Barómetro: Há escassez de talento. E está a fazer pressão sobre os salários
Nove em cada 10 inquiridos admite que a escassez de mão-de-obra é um problema que se tem feito sentir nas respectivas organizações. Esta é uma das principais conclusões da 40.ª edição do Barómetro Human Resources. Os perfis onde se faz mais sentir, a pressão sobre os salários, a semana de quatro dias, ou as alterações à lei laboral, são outros temas em destaque.
Por Ana Leonor Martins
A atracção e retenção de talento foi identificada pelo Barómetro Human Resources de Janeiro passado como o principal desafio para a Gestão de Pessoas em 2022. Só na última semana de Fevereiro – e tendo apenas em conta as organizações que o comunicaram activamente, foram mais de duas mil as vagas de emprego anunciadas por empresas dos mais diversos sectores, das Tecnologias de Informação à Engenharia, passando pela Construção até ao Turismo, com vagas de norte a sul do País, não excluindo as ilhas, e quer para jovens a integrar agora o mundo do trabalho, quer para seniores. Assim, é este o tema em destaque na 40.ª edição do Barómetro.
Como não basta conseguir recrutar – é também preciso conseguir manter os bons profissionais que existem nas empresas –, questionámos o painel de especialistas se, nas suas organizações, sentem maior dificuldade em atrair ou reter talento. De forma expectável, a maioria (55%) afirma que são ambos igualmente desafiantes, mas comparando as variáveis individualmente consideradas, a retenção de talento nas empresas destaca-se (21%) em relação à atracção (13%). Não obstante, 11% afirmam que não sentem dificuldade em nenhum destes âmbitos.
Mais peremptórias são as respostas à pergunta sobre se a escassez de mão-de-obra é um problema que se tem feito sentir nas respectivas organizações: 85% – ou seja, quase nove em cada 10 – afirmam que sim. Destes, a esmagadora maioria (70%) revela que é só em alguns perfis. Por outro lado, 15% garantem que não sentem os efeitos da escassez de profissionais na sua empresa.
Sobre se a escassez e maior competitividade das empresas pelos mesmos recursos está a aumentar a pressão salarial, só 2% dos especialistas dizem que não existe escassez dos recursos de que necessitam. Mas o que se destaca é que 87% admitem que sim, e para 49% é um aumento significativo, em alguns perfis. Também significativo é que para 19% dos inquiridos essa pressão salarial se faça sentir de forma significativa em todos os perfis. Já 15% partilham que só se faz sentir de forma residual, enquanto 9% garantem não sentir pressão ao nível dos salários.
Os dados do 40.º Barómetro Human Resources revelam ainda – e sem surpresas – que os perfis que as empresas representadas no painel sentem maior dificuldade em recrutar são os técnicos/especializados (77%). Para 6%, essa dificuldade faz-se sentir sobretudo nos perfis administrativos/operacionais, e para 2% é sobretudo nas funções de direcção/liderança. De referir também que 15% garantem não sentir dificuldade em recrutar. Mas mais relevante – e um bom indicador (de ressalvar no entanto que este questionário foi respondido antes do início da guerra na Ucrânia) – é que todas as empresas representadas no painel do Barómetro Human Resources (mais de duas centenas) estão a recrutar.
Digital, mas não muito
Na 40.ª edição do Barómetro Human Resources, procurou-se também saber quais os processos de recrutamento que as empresas usam. E, apesar do “salto” na transformação digital – acelerada pela pandemia –, os resultados revelam que mais de um terço das empresas (36%) ainda recorre a processos manuais, enquanto perto de metade (49%) usa processos optimizados através de softwares especializados.
Apesar de a percentagem de empresas que ainda continua a utilizar processos manuais ser significativa, parece não haver dúvidas das vantagens de apostar em software especializado nos processos de Recursos Humanos (recrutamento e não só). Entre os inquiridos, 23% afirmam que o software especializado permite poupar dias de trabalho, enquanto 19% garantem que se traduz numa diferença de semanas de trabalho, e 6% até em meses. Já 13% percepcionam os ganhos de tempo em horas de trabalho, sendo que 26% admitem não usar softwares especializados.
Fique a conhecer todos os resultados do XL Barómetro Human Resources na edição de Março (nº.135) da Human Resources, nas bancas (se preferir ler online, tem disponível a versão em papel ou a versão digital).
Conheça também o comentário dos especialistas:
– Luís Antunes, People Experience director da PHC Software
– Eduardo Caria, responsável de Pessoas & Organização do Grupo Ageas Portugal
– Nelson Pires, director-geral da Jaba Recordati Portugal, Recordati UK/Recordati Ireland
– Nuno Moreira da Cruz, director executivo do Center for Responsible Business & Leadership na Católica-Lisbon School of Business & Economics
– Pedro Brito, associate dean na Nova SBE
– André Ribeiro Pires, chief Operating officer da Multipessoal