Comendador Rui Nabeiro: um legado que perdurará na História. E foram muitos que fizeram questão de o assinalar

O Dia do Pai, assinalado ontem, ficou marcado pelo desaparecimento de Manuel Rui Azinhais Nabeiro, comendador, presidente e fundador do Grupo Nabeiro.

 

O empresário, de 91 anos, encontrava-se hospitalizado no Hospital da Luz, devido a problemas respiratórios, informou um comunicado do Grupo Delta.  «Estamos todos empenhados em continuar o seu legado e honrar a sua visão, continuando a produzir o melhor café do mundo, apoiando as comunidades locais e promovendo a sustentabilidade.»

As cerimónias fúnebres decorrem na Igreja Matriz de Campo Maior (Portalegre), a partir das 12h00 de hoje, segunda-feira, divulgou a família, em comunicado, indicando que a missa de corpo presente será realizada amanhã, terça-feira, pelas 12h00, na Igreja Matriz de Campo Maior, seguindo-se o cortejo fúnebre em direcção ao Cemitério Municipal de Campo Maior.

Foram inúmeras as mensagens e homenagens de condolências de personalidades do espectro político e empresarial. Para Marcelo Rebelo de Sousa, «Rui Nabeiro foi um precursor, construiu uma marca global, como há poucas no nosso país, mantendo sempre a sede e o coração da sua actividade em Campo Maior, terra onde nasceu e onde deixa um generoso legado.

«O Presidente da República lamenta a morte do empresário Rui Nabeiro e apresenta à família as mais sentidas condolências. Ainda ontem [sábado], ao fim da tarde, o Presidente da República teve a oportunidade de o visitar no hospital», refere uma nota no sítio oficial da Presidência da República.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, «num tempo económica e socialmente desafiante, o exemplo de Rui Nabeiro, na sua preocupação social e participação cívica, com a comunidade e com o país, devem ser um exemplo e uma inspiração para todos quantos podem devolver à sociedade um pouco daquilo que esta lhes deu».

Já para António Costa, «O legado do Comendador Rui Nabeiro ultrapassa largamente o papel de empresário exemplar, dentro e fora do país. O seu percurso foi inspirador, pela força, energia e sempre o sonho de fazer acontecer», escreveu, na rede social Twitter.

O primeiro-ministro destacou o «exemplo de cidadania e humildade», mas também de «responsabilidade social e de paixão pela sua terra», considerando que o empresário teve «uma vida em prol da comunidade». «Os meus sentimentos à família, amigos e a todos os campomaiorenses», afirmou.

«Rui Nabeiro distinguiu-se pelo amor a Portugal e à sua terra de sempre, Campo Maior, que serviu como autarca e cidadão», referiu Santos Silva no Twitter. Para o presidente da Assembleia da República, o fundador do Grupo Nabeiro – Delta Cafés «foi um dos maiores e melhores empresários portugueses, muito atento aos direitos dos seus trabalhadores». «Permanecerá na memória de todos», enfatizou.

O ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, revelou à Lusa que «Hoje [ontem] é um dia muito triste para Portugal. O desaparecimento de Rui Nabeiro marca uma perda enorme para o país. É um exemplo de um empresário que desenvolveu uma visão estratégica, que foi capaz de criar riqueza, de disseminar a sua empresa pelos quatro cantos do mundo». O governante destacou ainda que Rui Nabeiro «teve a assunção da responsabilidade social», muito antes de esta se tornar um «mantra dos debates actuais», com a ligação «profunda não só aos colaboradores, mas também a toda a comunidade envolvente». Classificando a trajetória do empresário de «extraordinária», Costa Silva afirmou que se o país tivesse mais homens como Rui Nabeiro, «talvez a economia portuguesa hoje fosse diferente e mais avançada».

Também a CEO da Sonae, Cláudia Azevedo salientou que «O seu nome estará para sempre ligado a um dos grandes empresários nacionais e a uma grande preocupação na criação de valor social», acreditando que o seu legado irá perdurar durante várias gerações e o seu nome estará sempre ligado à preocupação na criação de valor social.

