Bill Gates decorava as matrículas dos colaboradores e fazia rondas no parque de estacionamento para os controlar. Mas a Microsoft está sempre entre as melhores empresas para trabalhar. A microgestão é assim tão má?

A Microsoft ficou em segundo lugar no ranking da Forbes de melhores empregadores em 2023. A big tech teve uma boa pontuação em diversas áreas, incluindo desenvolvimento de talentos, opções de trabalho remoto, benefícios de licença parental, diversidade, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e orgulho dos trabalhadores.

 

No entanto, era pouco provável ter um lugar neste ranking quando o cofundador Bill Gates estava a tentar estabelecer a empresa em meados dos anos 70, avança a MoneyWise. Naquela época, Gates tinha a reputação de ser um microgestor que memorizava as matrículas de cada colaborador para os controlar.

«Ele estava a tornar-se o capataz que fazia rondas no parque de estacionamento aos fins-de-semana para ver quem estava a trabalhar», disse, certa vez, o cofundador Paul Allen à Vanity Fair. Gates não é o único chefe durão no clube dos bilionários. Na verdade, alguns empreendedores famosos afirmam que é a única maneira de gerir uma empresa com sucesso.

Contudo, este estilo de liderança tem enfrentado resistência nos últimos anos, e alguns questionam-se se uma gestão rigorosa é um pré-requisito para o sucesso, ou um obstáculo para os colaboradores.

Microgestores lendários

Há uma longa lista de empreendedores duplamente famosos por serem bem-sucedidos e difíceis de trabalhar.

Steve Jobs era conhecido por ser implacável e controlador com os colaboradores, de acordo com o seu parceiro de negócios Steve Wozniak. A cultura de trabalho “ultra hardcore” de Elon Musk levou alguns trabalhadores a dormir no chão do escritório depois de um turno de 12 horas.

Enquanto isso, Jeff Bezos já apelidou o “equilíbrio entre vida profissional e pessoal” de “expressão debilitante”. Em 2023, os trabalhadores da Amazon entraram com uma acção judicial contra a empresa por forçá-los a urinar em garrafas durante os seus turnos, em vez de fazerem pausas para ir ao wc.

É escusado dizer que os bilionários não têm problemas em levar as pessoas ao limite da sanidade. Mas será que esta cultura de trabalho agressiva é realmente uma chave para o sucesso ou um problema desnecessário? A investigação parece inclinar-se para este último.

Chefes controladores são contraproducentes

Os investigadores estudaram o impacto da microgestão nos últimos anos e os resultados não vão surpreender quem trabalhou para um chefe difícil.

Um estudo publicado no “Asian Journal of Economics and Banking” descobriu que os chefes controladores reduzem o moral e a produtividade dos trabalhadores. Segundo um artigo recente publicado na “Scientific Reports”, chefes autoritários minam a autonomia dos colaboradores e aumentam a probabilidade de concordarem com notícias falsas, mesmo sabendo que são falsas.

Que ninguém gosta de trabalhar para chefes controladores não é novidade. Uma pesquisa realizada pela Monster descobriu que 73% dos trabalhadores consideravam a microgestão o maior problema no local de trabalho. A pesquisa também descobriu que 46% dos trabalhadores colocavam a possibilidade de sair por causa disso.

A microgestão também pode ser desnecessária para os líderes empresariais que tentam entrar no clube dos bilionários. Warren Buffett é o exemplo perfeito.

O estilo de gestão de Buffett foi descrito como indiferente e laissez-faire. As empresas que estão sob sua alçada podem «operar por conta própria, sem a nossa supervisão e monitorização», declarou Buffett. «A maioria dos gestores utiliza a independência que lhes concedemos de forma perfeita, mantendo uma atitude orientada para a empresa.»

Por outras palavras, Buffett é um perito em delegar, que confia nos seus associados para trabalharem de forma independente e com supervisão mínima. Se o sétimo homem mais rico do mundo não precisa de microgestão para ter sucesso, será realmente necessária?

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