Cinco tendências nos seguros de saúde assegurados pelas empresas (vão ser melhorados mas há uma área que continua com grandes lacunas)

O regresso aos níveis de custos com saúde registados no período pré-pandemia e a necessidade de encontrar um equilíbrio entre economia, face aos efeitos da inflação, e empatia, com os seguros de saúde a serem cada vez mais uma ferramenta de atracção e retenção de talento, são algumas das principais tendências identificadas no estudo “MMB Health Trends 2023”.

 

O estudo, desenvolvido pela Mercer Marsh Benefits (MMB), inquiriu 226 seguradoras de 56 países para identificar as principais tendências futuras dos cuidados de saúde assegurados pelas empresas. Aumento dos custos médicos por pessoa, que estão a aproximar-se dos níveis pré-pandémicos; impacto da COVID-19 nas reclamações; modernização em curso dos planos de saúde; persistência de lacunas nas coberturas dedicadas a saúde mental e necessidade de maior rigor na gestão do plano de saúde são as cinco tendências identificadas neste estudo. Conheça-as em pormenor.

 

1. Tendência dos gastos em saúde nos seguros regressa aos níveis pré-pandemia
Em 2021, a tendência dos gastos em saúde regressou aos níveis pré-pandemia, alcançando uma taxa global de 10,1% (contra 9,7% em 2019). Espera-se que esta tendência se mantenha, prevendo-se uma taxa global de 12,7% em 2022 e de 12,6% em 2022.

O estudo revela algumas diferenças geográficas, sendo que algumas regiões (Europa; Canadá; região do Pacífico), ultrapassam ligeiramente os níveis pré-pandemia, enquanto outras (Ásia; Médio Oriente e África; América Latina e Caraíbas) apresentam taxas ligeiramente abaixo.

O aumento contínuo da inflação torna-se a principal preocupação das organizações. Perante o inevitável impacto do actual contexto económico, o estudo sublinha a importância de estas contemplarem este factor nas ofertas de benefícios para 2023.

Mais de dois terços (68%) das seguradoras acreditam que as organizações farão melhorias nos planos de saúde, de forma a promover a atracção e retenção de talento e o compromisso dos colaboradores, utilizando os benefícios como uma forma de diferenciação num mercado de trabalho competitivo. Esta tendência verifica-se sobretudo na Ásia (73%) e na Europa (73%).

 

2. COVID-19 continua a afectar a experiência das despesas médicas nos seguros
Apesar de a maioria das restrições associadas à pandemia terem já terminado, a COVID-19 continua a afectar a experiência das despesas médicas nos seguros. Os efeitos deste período, durante o qual o diagnóstico e tratamento médico de várias doenças foi prejudicado, reflectem-se nas despesas médicas no seguro de 2022, não só em valor monetário, como também em frequência. O estudo revela que mais de três em cada cinco seguradoras (61%) confirma uma mudança de padrões em 2022.

Os dois maiores impactos da pandemia a nível global em 2022 foram o custo mais elevado por sinistro devido a tratamentos mais avançados devido a cuidados diferidos (58%) e mais diagnósticos de doenças em fases mais tardias devido a cuidados diferidos (55%). Estes dois factores são particularmente elevados na Europa (65% e 63% respectivamente), América Latina e Caraíbas (58% e 73%), e Médio Oriente e África (MEA) (63% e 47%).

As seguradoras destacam o cancro enquanto a principal causa de despesas médicas no seguro em 2021, sendo uma das três causas mais frequentes. O atraso no diagnóstico significa que o cancro e outras doenças crónicas estão a ser detectadas numa fase mais avançada, quando o tratamento é já mais difícil e mais caro.

 

3. Modernização dos planos de saúde está em curso
Apesar do seu impacto significativo, a COVID-19 permitiu impulsionar a inovação das seguradoras e preparar a modernização dos planos. Perante as restrições impostas durante a pandemia, a telemedicina tornou-se parte essencial da oferta das seguradoras, sendo esta uma tendência que se deverá manter. Apesar da reabertura dos serviços de saúde presenciais, 72% das seguradoras a nível mundial oferecem serviços de telemedicina, mais 2% do que o valor registado em 2021.

Prevê-se um crescimento das ferramentas e serviços de saúde digitais, sendo que 25% das seguradoras afirma já oferecer aplicações ou dispositivos tecnológicos permitam monitorizar a saúde e 49% afirma considerar esta opção.

Os resultados indicam que esta preocupação com o bem-estar se deverá manter, estando em linha com os resultados do estudo “Global Talent Trends 2022”, que revelaram que um em cada três colaboradores renunciaria a um aumento salarial em troca de benefícios de saúde para si ou para os seus familiares.

O estudo destaca também que mais de metade das seguradoras estão já a implementar mudanças, nomeadamente através de modelos de trabalho flexíveis, ou pretendem fazê-lo futuramente.

 

4. Persistem lacunas na área da saúde mental
Ao longo dos últimos anos, tem-se verificado uma crescente consciencialização da saúde mental enquanto risco organizacional. Em 2022, cerca de uma em cada cinco seguradoras (16%) afirmam não contemplar uma cobertura de saúde mental (contra 26% em 2021). Apesar de existir um progresso, a oferta das seguradoras nesta área é ainda muito limitada.

Os riscos emocionais ou mentais são o terceiro maior factor de risco a influenciar os custos médicos de grupo assegurado pelos empregadores a nível mundial, e o segundo maior factor na Europa, América Latina e Caraíbas.

O estudo conclui que, embora dois terços das seguradoras (66%) afirmem cobrir sessões de acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico, na prática, dois terços dessas seguradoras cobrem apenas 10 sessões ou menos. Pressupondo que é feita uma sessão por semana, significa que o plano sobre apenas 20% das despesas médicas, o que se revela insuficiente.

Verificam-se também algumas diferenças a nível geográfico, sendo que na Ásia, por exemplo, apenas 55% das seguradoras cobre este tipo de sessões, por comparação com 73% na Europa. Contudo, a cobertura destas sessões na Europa é mais limitada, com apenas 6% das seguradoras a oferecer sessões ilimitadas, por comparação com 29% no Médio Oriente e Ásia e 16% a nível global.

 

5. Gestão dos planos requer maior rigor
Apesar de se verificar uma recuperação da tendência dos gastos em saúde nos seguros, regressando aos níveis pré-pandemia, existe ainda um elevado grau de incerteza devido ao actual contexto socioeconómico.

Globalmente, cerca de uma em cada cinco seguradoras fizeram alterações aos requisitos de subscrição como resultado da COVID-19. A nível mundial, um quinto das seguradoras estão agora a tratar a chamada “Long Covid” como uma condição pré-existente, excluindo potencialmente a cobertura dos pedidos de indemnização dos indivíduos por essa condição. Isto é mais evidente na América Latina, onde 25% a excluem agora.

Estas alterações à cobertura e exclusões necessitam de uma atenção especial por parte dos empregadores e apontam para a importância de revisões regulares da concepção dos planos. Contudo, o estudo revela que 50% das seguradoras não pensam em adaptar os seus planos em função da inflação.

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