Numa declaração enviada à agência Lusa, Cláudia Azevedo manifestou, em nome pessoal e da Sonae, às condolências à família do empresário de Rio Maior, recordando que, «durante muitos anos», o grupo contou com a presença de Rui Nabeiro na abertura de centenas das suas lojas, «comprovando a generosidade que sempre teve para com a Sonae».

As câmaras de Campo Maior e de Elvas decretaram luto municipal (cinco e três dias respectivamente) pela morte do “pai” de Campo Maior.

«Rui Nabeiro é a figura de destaque, é a figura que se pode considerar o pai destas gerações recentes do povo de Campo Maior, é uma referência, uma figura incontornável, é um humanista», disse o presidente do município, Luís Rosinha, à agência Lusa.

«É um homem que, muito para além daquilo que era a sua figura de empresário, tinha uma responsabilidade social fortíssima e que nunca se deixou condicionar por ter nascido, ter vivido e fazer a sua vida numa terra do interior do país», acrescentou.

 

O homem que liderou com o coração

O mais notável Campomaiorense criou a Delta Cafés em 1961 e foi um «empreendedor nato, reconhecido como um exemplo ético e de uma liderança centrada em valores humanistas que se reflectem no compromisso a longo prazo perante a comunidade, trabalhadores e parceiros», avança uma nota biográfica do Grupo Delta.

Em 1988, o Grupo Nabeiro – Delta Cafés nascia, dando origem à criação de mais de duas dezenas de empresas, com intervenção em áreas tão diversas como a agricultura e vitivinicultura, distribuição alimentar e de bebidas, retalho automóvel, comércio imobiliário e hotelaria.

Casado com Alice Nabeiro, teve dois filhos, Helena Nabeiro Tenório e João Manuel Nabeiro que integram o conselho de administração do Grupo Nabeiro – Delta Cafés, e quatro netos: Rui Miguel Nabeiro, actual CEO do grupo, Rita Nabeiro e Ivan Nabeiro, que integram o órgão executivo, e Marcos Tenório Bastinhas.

Além do inconfundível “rosto” da Delta, foi presidente da Câmara de Campo Maior (em 1972 e entre 1977 e 1986), e presidente do Sporting Clube Campomaiorense, tendo sido responsável pelas infraestruturas que levaram o clube das regionais à I Liga de futebol profissional.

Em 1995, Mário Soares atribuiu-lhe o grau de Comendador da Ordem Civil do Mérito Agrícola, Industrial e Comercial — Classe Industrial, pelo reconhecimento de mérito empresarial e contributo ao desenvolvimento da terra e da região. Em 2006 foi novamente distinguido como Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

Em 2007, inaugurou o Centro Educativo Alice Nabeiro, para dar resposta às necessidades extraescolares das crianças de Campo Maior. Com o patrocínio da Delta, a Universidade de Évora criou, em 2009, a Cátedra Rui Nabeiro, destinada à promoção da investigação, do ensino e da divulgação científica na área da biodiversidade. Nesse mesmo ano, por indicação do Rei de Espanha, foi honrado com a notável insígnia – A Comenda da Ordem de Isabel a Católica e no ano seguinte era nomeado Cônsul Honorário de Espanha, com jurisdição nos distritos de Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja.

Em 2012 recebeu o doutoramento “Honoris causa” em Ciência Política, atribuído pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Em 2021 foi homenageado pela Câmara Municipal de Coimbra com a Medalha da Cidade de Coimbra e, no mesmo ano, foi agraciado pela Câmara Municipal de Lisboa, com a Medalha de Honra da Cidade de Lisboa, e recebeu a Chave de Vila Nova de Gaia, a mais alta distinção honorífica desse município.

No ano passado, em Junho, a Universidade de Coimbra atribuiu-lhe o Doutoramento Honoris Causa, pelo seu «indiscutível mérito profissional e qualidades humanas que constituem uma referência inspiradora para toda a sociedade».

Ainda em 2022, foi considerado o líder mais relevante e com melhor reputação de Portugal, segundo o estudo anual RepScore da Consultora OnStrategy, e condecorado pelo Exército com a Medalha de D. Afonso Henriques – Mérito do Exército, 1.ª classe e agraciado com o Globo de Ouro de Mérito e Excelência.

Também no ano passado foi distinguido pela Human Resources Portugal com o “Prémio Carreira”, atribuído na 11.ª edição dos Prémios Human Resources.

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