Aumento das taxas de juro está a penalizar salários dos trabalhadores, mas uns mais do que os outros. Saiba quais são os mais afectados

As decisões da política monetária do Banco Central Europeu (BCE) para travar a inflação têm efeitos secundários sobre os mercados de trabalho, no­meadamente sobre os salá­rios, revela um estudo publicado no blog do BCE. 

 

E em tempos de subida dos juros, os trabalhadores com formação superior, bem como aqueles que trabalham em empresas pequenas e jovens, são os mais penalizados, avança o Expresso.

O artigo “Which workers are most affected by changes in the policy rate?” analisa dados para Portugal (dos Quadros de Pessoal, a base do Ministério do Trabalho que relaciona trabalhadores e empregadores, e da Central de Responsabilidades de Crédito, com informação sobre empréstimos às empresas das instituições de crédito supervisionadas pelo Banco de Portugal) para «perceber como cortes e aumentos nas taxas de juro afectam o mercado de trabalho».

«O nosso trabalho começou antes da recente normalização da política monetária e estava inicialmente focado em períodos de flexibilização [ou seja, de descida dos juros], mas podemos provar que os efeitos são simétricos para a flexibilização da política monetária e para o seu aperto», salienta o artigo.

Os autores, Martina Jasova, Caterina Mendicino e Dominik Supera, concluem que «as empresas mais pequenas aumentam mais os salários após um corte das taxas de juro do que as empresas maiores». Também estimam que «os trabalhadores em empresas jovens beneficiam mais em comparação com trabalhadores em empresas mais antigas».

Uma explicação prende-se com «as empresas mais pequenas poderem ter, muitas vezes, menos sucesso em obter crédito do que as empresas maiores». Ora, cortes das taxas de juro aliviam os constrangimentos financeiros, permitindo-lhes acesso mais fácil a crédito.

Ao mesmo tempo, «na sequência de um corte da taxa de juro da política monetária, as horas trabalhadas e os salários dos trabalhadores com maiores níveis de escolaridade aumentam mais do que no caso dos trabalhadores menos qualificados». E os efeitos «são mais pronunciados para os trabalhadores mais qualificados em empresas pequenas».

Os autores, mais uma vez, apontam baterias ao diferente acesso a crédito das empresas, destacando que, após um corte dos juros, as mais pequenas «usam o acesso melhorado para financiar mais investimento em capital, o que aumenta o valor para empregados com maior nível de escolaridade».

Contudo, «em tempos de aumento das taxas de juro, os salários dos trabalhadores nas empresas maiores são menos negativamente afectados dos que os dos trabalhadores em empresas mais pequenas», salientam os autores, reforçando que «isto aumenta o diferencial salarial entre empresas na economia».

Isto porque os profissionais «em empresas mais pequenas e jovens tendem a ganhar salários mais baixos». Mas, ao mesmo tempo, «trabalhadores com menores qualificações são menos afectados». Consequentemente, como «os trabalhadores com baixos níveis de escolaridade tendem a ganhar salários mais baixos, aumentos das taxas de juro reduzem o diferencial salarial entre trabalhadores na economia», concluem os autores.

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