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A autencidade como factor de reputação
Sem entrar na discussão sobre o contributo da reputação da liderança para o valor da marca, uma coisa é certa: a reputação não pode ser um fim. Mas antes uma consequência. Algo que é natural e autêntico.
Por António Henriques, CEO do Grupo CH
É inquestionável o valor que está associado à reputação de uma marca. Tema menos consensual é quando procuramos estabelecer o paralelismo entre a reputação da marca e a liderança da organização. Sobretudo quanto falamos de produtos, em que a qualidade intrínseca é um elemento tangível, temos tendência a relativizar os factores intangíveis. Nestes casos, a liderança, a cultura de uma organização e até mesmo as suas pessoas, surgem muitas vezes num segundo plano.
Claro que há situações em que a liderança se confunde com a marca. Steve Jobs foi disso um exemplo incontornável, à escala planetária. A ele se deve muito do valor da marca. A sua assinatura está cravada no ADN da companhia.
Podemos falar de reputação no plano interno, dentro da organização, ou externo, pela forma como o líder é percepcionado pelo mercado. Para as diferentes perspectivas concorrem ingredientes distintos. Ambas contribuem para um bem maior, complementando-se entre si.
No plano externo, temas como visão, governance, ética e resultados surgem no topo das prioridades. Dentro de portas, o processo de construção da reputação do líder, está normalmente associado à forma como este gere a organização e as pessoas. Dimensões como transparência, coerência e consistência são centrais.
Poderá dizer-se que, em ambos os planos, o factor confiança é determinante. No fim do dia, as pessoas e o mercado, querem saber com o que contam. Querem acreditar. Por momentos, recupere-se a força que tem fechar um negócio com alguém como um mero aperto de mão. Olhos nos olhos, sem papéis, sem contratos. Ser-se confiável é poderoso.
Sem entrar na discussão sobre o contributo da reputação da liderança para o valor da marca, uma coisa é certa: a reputação não pode ser um fim. Mas antes uma consequência. Algo que é natural e autêntico. Sendo da história que dificilmente se constrói reputação sem resultados, condição indispensável à sustentabilidade de qualquer organização.
Quando falamos em organizações, é comum referir-se que não há culturas boas ou más. Mesmo não sendo difícil destrinçar entre boas e más práticas de gestão. O valor da cultura de uma organização está intimamente ligado à sua autenticidade. Um conceito que se aplica a organizações e pessoas e que, goste-se ou não, em muito contribui para a construção da reputação.
Alguns especialistas dizem que é tudo uma questão de como se trabalha o posicionamento da marca e a sua comunicação. Pessoalmente entendo que, da mesma forma que um mau produto dificilmente vence o tempo, por muito que seja publicitado, a reputação de uma liderança não perdura quando não é genuína. Quando não é autêntica. O que não significa que o líder não tenha de trabalhar algumas dimensões comportamentais e técnicas. Muito pelo contrário. Gerir exige crescimento e adaptação contínuos.
Num mundo cada vez mais sofisticado, mais trabalhado, mais plástico, a simplicidade da autenticidade é cada vez mais um activo a preservar. O que é autêntico é bom. Porque sabemos com o que contamos.
A imagem das maçãs de supermercado, esculturalmente concebidas, reluzentes e com um aspecto suculento, são um bom retrato. O controlo genético das espécies evolui e harmonizou a forma, mas não foi capaz de preservar o sabor. Perdeu-se a essência do ser.
Este é porventura o grande desafio da liderança. Sobreviver num mundo dominado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, sem perder a sua essência.
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O artigo foi publicado an edição de Junho da Human Resources Portugal.