Barómetro Human Resources. Os “elefantes na sala” foram identificados. E agora, vamos continuar a ignorá-los?

Uma nova geração que exige mais e dá menos às empresas, e que, sendo a mais diplomada, não é a mais bem preparada; uma geração sénior que se sente discriminada; a cultura organizacional a perder relevância nas empresas; lideranças a precisar de actualizar competências e um contexto demográfico que já está a impactar as organizações. São estes alguns dos alertas que se retiram da análise dos resultados da 55.ª edição do Barómetro Human Resources. E agora, vamos continuar a ignorar os “elefantes na sala”?

 

Por Ana Leonor Martins

 

O tema da XXVIII Conferência Human Resources (cuja reportagem será publicada na edição de Novembro) pretendeu desmistificar alguns dos “elefantes na sala” que persistem nas empresas relacionados com a Gestão de Pessoas. Foram alguns desses elefantes que serviram de base à 55.ª edição do Barómetro Human Resources, das gerações à cultura organizacional, passando pela transformação digital, o papel das lideranças e o impacto da demografia.

Dado o contexto de escassez de talento, o discurso a atenção das organizações parecem estar focados nas novas gerações. É a mais diplomada, mas será a melhor preparada? Independentemente da resposta, com o desafio da atracção e retenção de profissionais, parecem ter alguma vantagem negocial. E estar a exigir mais às empresas, até porque há uma nova forma de encarar o trabalho. Mas será que também estão a dar mais? Por outro lado, não estamos a esquecer “os outros”? Perante esta atenção às “exigências” dos “mais novos”, não estamos a esquecer os “mais velhos”? As gerações seniores, e com experiência, não estão a sentir-se discriminadas no mercado de trabalho, considerando as oportunidades, condições e capacitação de uns e outros?

Quando falamos em competências e preparação, não se fala só de hard skills, mas também de soft skills. Perante novos modelos de trabalho, com uma menor interacção pessoal, os profissionais estão a demonstrar deterioração das competências relacionais? Com as pessoas dispersas, como se promove a cultura organizacional? Está a perder relevância nas empresas? E as lideranças, estão capacitadas para responder ao novo paradigma do mundo do trabalho?

Outro tema incontornável é a evolução tecnológica e o impacto que tem – ou pode ter – nas empresas. Já estamos a assistir a um investimento das organizações de facto significativo em novas tecnologias, nomeadamente em inteligência artificial (IA) e IA generativa (GenAI)? Sendo que ter a tecnologia disponível não chega, é preciso saber usá-la, terão os profissionais as competências necessárias para tirar o melhor partido das ferramentas disponíveis?

Incontornáveis também – e este é, antes de mais, um tema da sociedade – são as alterações demográficas, provocadas desde logo pela baixa taxa de natalidade em Portugal e pelo aumento da esperança média de vida. Já está a ter impacto nas empresas? Estudos indicam que a escassez de profissionais é o maior desafio que as empresas enfrentam. Por onde pode passar a resposta?

Foram estes os temas propostos para reflexão e cuja análise agora apresentamos.

 

“Mais novos” a exigir mais, e “mais velhos” a sentirem-se discriminados
Começamos pelo tema geracional, em concreto pela Geração Z, que está agora a entrar no mercado de trabalho. É a mais qualificada (diplomada), mas é a melhor preparada? Os resultados não deixam margem para grandes dúvidas. Para a maioria dos inquiridos (52%), a geração Z é a mais qualificada, mas não a mais bem preparada.

Em contraste, 39% dos participantes acreditam que esta geração nem é a mais qualificada, nem a mais bem preparada, o que faz com que nove em cada 10 (91%) dos especialistas do painel do Barómetro concordem que esta nova geração não é a mais bem preparada, ou seja, não terá as competências necessárias para responder às exigências do mercado. De notar que apenas 2% vêem a geração Z como “a mais qualificada e a mais bem preparada de sempre”, enquanto a mesma percentagem (2%) acredita que são “a mais bem preparada, mas não a mais qualificada”.

Melhor ou pior preparada, será inquestionável que a forma de encarar o trabalho mudou – e não só nas novas gerações. A expectativa em relação às empresas já não passa só pela carreira e pelo salário. A geração Z está a exigir mais às empresas? E também estão a dar mais? Seis em cada 10 inquiridos (62%) são peremptórios: “exigem mais e dão menos”, enquanto ninguém acredita que “exigem menos e dão mais” às empresas. E só 5% defendem que “nem exigem mais, nem dão mais, são como as outras gerações”. Mas o outro dado que se destaca, paradoxalmente, é que, para 39% dos especialistas, “o problema não está nas exigências das novas gerações, mas na falta de capacidade das empresas para se adaptarem”.

A ser verdade que o foco das empresas está nas novas gerações, “as gerações mais seniores estão a sentir-se discriminadas no mercado de trabalho”, face às oportunidades, condições e capacitação? Aqui, as opiniões dividem-se, com um quarto (25%) dos inquiridos a afirmar que “sim, as novas gerações têm mais oportunidades e melhores condições, sem estarem mais capacitadas” e outros 25% a afirmarem – talvez com alguma surpresa – que “não, porque as novas gerações não têm melhores condições”.

Mas há outros dados interessantes: mais de metade (53%) dos inquiridos constata que sim, as gerações seniores sentem-se discriminadas, juntando aos 25% já referidos, os 16% que afirmam que “as novas gerações têm mais oportunidades, sem estarem mais capacitadas”, e 12% para quem “as novas gerações têm melhores condições, sem estarem mais capacitadas”. Só 2% defendem que “as novas gerações têm mais oportunidades, mas estão mais capacitadas” e outros 2% que “as novas gerações têm melhores condições, mas estão mais capacitadas”. Por outro lado, 9% confiam que os seniores não se sentem discriminados, com 7% a especificarem que “não, porque as novas gerações não têm melhores oportunidades”.

 

Fique a conhecer todos os resultados do LV Barómetro Human Resources na edição de Outubro (nº.166) da Human Resources, nas bancas (se preferir comprar online, tem disponível a versão em papel ou a versão digital).

E tem também o comentário dos especialistas (que vamos partilhar individualmente)

– Ana Maria Petrucci, HR and Brand & Engagement director da Intelcia

– Conceição Zagalo, empreendedora social

– Paulo Bastos, Human Resources manager da Simoldes

– Catarina Paiva, administradora do Turismo de Portugal

– Joana Couto, directora de Recursos Humanos da Prio

– Nuno Oliveira, Chief People & Culture Officer da Zurich em Portugal

– Sara Silva, directora de Relações Humanas da L’Oreál

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