Aos “mais novos”, que não querem “emprego para a vida”, mas também aos “mais experientes”, que não os conseguem reter

 

Por Margarida Rosenbusch, Associada Sénior de Direito do Trabalho & Fundos de Pensões da CMS

 

Pediram-me que escrevesse. Hesitei, não quanto à escrita, que vai simples, mas a quem dedicar este meu texto. É para os mais novos. Para aqueles que cheios de um entusiasmo nervoso, se iniciam no mercado de trabalho, embrulhados, orgulhosamente, em fatos, blusas e saias-casaco. Para aqueles cuja geração, para mim, fica marcada por uma música que não conheço e que não consigo dançar e por um cartaz de cinema que é “só”, tantas vezes, um remake explosivo de grandes êxitos de há um par de anos, mas a que falta, é a minha opinião, a autenticidade da versão original.

São jovens. Afortunadamente, os seus CVs estão carregados de “experiência”. É que esta geração durante o curso universitário e, até, durante a sua passagem pelo liceu, já se alimentou de vivências, algumas internacionais, já fez cursos e especializações e já abdicou de férias e fez estágios de Verão, internships e secondments. É uma geração que já nasceu e que vive virada para o mundo. Falam línguas estrangeiras. Tantas.

E nós, os outros, que facilmente descuramos o papel que enquanto “mais experientes” temos o dever de não esgotar em nós próprios, dando aos mais novos e contribuindo para a sua, ainda tão necessária, aprendizagem, devemos reflectir sobre o porquê de lhes exigirmos que se carreguem de “habilitações” – como aparente requisito essencial à sua integração laboral -, e mais até, se lhes devolvemos, em justa medida, o esforço e a dedicação que eles tão cedo começaram a dirigir-nos.

Pois, se por um lado é verdade que o mercado de trabalho actual, à boleia da globalização e mudança contínua, parece obrigar as empresas a desenvolverem a sua actividade de forma internacional e globalmente, por outro lado, assim também o modelo actual do empregador, que corporiza um mundo de oportunidades, as condiciona à obtenção de conhecimentos numa imensidão de especializações, tantas das vezes, de âmbito global e multidisciplinar.

Mas, e o meu texto era para os “mais novos”, mesmo neste contexto entendo que não deixa de se assistir a uma tentativa por parte do empregador em se reinventar, adaptando quer os seus modelos de fazer negócio, quer a respectiva mentalidade corporativa, moldando-a às novas formas de trabalhar e às novas exigências, também, dos que se iniciam no trabalho.

Nos últimos anos, e ainda que com um longo caminho pela frente, vimos sendo testemunhas de inúmeras iniciativas levadas a cabo pelos empregadores que ultrapassando, inclusivamente, a realidade jurídica em vigor, tantas vezes desfasada das reais necessidades de quem emprega e de quem pretende ser empregado, privilegiam o bem-estar e a saúde mental dos seus trabalhadores, a não discriminação, o assédio ou o mobbing, ou a procura activa por mecanismos que permitam a conciliação da vida pessoal com o trabalho.

E aos “mais novos”, a esses, que são quem parece começar “mais cedo em tudo” e tem mais fácil acesso à informação, tenho de reconhecer a imensa paixão com que vivem globalmente, não circunscrevendo as suas raízes e facilmente se adaptando às mudanças globais que também a eles têm de surpreender.

E também terei de reconhecer que por essa entrega ao global, às suas novas exigências, e à aquisição, não sem esforço, de experiências e de qualificação, vão permitindo que os empregadores satisfaçam a sua necessidade de evolução e desenvolvimento, incluindo o económico, mas também que cresçam nas suas prioridades e centrem os seus valores.

Não é só para os mais novos, este meu texto.

É também para “os mais experientes”. Para aqueles que se deparando com uma geração para quem nunca ditou “o emprego para a vida”, é tão bom ser o empregador-espectador e assistir, melhor até, retribuir, com a criação de experiências de trabalho, que os “mais novos” chegam a reconhecer de notáveis e únicas, nas suas carreiras em desenvolvimento.

E é, também, para aqueles “mais experientes” a quem esta forma de viver global dos “mais novos” enrijece o desafio que, sem cerimónia, hoje se lhes impõe, da procura e implementação de soluções que roubando, ainda que em desvantagem, essa liberdade de movimento dos “mais novos”, sejam hábeis a conseguir a retenção do seu talento.

E será nesta justa-troca entre “mais novos” e empregador que acredito encontraremos o equilíbrio.

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