mundo», caso não ocorram melhorias.

O relatório apresenta que as mulheres perderam cerca de 800.000 milhões de dólares em rendimentos em 2020 devido à pandemia COVID-19 e que, apesar de «um aumento em algumas partes do mundo, a sua participação nos mercados de trabalho será menor em 2022 do que antes da pandemia».

O estudo estima também que, até ao final deste ano, haverá 383 milhões de mulheres e meninas a viverem abaixo do limiar da pobreza e 386 milhões de homens e meninos nessa situação.

Anita Bhatia alertou ainda para a existência de vários factores «que agravam um panorama já sombrio para a igualdade de género», como as consequências da pandemia COVID-19 ou a actual crise alimentar, financeira e de combustíveis. «A guerra em curso na Ucrânia está a piorar a insegurança alimentar, limitando a oferta de trigo, fertilizantes e combustível e impulsionando a inflação. Cerca de 36 países dependem da Rússia e da Ucrânia para mais de metade das suas importações de trigo, incluindo nações afectadas por conflitos como o Sudão, Síria e Iémen», pode ler-se no relatório da ONU Mulheres.

Maria-Francesca Spatolisano, adjunta do secretário-geral da ONU para a coordenação de políticas, sublinhou na conferência de imprensa que «a igualdade de género é a base para alcançar todos os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável».

Já a directora de programa da Organização para o Meio Ambiente e Desenvolvimento das Mulheres (WEDO), Katie Tobin, destacou que o relatório reconhece que mulheres e meninas, especialmente em todo o sul global, são «afectadas significativa e desproporcionalmente pela crise climática e pela destruição ambiental». Para Tobin, a situação «tem suas raízes na discriminação sistémica e nas desigualdades estruturais» sofridas pelas mulheres.

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